Globo endurece críticas após ataque de Bolsonaro a repórter de afiliada

William Bonner Jornal Nacional JN
Posicionamento repercutiu nas redes sociais (Reprodução/TV Globo)

Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) intimidar a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, nessa segunda-feira (21), a emissora carioca criticou, no Jornal Nacional, o ataque do presidente. Os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos leram uma nota da Globo, em que a empresa diz que o presidente estava “descontrolado” enquanto ofendia a jornalista e os veículos de imprensa durante um evento em Guaratinguetá (SP).

“O presidente destratou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo. Laurene perguntou por que ele tinha chegado na cidade sem máscara, mesmo tendo sido multado recentemente em São Paulo por não usar a proteção”, introduz Renata.

“Bolsonaro disse o seguinte: ‘Eu chego como eu quiser, onde eu quiser, eu cuido da minha vida’. Em seguida, ele tirou novamente a máscara, a repórter tentou explicar que o uso da máscara é exigência da lei, mas, descontrolado, o presidente mandou a repórter calar a boca e insultou a Globo com palavrões”, finalizou a âncora.

Em seguida, Bonner lê o posicionamento da emissora quanto ao ocorrido. “A Globo e a TV Vanguarda repudiam o tratamento dado pelo presidente à repórter Laurene Santos, que cumpria apenas o seu dever profissional. Não será com gritos nem intolerância que o presidente impedirá ou inibirá o trabalho da imprensa no Brasil. Esta, ao contrário dele, seguirá cumprindo o seu papel com serenidade. A Laurene Santos, a irrestrita solidariedade da Globo e da TV Vanguarda”, comunicou o jornalista.

Mais posicionamentos

O telejornal também lembrou de outras notas, divulgadas por organizações jornalísticas. “Em uma nota muito dura, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) afirmou (veja na íntegra abaixo) que ‘com seu destempero, Bolsonaro mostrou ter sentido profundamente o golpe representado pelas manifestações no último sábado'”, disse Renata.

“A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) emitiu nota (veja na íntegra abaixo) em que se solidariza com a equipe da TV Vanguarda, em especial com a repórter Laurene Santos e afirma que ‘Bolsonaro demonstrou mais uma vez seu desrespeito pela liberdade de imprensa, pela saúde pública, e pela democracia'”, complementou Bonner.

No comunicado, a Abraji ainda condena todos aqueles que participaram da entrevista com os jornalistas, como o prefeito de Guaratinguetá, Marcus Soliva (PSC), e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que também seguiram o exemplo do presidente e retiraram a máscara de proteção contra o novo coronavírus. A associação acredita que o comportamento de Bolsonaro é incompatível com o cargo máximo da República do Brasil.

500 mil mortos

Antes de atacar a repórter, na mesma entrevista, os demais jornalistas questionaram o presidente se ele gostaria de dizer alguma palavra sobre a marca alcançada pelo Brasil no último final de semana, de meio milhão de mortos pela Covid-19. Pela primeira vez, Bolsonaro se pronunciou sobre o assunto, mas se limitou a dizer que “lamenta todos os óbitos”. Em seguida, voltou a defender o uso de remédios sem comprovação científica para a doença.

Na parte da manhã, em Brasília (DF), durante conversa com apoiadores, o presidente não tocou no tema, mas mandou uma mensagem em tom irônico ao tratar sobre a doença, além de ter atacado outros jornalistas da Globo, inclusive William Bonner. “Quem tiver com Covid sabe quem procurar agora. É o doutor William Bonner, falou pessoal? E a doutora Mirian Leitão é muito boa também”. Os apoiadores, que estavam no cercadinho, deram risada (veja mais aqui).

Repórter reforça posicionamento

Na GloboNews, a jornalista Christiane Pelajo, apresentadora do Edição das 16h, também leu aos telespectadores o posicionamento da emissora. Em seu perfil no Instagram, Laurene compartilhou trecho do programa e destacou algumas falas da nota.

Repercussão

Nas redes sociais, internautas repercutiram o posicionamento da emissora. Veja parte da repercussão:

“Quando vi essa “entrevista” do ‘Jail’ Bolsonaro hoje, me recordei imediatamente desse vídeo dos idos da Ditadura….tal e qual. Na hora eu associei a esta outra entrevista. Quando o passado se repete em nova tragédia”, disse um internauta. “Que maduro o presidente da república… Falou tudo, William e Renata!”, escreveu outro.

Troca de farpas

Não é de agora que o presidente ataca a Globo, o Jornal Nacional e jornalistas, como William Bonner. Em maio, em sua tradicional live, o chefe do Executivo disse que o telejornal é um “lixo” e que prefere assistir o programa humorístico “Chaves”. No mesmo mês, Renata Vasconcellos chamou Bolsonaro de ex-presidente ao vivo no Jornal Nacional.

Em janeiro, Jair disse, em transmissão ao vivo, que William Bonner tem “cara de pastel” e é “o último a saber das coisas”. Semanas antes, o presidente já tinha chamado o âncora de “o maior canalha que existe”, depois que o jornalista respondeu Bolsonaro, no Jornal Nacional, no dia que o presidente afirmou que o país estava quebrado e que ele não poderia fazer nada, e culpou a situação do Brasil pelo vírus “potencializado pela mídia” (veja mais aqui).

No ano passado, após a divulgação do vídeo da reunião ministerial mencionada pelo ex-ministro Sérgio Moro, como prova de interferência política na Polícia Federal, Jair Bolsonaro atacou o noticiário da Rede Globo. O presidente ignorou a crise de saúde causada pela pandemia do coronavírus e limitou-se a atacar a emissora, classificando-a de “TV Funerária”.

