Por Rodolpho Barreto Sampaio Júnior*
A conversa em que o haitiano dizia que Bolsonaro não era mais o presidente, viralizou. E, por mais surreal que tenha parecido aquele diálogo, ele foi profético. A incapacidade do governo lidar com a rápida disseminação do coronavirus ficou patente. Na verdade, a opinião pública sequer acredita que, muito embora 22 membros da comitiva presidencial que visitou os EUA tenham sido infectados pelo corona, ele próprio tenha ficado imune.
A semana presidencial não começou bem. A manifestação de domingo foi um retumbante fracasso, reunindo apenas os apoiadores mais radicais do atual governo. Aparentemente, o pouco caso do presidente com o avanço do coronavirus provocou uma inédita rejeição por parte de seu eleitorado. E, para piorar, o panelaço convocado para apoiá-lo foi infinitamente inferior ao barulho feito pelas panelas que, contra ele, agitaram as noites de várias cidades no Brasil por dois dias sucessivos.
Até mesmo o Ministro da Saúde voltou as costas para o inerte presidente. Reuniu-se com os presidentes do Supremo Tribunal Federal, da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, despertando ciúmes em Bolsonaro, que mandou convocá-lo durante aquela reunião. Foi ignorado… Como não podia deixar de ser, a matilha virtual até ensaiou atacá-lo pelas redes sociais, mas sem muito sucesso: diferentemente de Bolsonaro, que insiste em comemorar seu aniversário durante a pandemia, a população preferiu apoiar Mandetta e suas medidas de contenção da crise.
A mudança na sorte do presidente foi irônica. Começou a semana testando o apoio popular que lhe permitiria calar o Parlamento e o Judiciário, mas a termina com a popularidade em baixa, sendo rejeitado por 51% da população. Tal como o Presidente Rodrigues Alves, vitimado pela Gripe Espanhola em 1919, podemos dizer que o Bolsonaro também tombou, atingido pelo coronavirus. Há quem aposte que não vai conseguir se recuperar…
* Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito e professor universitário. Foi o primeiro presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG e é membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais.