Troca de ministro e de bordão: sai o “cadê o Queiroz?” e entra o “fala, Queiroz!”

Ex-ministro Abraham Weintraub, foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil

A quinta (18) foi uma sucessão de ações e decisões que assustaram aqueles que tratam o poder como algo sem limites e freios constitucionais. Em um dia só, a casa caiu para o famoso e sumido Fabrício Queiroz, braço direito da família Bolsonaro para ‘pegar no pesado’. E o ministro da Educação, Abraham Weintraub, também caiu. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve, por 10 a 1, o inquérito contra a rede de fake News que alimenta o gabinete do ódio, operação de ataques às instituições.

Apesar do susto bolsonarista, os aliados deveriam pelo menos respirar, aliviados, porque, se uma casa caiu, o conjunto dos fatos tem potencial para derrubar outras casas, até mesmo um palácio. O nível de abusos, trapalhadas, roubalheiras e agressões “nunca antes visto” no país, configuram escândalo com letras tão garrafais.

Aquela pergunta que se fazia antes por aí a aliados de Bolsonaro teve finalmente uma resposta da qual eles já sabiam, até porque ele estava escondido em casa de advogado da família Bolsonaro. O advogado Frederick Wassef é uma espécie de faz tudo do presidente e da família. A pergunta sobre o ‘Cadê o Queiroz’ deve ganhar então outro bordão para o ‘fale, Queiroz’.

Pai “burro demais”

A não ser, é claro, que ele siga o conselho da própria filha, Natália, que chegou a dizer que o pai era ‘burro por falar demais”. Ficará na prisão por tempo indeterminado já que, fora dela, estava obstruindo as investigações, um dos motivos de sua detenção. E não só por isso, mas porque negava-se a prestar esclarecimentos e depoimentos dos inúmeros malfeitos e operações nebulosas financeiras. Ele ainda é suspeito de envolvimento criminal, já que tinha ligações diretas com a organização criminosa de milicianos.

Ministro caiu por falta de educação

Já o ministro da Educação caiu por uma lista de abusos, de incompetência, de agressões de todas as ordens, institucionais e profissionais. A causa principal de sua demissão é pelo fato de, há quase dois meses, pedir a prisão de ministros do STF e de chamá-los de “vagabundos”. Pelos maus serviços prestados, vai ganhar uma sinecura com supersalário, se não for reprovado, no Banco Mundial. Também deverá ser lembrado como o ministro da Educação que conseguiu ser pior do que o antecessor. Seu salário será de R$ 115 mil. Se tivesse solto, Queiroz até esfregaria as mãos com a possível rachadinha, esquema comandou, como assessor de Flávio Bolsonaro, no tempo que este era deputado estadual. A rachadinha era uma espécie de pedágio que os servidores pagavam, como denunciado, ao deputado contratante.

STF dá lição contra autoritarismo

Por último, o STF reafirmou sua posição institucional e constitucional ao manter a investigação contra as fakes News. E deixou uma conhecida advertência aos poderosos de plantão: que ainda há juiz e juíza em Brasília e no Brasil. Vale citar aqui parte do voto do presidente da corte, ministro Dias Toffoli. “Quiseram banalizar as nossas instituições como desnecessárias, como inúteis, quiseram banalizar a política, banalizar a democracia, banalizar a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão, quiseram banalizar o mal. Plantam o medo para colher o ódio. Plantam o ódio para colher o medo”, pontuou Toffoli em um de seus momentos mais lúcidos de sua participação no Supremo e de reafirmação do Judiciário.

Tudo somado, o governo federal mostrou-se acuado, sem aqueles rompantes do presidente. O curioso e estranho é que Bolsonaro, depois de dizer que não tinha nada com o Queiroz, seu amigo há 30 anos, e seus malfeitos, fez um vídeo para defendê-lo. O filho de Bolsonaro, Flávio, avaliou a prisão do ex-assessor como mais um ataque (?) ao presidente. Mais um indício? Não se pode garantir, mas reforça as ligações entre eles e que Queiroz tem muitos advogados e gente disposta a ajudá-lo a ficar calado ou a sumir novamente.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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