Refém do bolsonarismo, Zema rejeita ir para partido da fusão DEM e PSL

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Zema exibe gravata laranja, a cor do Novo, no dia 5 de outubro (Cristiano Machado/Imprensa MG)
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As especulações, comuns nesse período pré-eleitoral, ganham terreno antes do prazo fatal para filiações ou mudanças de partidos. Assediado por pelo menos dois partidos, o PP e o novo partido da fusão do DEM e do PSL (União Brasileira), Zema não deverá mais deixar o partido Novo. Primeiro, que o União Brasileira não será aliado a Bolsonaro, apostando na terceira via presidencial, quem sabe, no ex-ministro bolsonarista e ex-juiz Sérgio Moro. Segundo, teria contornado as dificuldades dentro de seu próprio partido, Novo.

Seja onde estiver, Zema vai carregar consigo o bolsonarismo do qual é integrante. Mais do que isso, ele já está refém dessa aliança. Por quê? Fazendo uma conta rápida, o governador mineiro teria, hoje, 40% das intenções de voto para sua reeleição, conforme revelam as pesquisas. Se ele rompe ou não apoia Bolsonaro, perderia os votos bolsonaristas, que, hoje, somam 15%. Assim, Zema cairia para 25% a 30%. Percentual de risco, porque seu principal adversário, Alexandre Kalil (PSD), tem, segundo as mesmas pesquisas, 22%. E o prefeito de BH ainda não viajou pelo interior na mesma intensidade que Zema o faz, amparado na condição de governador.

Quebra de princípios do Novo

Dois sinais sobre seu futuro partidário foram dados nas últimas duas semanas. O que aconteceu? No dia 28 passado, o governador mineiro ajudou a derrotar o retorno do empresário João Amoedo, ex-presidente e fundador do partido Novo e primeiro candidato presidencial. Amoêdo tentava reassumir o comando do partido, determinado a frear a onda bolsonarista que toma conta do Novo. E mais, queria resgatar os princípios da chamada renovação partidária que o Novo pretendia encarnar. Sem isso, será mais um partido igual aos outros.

Com a derrota de Amoêdo, mais a possibilidade de sair, Zema pressionou seu partido a quebrar ainda dois princípios do estatuto do Novo. São eles, os vetos às coligações partidárias e o uso do fundo eleitoral. O Novo não aceitava se misturar com os políticos, como se eles também já não fossem. O governador mineiro quer usar o fundo público bilionário, como qualquer outro partido, para financiar sua campanha. Com essas mudanças, Zema aceitou ficar, pois está convencido de que não pode se reeleger apenas pelas redes sociais.

O segundo sinal foi durante cerimônia do leilão do Aeroporto da Pampulha (BH), quando ele apareceu de gravata laranja, no dia 5 de outubro. Alguns dias antes, usou uma de cor azul, a mesma que Bolsonaro exibiu no encontro que tiveram, em Belo Horizonte, em outro sinal que reafirma a aliança entre eles.

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Aliados do presidente Bolsonaro e do governador Romeu Zema querem os dois no mesmo partido (Cristiano Machado/Imprensa MG)

Indicativos do fico

Tudo somado, Zema pode até deixar o Novo para entrar em outro partido, como o PP, que deverá receber a filiação de Bolsonaro. Mas aí já seria bolsonarismo demais. Os indicativos são de que ele continuará no Novo, para manter coerência aparente, mas aliando-se a outros partidos, como o PP e o PSDB. Por meio da coligação, poderá usar também o fundo eleitoral deles.

Moro quer segurança do Senado

Da mesma forma, e em sentido contrário, Sérgio Moro deve trocar a disputa presidencial pela do Senado. Embora tenha tido um dos melhores desempenhos da chamada terceira via nas pesquisas, Moro está reavaliando seu futuro político em função de seu momento pessoal. Agora, está buscando mais proteção do que riscos. Por isso, quer mesmo disputar o Senado, onde teria eleição mais fácil e teria oito anos de estabilidade.

Nos próximos dias, deverá lançar seu livro sobre a Lava Jato e sua visão do governo Bolsonaro, admitindo a candidatura presidencial. Depois dessa mídia espontânea, deverá negociar com algum partido a filiação para disputar vaga de senador, provavelmente, pelo Paraná, seu estado.

Por que mudar? Moro teria um teto eleitoral na disputa presidencial. Caso seja bem-sucedido e passe para um eventual segundo turno, por exemplo, contra Lula, não teria para onde crescer. Por quê? Porque o eleitorado bolsonarista dificilmente votaria nele, muito menos em Lula. Ou seja, engrossaria os votos nulos. Essa também seria uma das razões para que o petista considere Moro o melhor adversário que poderia ter, caso vá para o segundo turno, como apontam as pesquisas.

Arrependimento

Ele tem confidenciado aos mais próximos certo arrependimento por ter deixado a magistratura, para se aventurar na política. Moro teme ser perseguido por Bolsonaro ao entrar na disputa presidencial. Além do que, o desempenho positivo de Lula nas pesquisas traz riscos de derrotas e de exposição e contraponto à sua atuação como juiz parcial. Sua parcialidade foi constatada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo no qual condenou Lula à prisão.

Moro foi apontado na pesquisa do instituto mineiro Quaest como novidade da 3ª via na disputa presidencial, contra a polarização de Lula e Bolsonaro. Contra Lula, chegaria a 26% em segundo turno. A pesquisa Quaest/Genial foi divulgada na terça (5) depois de ouvir 2.048 pessoas entre 30 de setembro e 3 de outubro. As intenções de voto em Lula variam entre 43% e 46% no 1º turno. O petista teria 45%, seguido por Jair Bolsonaro, com 26%. Ciro Gomes marca 11%.

No 2º turno, Lula venceria Bolsonaro (53% a 29%), Ciro (49% a 26%), Sergio Moro (52% a 26%), Luiza Trajano (54% a 17%), João Doria (54% a 16%), Eduardo Leite (55% a 15%) e Rodrigo Pacheco (56% a 14%). A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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