Circula nas redes sociais um vídeo que mostra Alexandre Kalil (PSD), candidato ao Governo de Minas, irritado com uma propaganda eleitoral que mostra um candidato a deputado federal do PSD, partido do ex-prefeito de BH, ao lado do atual governador Romeu Zema (Novo), adversário dele nestas eleições. A cena foi gravada durante um evento em Poços de Caldas, no Sul do estado.
Também aparece no anúncio o candidato ao Senado Alexandre Silveira (PSD), que integra a aliança com Kalil e o ex-presidente Lula (PT) em Minas. Depois de ver a propaganda em um jornal impresso, Kalil diz: “por isso que ele não vem aqui”.
Em seguida, o candidato entrega o papel para uma integrante de sua equipe. “Leva lá, mostrar para o Lula”, dispara ao sair do local.
Kalil se irrita ao ver propaganda de candidato do PSD e Alexandre Silveira ao lado de Zema pic.twitter.com/c9uoM0FkRD
— BHAZ (@portal_bhaz) September 13, 2022
A propaganda eleitoral é de Celso Donato, candidato poços-caldense a deputado federal. Mesmo sendo do partido de Alexandre Kalil, ele aparece associado ao principal rival do ex-prefeito de BH na disputa ao Executivo estadual, o candidato à reeleição Romeu Zema.
O senador Alexandre Silveira, que também aparece na peça, não participou da visita a Poços de Caldas hoje. O candidato ao Governo de Minas cumpriu a agenda com o vice de Lula na chapa para as eleições presidenciais, Geraldo Alckmin (PSB).
Justificativa
Ao BHAZ, Celso Donato se disse assustado com o nervosismo de Kalil e afirmou que sempre deixou o posicionamento de alinhamento com Zema muito claro. O candidato ainda esclareceu que Alexandre Silveira não teve envolvimento na produção da peça de campanha.
“O presidente do PSD em Minas [Alexandre Silveira] deu uma atenção a Poços de Caldas, nos últimos anos, que nenhum político deu, trazendo R$ 15 milhões para a construção do hospital de câncer da cidade. Assumi um compromisso de gratidão com ele”, explicou o candidato.
Donato, que acumula 19 anos de trajetória na política e já foi presidente do PSDB em Poços de Caldas, foi para o PSD para que a candidatura à Câmara fosse viável. Segundo ele, o convite para o partido veio do próprio Silveira, além de Antonio Anastasia e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado.
“Na época, perguntei se o Kalil seria candidato ao Governo de Minas, e disseram que não sabiam ainda, mas que provavelmente sim. Deixei claro que não teria como não apoiar o Zema, que honrou os compromissos de pagar os municípios. Seria traição da nossa parte a alguém que foi parceiro da cidade”, completou.
O candidato ainda afirma que Kalil nunca o procurou e que se sentiu livre para apoiar Zema à reeleição. Outro aspecto que o afastou do ex-prefeito de BH foi a aliança com Lula, já que Celso Donato se identifica com a ala antipetista do PSD. Por outro lado, ele mantém o apoio a Silveira, que também é aliado de Lula, por questão de “lealdade por alguém que fez muito por Poços de Caldas”.
Falta de apoio no PSD
Os candidatos à reeleição pelo PSD em Minas não têm demonstrado, em suas redes sociais, apoio a Alexandre Kalil. Alguns aparecem em postagens ao lado do candidato ao senado Alexandre Silveira, mas o candidato ao governo do estado pelo partido tem sido evitado.
Diversos questionamentos sobre a ausência de nomes como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco e mesmo do atual prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, ambos do PSD, nas agendas de Kalil têm surgido em entrevistas feitas com o candidato ao Governo de Minas.
Ao mesmo tempo, políticos importantes do partido, como o deputado federal Diego Andrade e o prefeito de Pará de Minas, Elias Diniz, declararam apoio formal a Romeu Zema.
O abandono do PSD ao candidato do próprio partido remete a um conceito da política brasileira surgido em Minas Gerais na década de 1950, a cristianização. Dá-se o nome de cristianização à situação em que um candidato em uma eleição perde o apoio do seu próprio partido político, que passa a apoiar outra candidatura.
A palavra é derivada de Cristiano Machado, que se candidatou a presidente em 1950 pelo Partido Social Democrático (PSD), que curiosamente é homônimo da sigla que abriga Alexandre Kalil.
Ao longo da campanha eleitoral, embora formalmente apoiado pelo PSD, Cristiano viu-se abandonado pelos principais líderes, que passaram a defender a candidatura de Getúlio Vargas, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que acabou vencendo a eleição.
Poços de Caldas
Enquanto quem participou da agenda de Alexandre Kalil em Poços de Caldas foi Alckmin, em Montes Claros, no Norte de Minas, o representante da campanha à presidência será o próprio Lula. Os candidatos participarão de um ato na cidade na quinta-feira (15).
Poços de Caldas elegeu com grande força políticos de direita nas últimas eleições: em 2018, no primeiro turno, o então candidato Jair Bolsonaro (PL) teve 55,21% dos votos válidos contra 14,33% de Fernando Haddad (PT). No segundo turno, Bolsonaro venceu com 69,49% dos votos.
Para governador, no primeiro turno, Romeu Zema saiu na frente com 50,35% dos votos válidos. Antonio Anastasia teve 30,74% dos votos, e Fernando Pimentel (PT), 13,49%. No segundo turno, Zema contou com 79,63% dos votos.