Já contamos aqui do P51 Mustang e do F4U Corsair, atrações do EAA Air Venture 2022 em Oshkosh (EUA). Ainda em Fightertown falaremos um pouco de dois veteranos Warbirds, não tão amados quanto os dois primeiros, mas não deixam de ter igual importância e seus lugares na história. São eles o Curtiss P40 e o Grumman F4F Wildcat.
O Curtiss P-40 Warhawk foi uma evolução do Curtiss P-36 Hawk 75 que era equipado com um motor radial Pratt & Whitney R-1830-17 Twin Wasp de 1.050 hp, que voou pela primeira vez em abril de 1935 e em 1937 passou ser operado pela USAAF. No entanto, suas deficiências frente aos paradigmas da época – o Supermarine Spitfire e o Messerschmitt Bf 109 – ficaram muito evidentes e logo se optou por um desenvolvimento radical.
Então, em 1938, de uma fuselagem modificada do P-36 para receber o motor Allison V-1710-19 com 1.050 hp nasceu o XP-40, bem blindado, armado com duas metralhadoras de calibre .50 na carenagem do motor; Tinha capacidade de disparara no intervalo da hélice e duas metralhadoras de calibre .30 em cada asa, que ao entrar em serviço foi denominado P-40 Warhawk.
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Com a finalidade de atender às necessidades da guerra, o modelo sofreu inúmeras modificações que resultaram em melhoria de desempenho e poder de fogo. Passou pelas variantes B e C Tomahawk e as variantes de D a N denominadas Kittyhawk, e chegou na variante N (adotada pela FAB) com uma motorização Allison V-1710-81 de 1.360 hp e seis metralhadoras Browning NA/M3 cal.50 nas asas, sendo que esta configuração de metralhadoras nas asas foi utilizada a partir das versões B e C Tomahawk.
O P-40C Tomahawk tornou-se lendário como o avião dos Tigres Voadores, nome popular do American Volunteer Group (AVG), grupo de aviadores mercenários que combateram os japoneses na China. O seu caça não era páreo para o Mitsubishi A6M Zero, seu principal rival nos céus da China, superior em manobrabilidade, alcance e razão de subida e alcance, além de possuir no seu armamento um canhão de 20mm.
Contudo, o P-40 em mãos experientes, que soubessem explorar os seus pontos fortes, como velocidade de mergulho, capacidade de rolamento em mergulho, resistência em decorrência da blindagem, além de ser boa plataforma de tiro, era uma arma mortal.
Assim, os pilotos do AVG, sabedores de que nunca poderiam se envolver em um Dogfight com um Zero, adotavam a tática de entrar na zona de combate em altitude, mergulhar rápido, disparar e escapar. Eles aproveitavam a velocidade e inércia do mergulho para ganharem altitude e destruírem mais de 300 aeronaves japonesas contra a perda de 12 das suas.
Foram em dois P-40 Tomahawk, que os pilotos americanos George Welch e Kenneth Taylor decolaram durante o ataque japonês de 7 de dezembro de 1941 a Pearl Harbor, e conseguiram abater sete aviões inimigos, mais ou menos como aparece no filme “Pearl Harbor”, de 2001, protagonizado por Ben Affleck.
Durante a II Guerra Mundial o Grumman F4F Wildcat, um caça norte-americano baseado em porta aviões destinado à missões de ataque, escolta e proteção à frota, foi nos primeiros anos do conflito no Pacífico, a principal arma aérea da US Navy (Marinha Americana). Equipado com um motor radial Pratt & Whitney R-1830 Twin Wasp de 14 cilindros e 1.200 hp na decolagem, armado com quatro metralhadoras Browning NA/M3 cal.50 nas asas, era fortemente blindado e com tanques auto-vedadores.
Esta heroica e pouco valorizada aeronave, que teve sua atuação contra os japoneses eclipsadas pelo excepcional desempenho dos F6H Hellcat e FU4 Corsair, foi quem inicialmente aguentou o tranco nas operações aeronavais. Mesmo sendo superado pelo Mitsubishi A6M Zero em razão de subida, velocidade, capacidade de manobra e alcance que dava aos japoneses a opção de escolher o melhor momento de entrar em combate.
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Assim, os pilotos dos Wildcat’s, cientes de que com estas desvantagens não poderiam entrar em um combate encarniçado com um Zero, tiveram que buscar formas de explorar ao máximo as principais potencialidades de seu avião. Entre elas estava a capacidade de resistir ao fogo inimigo, devido a sua blindagem, maior velocidade de mergulho e melhor capacidade de rolamento em mergulho. O Zero, nessa condição, em razão dos seus sistemas de comando de superfícies móveis, endurecia os controles.
Desta forma, além das tradicionais manobras como as de sempre que possíveis, os pilotos procuravam entrar em combate mergulhando acima do inimigo com o sol pelas costas. Eles ainda disparavam próximo do alvo e utilizavam a velocidade do mergulho para escapar, distanciando e utilizando a inércia do mergulho, a fim de ganhar altitude.
Também recorriam a tática Thach Weave, desenvolvida pelo aviador naval John S. Thach. Ela consistia em atacar em formação de dois ou mais aviões cruzando em trajetórias de voo regulares entre si para forçar o inimigo a se concentrar em um dos aviões, enquanto o ala do piloto alvo entra em posição de tiro para atacar o perseguidor. A adoção deste comportamento de combate garantiu a sobrevivência de muitos aviadores e aumentou o score do Wildcat frente ao inimigo, que naquele momento gozava de vantagem numérica e técnica.
Apesar dos seus bons serviços prestados e mesmo sendo submetido a algumas atualizações o Wildcat mostrou ser uma aeronave limitada e foi substituída nas operações embarcadas pelo seu irmão mais novo. Era mais adequado ao teatro de operações do Pacífico, o poderoso Grumman F6F Hellcat.
Mas isso é um dos temas que vamos tratar na nossa próxima matéria – não deixem de acompanhar.
Texto: Rodolfo Hauck, enviado especial a Oshkosh.
(*) Rodolfo Luiz Aquino Hauck tem 40 anos de experiência na indústria automobilística e sempre esteve envolvido com competições automobilísticas desde 1976, quando iniciou no Kart, fazendo provas de Turismo e rally. Por seis anos, foi responsável pelo desenvolvimento e preparação de carros de endurance e rally de uma montadora. Trabalha atualmente também com fotografia.
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