Seis anos após o filme de origem, ‘Alice Através do Espelho’ adquire contornos de sobriedade

Foram seis anos entre o ruidoso lançamento de “Alice No País das Maravilhas”, em 2010, e a apática estreia de “Alice Através do Espelho”, na última quinta-feira (26).

Manteve-se o elenco. Já o aclamado Tim Burton assina somente a produção do longa, que foi dirigido por James Bobin (Os Muppets e Muppets 2 – Procurados e Amados).

Apesar da quase unânime má recepção da crítica especializada, é possível observar o quanto o tempo foi generoso com a produção. “Alice Através do Espelho” está mais sóbrio e propositivo do que o tão somente esteticamente belo “Alice No País das Maravilhas”, — filme de origem, dirigido por Tim Burton.

O tempo fez bem não só para produção, mas também para o elenco. A começar pela atriz “sem sal” Mia Wasikowska. No filme de origem, ela criou uma Alice um tanto apagada. Aqui, a personagem é vívida e complexa; contestadora no mundo real e protagonista de seus sonhos.

“No primeiro filme, eu era um tanto nova na indústria cinematográfica americana. Desta vez, eu já sabia o que esperar”, disse a Mia Wasikowska, em entrevista coletiva, em Hollywood.

Enquanto Alice reivindica os comandos do navio Wonder — herdado de seu pai, no final da trama do filme anterior —, do outro lado do espelho, a loira, levemente inspirada na personagem de Lewis Carroll, imerge numa viagem fantástica através do tempo. Em sintonia com a proposta de valorizar a figura feminina dos últimos filmes da Disney, “Alice Através Do Espelho” cria uma protagonista obstinada e audaciosa.

Do outro lado do espelho, Alice tem a missão de salvar a família do Chapeleiro Maluco (Johnny Depp). Neste filme, o chapeleiro é menos maluco e mais humano. O drama vivido pelo personagem de Johnny Depp, que espera reencontrar com a família, exige composição mais intensa do ator.

Sim, o tempo foi generoso também com o personagem de Depp, que ressurge neste longa com personalidade dramática e complexa.

Para ajudar o amigo, Alice deve voltar no tempo. Eis que surge o interessantíssimo personagem Tempo (Sacha Baron Cohen) — talvez o grande trunfo do longa. Ele está menos para vilão e mais para um personagem caricato. Dono da verdade, senhor do tempo, mas que não é levado a sério por ninguém.

De posse da chave do tempo, a cromosfera, Alice mergulha no tempo para mudar o passado. Assim, poderá modificar o destino da família do Chapeleiro.

Na aventura dos sonhos, Alice reencontra a sensacional Dama de Copas, interpretada pela Helena Bonham Carter. (Impossível não compará-la com a figura da “gerentona”; a personagem tem uma grande cabeça e vive a esbravejar).

Da mesma forma, a veterana Anne Hathaway brilha no papel da Princesa Branca.

Sem Burton, “Alice Através do Espelho” perde cor e ganha sobriedade. É menos lisérgico e mais sério. Na trama, Alice percebe que, se não é possível modificar o passado, seria sábio aprender com o tempo. A máxima serviu também para a produção: a Disney corrige a infantilidade de “Alice No País das Maravilhas” e concebe um “Alice Através do Espelho” mais maduro.

Rebatendo às más críticas, este é sim um bom filme. Vale a pena conferir.

Em cartaz, em todos os cinemas de Belo Horizonte.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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