Primeira disputa das mulheres será para garantir os recursos da campanha

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Lara Alves

A eleição de 2018 será a primeira em que os partidos terão que repassar 30% dos recursos dos fundos eleitoral e partidário para as candidaturas femininas. Mas, ao que tudo indica, a nova regra não surtirá tanto efeito neste pleito, pois só saberemos se foi, de fato, aplicada após outubro. Enquanto isso, as mulheres que querem ocupar vagas nos Poderes Legislativo e Executivo enfrentam o desafio de garantir as verbas para suas campanhas em curso.

Para muitas candidatas, receber recursos do partido é a principal forma de ter visibilidade perante os eleitores. Algumas legendas ainda não disponibilizaram informações sobre o repasse e as quantias a serem destinadas, o que aumenta a preocupação das postulantes. Várias precisarão recorrer a vaquinhas virtuais e a outras fontes para arrecadar dinheiro para suas atividades eleitorais, mas podem não ter tempo hábil, uma vez que já se passaram 15 dias do início da campanha.

Entre os dias 9 e 13 de setembro, os partidos e candidatos devem entregar ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) a primeira prestação de contas parcial. Só a partir da divulgação desses dados é que será possível ter uma ideia do financiamento das candidaturas femininas.

Por ora, estão sendo disponibilizadas informações sobre arrecadação de recursos, com a identificação da origem, na página de cada candidata no sistema de divulgação de candidaturas do TRE, o DivulgaCand. A legislação prevê que os candidatos e partidos têm 72 horas para comunicar o recebimento de um recurso e essas informações são, depois, inseridas no DivulgaCand.

As prestações de contas parciais serão feitas ao longo do processo eleitoral. No entanto, o presidente da comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Wederson Siqueira, explica que “o Ministério Público Eleitoral só poderá checar se os partidos cumpriram ou não com a cota de 30% depois da prestação de contas final e oficial de cada diretório nacional”.

À espera do repasse

Essa é a primeira vez que a belo-horizontina Tatiane Thaís Rocha, advogada, de 38 anos, concorre a um cargo público. “O que me motivou foi o atual cenário político e a possibilidade de participar de um movimento de renovação política”, afirma.

Tatiane quer ingressar na política como deputada estadual e, diariamente, se divide em jornada tripla – trabalha como advogada e como funcionária pública em um hospital, além de ser mãe. Tatiane diz que precisa de verba partidária para realizar sua campanha, que abrange propostas ligadas à saúde e à educação. “Eu não tenho condições de arcar, vou tentar fazer uma vaquinha virtual para usar junto com o fundo”, diz.

O partido – PMN – ainda não repassou nenhum dinheiro para ela. Mas a advogada é otimista e acredita que a nova regra dos 30% possibilitará que mais mulheres sejam eleitas e que o cenário político se transforme. “Com esses valores, vamos poder mostrar mais as nossas propostas e angariar mais votos. As coisas vão mudar se tivermos uma representação justa e próxima da realidade do país”, afirma.

Partidos se esquivam de responsabilidade

Campanha Libertas entrou em contato com todos os 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, por meio dos endereços eletrônicos fornecidos ao TRE-MG, para saber sobre o andamento da distribuição dos fundos. Apenas o Partido Novo e o PMB responderam o e-mail da reportagem.

Estreante na disputa eleitoral, o Novo não respondeu objetivamente as perguntas da reportagem sobre o repasse dos 30% às candidaturas femininas que dizem respeito aos fundos eleitoral e partidário – compostos de recursos públicos e privados.

A sigla informou apenas que é contra o uso de recursos públicos em campanhas eleitorais, mas que foi obrigado pela legislação a distribuir a verba aos postulantes. “O Diretório Nacional decidiu delegar às suas candidatas a vice-governadoras por São Paulo, Andrea Menezes e, pelo Rio de Janeiro, Carmen Migueles, a decisão sobre a utilização do recurso, o que corresponde a aproximadamente R$ 180 mil”, disse o Novo em nota.

O Partido da Mulher Brasileira (PMB) afirmou que decidiu em resolução interna destinar 70% do fundo eleitoral às candidaturas femininas. Importante lembrar que a legenda defendia o aumento da representação feminina na política, mas tinha apenas duas mulheres entre seus 20 deputados federais em 2015.

O PMN, partido da candidata Tatiane Rocha, ainda não comunicou como será feito o repasse e promoveu no último sábado (1) uma reunião com os candidatos a todos os cargos para discutir a divisão de recursos do fundo.

O PSOL e o PSB afirmaram que responderiam à solicitação, mas até o fechamento desta matéria os partidos ainda não haviam informado quando o repasse seria feito e quais valores seriam encaminhados às candidatas.

A Campanha Libertas já havia questionado, na semana passada, o Ministério Público Eleitoral (MPE) sobre como seria feita a fiscalização durante o período eleitoral em Minas Gerais. O órgão informou nesta terça-feira (4) que a Procuradoria Regional Eleitoral não tem como realizar esse controle. Segundo o MPE, o fundo eleitoral é distribuído aos diretórios nacionais dos partidos e são esses órgãos que dividem os recursos entre as diversas campanhas de todo o país. Por isso, os órgãos locais, como os Tribunais Regionais Eleitorais, não conseguem avaliar o cumprimento ou não da determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a cota de 30%.

De acordo com o MPE, somente o TSE e a Procuradoria Geral Eleitoral têm condições de compilar os dados das campanhas de todos os estados – proporcionais e majoritárias – e verificar a observância do percentual de financiamento. “Assim sendo, a Procuradoria Regional Eleitoral, por não ter atribuição para fiscalizar atos dos diretórios nacionais, e na ausência de regulamentação do TSE que diga que o percentual também deve ser observado dentro de cada estado, não tem como realizar esse controle”, explicou o MPE em nota. (atualização dia 04/09/2018)

Campanha Libertas[email protected]

Somos um coletivo de mulheres jornalistas de Minas que já trabalharam em redações de grandes jornais de BH e em assessorias de imprensa. A Campanha Libertas – Por mais mulheres na política surgiu para fazer uma cobertura jornalística independente sobre as eleições de 2018 com foco nas mulheres.

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