O editor-chefe do Jornal Nacional não deixou os ataques em branco e desmentiu afirmações de Bolsonaro em diversas ocasiões. No começo do ano, Bonner levou aos telespectadores uma explicação a respeito de falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre ter sido impedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de atuar enquanto chefe do governo no combate à pandemia de Covid-19. “Não é verdade”, disse.

Na mesma época, o jornalista imitou o jeito de Bolsonaro falar e trecho do Jornal Nacional viralizou. Na semana seguinte, o apresentador fez um discurso impactante, durante o telejornal. Antes de chamar o repórter Alan Severiano para falar sobre os números da Covid-19 no Brasil, Bonner soltou o verbo a respeito de quem dissemina notícias falsas em meio à pandemia de Covid-19.

Nota da ABI na íntegra

“Renuncie, presidente!
Descontrolado, perturbado, louco, exaltado, irritadiço, irascível, amalucado, alucinado, desvairado, enlouquecido, tresloucado. Qualquer uma destas expressões poderia ser usada para classificar o comportamento do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, insultando jornalistas da TV Globo e da CNN.

Com seu destempero, Bolsonaro mostrou ter sentido profundamente o golpe representado pelas manifestações do último sábado. Elas desnudaram o crescente isolamento de seu governo.
Que o presidente nunca apreciou uma imprensa livre e crítica, é mais do que sabido. Mas, a cada dia, ele vai subindo o tom perigosamente. Pouco falta para que agrida fisicamente algum jornalista.

Seu comportamento chega a enfraquecer o movimento antimanicomial – movimento progressista e com conteúdo profundamente humanitário. Já há quem se pergunte como um cidadão com tamanho desequilíbrio pode andar por aí pelas ruas.
Mas a situação é ainda mais grave: esse cidadão é presidente de um país com a importância do Brasil.
Diante da rejeição crescente a seu governo, Bolsonaro prepara uma saída autoritária e, mesmo a um ano e meio da eleição, tenta desacreditar o sistema eleitoral. Seu objetivo é acumular forças para a não aceitação de um revés em outubro de 2022.

É preciso que os democratas estejam alertas e mobilizados.
Diante desse quadro, com a autoridade de seus 113 anos de luta pela democracia, a ABI reitera sua posição a favor do impeachment do presidente. E reafirma que, decididamente, ele não tem condições de governar o Brasil.
Outra solução – até melhor, porque mais rápida – seria que ele se retirasse voluntariamente.
Então, renuncie, presidente!
Paulo Jeronimo
Presidente da ABI

Nota da Abraji na íntegra

Abraji condena ataque de Bolsonaro à imprensa e à democracia

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar a imprensa nesta segunda-feira, 21.jun.2021. Dessa vez, além de disparar ofensas contra a Globo e seus profissionais, o presidente mandou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, calar a boca e, contrariando as normas sanitárias, tirou a própria máscara para agredi-la verbalmente com palavrões.

No início da tarde, após a cerimônia de formatura da Escola de Especialistas de Aeronáutica em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, repórteres se aproximaram de Bolsonaro. Desde o fim de semana, quando o Brasil chegou a meio milhão de mortes na pandemia, o presidente não havia se manifestado sobre o assunto. Um jornalista da CNN cobrou um posicionamento e recebeu como resposta uma reclamação sobre a cobertura dos protestos contra o governo pelo canal no último sábado (19.jun.2021).

Em seguida, Bolsonaro se exaltou ao ser questionado por Laurene Santos sobre ter sido multado pelo governo paulista pelo não uso da máscara durante uma manifestação, dez dias atrás. A equipe da TV Vanguarda mencionou o fato porque o presidente havia retirado a proteção facial ao chegar ao evento e, após a solenidade, ao cumprimentar formandos e posar para fotos. 

Nesse momento, Bolsonaro perdeu a compostura: “Olha, eu chego como quiser, onde eu quiser, eu cuido da minha vida”. Foi então que ele retirou repentinamente a própria máscara e declarou:

“Essa Globo é uma merda de imprensa! Vocês são uma porcaria de imprensa! Cala a boca, vocês são uns canalhas! Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam! (…) Você tinha que ter vergonha na cara de prestar um serviço porco que é esse que você faz à Rede Globo”.

No ano passado, o presidente já havia mandado repórteres calarem a boca e em outro momento disse que sua vontade era encher a boca de um jornalista de porrada. Levantamento da Abraji mostra que Jair Bolsonaro bloqueou ao menos 66 jornalistas e veículos no Twitter, além de ser o campeão de discursos estigmatizantes contra a imprensa, com 46 alertas somente em 2021.

A Abraji se solidariza com a equipe da TV Vanguarda e, em especial, com Laurene Santos. Condena não apenas a atitude de Bolsonaro, mas a de todos aqueles que participaram da entrevista, como o prefeito de Guaratinguetá, Marcus Soliva (PSC), e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que também seguiu o presidente e retirou a máscara. Jair Bolsonaro demonstrou mais uma vez seu desrespeito pela liberdade de imprensa, pela saúde pública, pela democracia e até mesmo pelas normas mais básicas de civilidade e etiqueta – um comportamento incompatível com o cargo máximo da República do Brasil.
 

Diretoria da Abraji, 21 de junho de 2021″.

Edição: Vitor Fernandes

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