Burle Marx: Um dos maiores paisagistas do mundo deixou legado em BH

roberto burle marx
Quem foi Burle Marx? Conheça a história do paisagista responsável por diversos jardins de BH (Reprodução/@institutoburlemarx/Instagram)

Filho de pai alemão e mãe pernambucana, apaixonado por jardins desde criança, Roberto Burle Marx, paisagista brasileiro reconhecido mundialmente, deixou sua marca em BH.

Em 2023, o Conjunto Moderno da Pampulha, em Belo Horizonte, celebra 80 anos. A obra reúne criações de importantes artistas brasileiros, incluindo jardins assinados por Burle Marx. O paisagista foi contratado por Oscar Niemeyer, em meados da década de 1940, para projetar os jardins e paisagens da região.

O resultado foi uma combinação de elementos modernistas com elementos naturais e regionais, com plantas típicas de Minas Gerais. Os jardins ganharam formatos orgânicos e curvilíneos, tendo um contraste com as formas geométricas dos edifícios de Niemeyer.

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Quem foi Burle Marx

Burle Marx nasceu no dia 4 de agosto de 1909, em São Paulo, e morreu em junho de 1994. Filho de Wilhelm Marx e Cecília Burle, cuidava dos jardins e horta de sua casa desde criança. Em 1917, no casarão do Leme, no Rio de Janeiro, onde morava com a família, Roberto cultivou seu primeiro jardim.

Em 1928, aos 19 anos de idade, Burle Marx viajou para a Alemanha com a família para tratar um problema que tinha nos olhos. O jovem ficou encantado com o Jardim Botânico de Dahlen, em Berlim, onde descobriu a beleza e diversidade da vegetação brasileira tropical.

A visita ao jardim foi o pontapé inicial para que Roberto Burle Marx começasse a experimentar e investigar a vegetação do Brasil. Ao voltar para o Brasil, em 1930, entrou para a Escola Nacional de Belas Artes, dirigida à época pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa, também mentor do jovem.

Burle Marx, 1909-1994 (Reprodução/Iphan)

Ele foi o primeiro paisagista a introduzir plantas nativas nos projetos de jardins brasileiros, tendo importante papel no reconhecimento da beleza da nossa flora e da importância e diversidade da vegetação tropical.

O trabalho de Burle Marx

Roberto Burle Marx é reconhecido mundialmente como um dos principais paisagistas do século XX, além de ser considerado um artista multidisciplinar e inovador. Em seus trabalhos, Burle tornou-se um importante nome no movimento modernista brasileiro. O paulista é autor de mais de três mil jardins ao redor do mundo.

O primeiro trabalho de Burle Marx como paisagista foi feito a convite de Lúcio Costa. O projeto consistia em um jardim privado para a família Schwarts, em Copacabana. Alguns anos depois, Roberto Burle Marx recebeu a nomeação de diretor de parques e jardins em Recife (PE).

Junto ao grupo do arquiteto moderno Luiz Nunes, o paisagista realizou projetos para as praças de Recife, e criou até polêmica com suas flores vermelhas de cana-da-índia plantada no Jardim da Casa Forte. Outro certame de Burle foi o Cactário Madalena, que reuniu plantas da caatinga e do sertão do Nordeste.

Jardins que circundam o Museu de Arte da Pampulha foram criados por Burle Marx (Reprodução/Iphan)

Criador do jardim tropical moderno

O paisagista misturava arquitetura, ecologia, botânica, paisagismo, sustentabilidade, design, ciência e arte. Criou o jardim tropical moderno, que dentro de concepção de paisagismo, faz um diálogo entre a botânica tropical e a modernidade urbana, numa relação de continuidade entre os sistemas naturais e estéticos.

Os jardins tropicais de Burle Marx resgataram espécies botânicas e trouxeram plantas até então desconhecidas por muitas pessoas. Para Burle Marx, os jardins são elementos integrados à vida social e urbana.

Após ganhar notoriedade nacional, em 1936, Burle Marx fez grandes projetos, como um jardim público no Rio de Janeiro, os jardins dos edifícios da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), o projeto paisagistico do Parque Sólon de Lucena, o Conjunto da Pampulha, o Parque do Grande Hotel de Araxá, entre outros.

Em sua carreira, Burle Marx produziu centenas de gravuras, desenhos, esculturas, tapeçarias, pinturas sobre diferentes suportes, painéis de azulejos e cerâmicas, joias, cenários e figurinos para teatro.

Burle Marx projetou e executou os jardins no entorno do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Reprodução/Felipe Azevedo)

Parques Burle Marx

Devido à importância de Burle Marx na defesa do meio–ambiente e com seu trabalho como paisagista, alguns lugares carregam o nome do paulista como forma de homenagem. Um exemplo é os Parques Burle Marx, um em Belo Horizonte, na Serra do Curral, e o outro em São Paulo.

Parque Burle Marx em BH

Conhecido popularmente como Parque das Águas, o Parque Ecológico Burle Marx faz parte do complexo ecológico da Serra do Rola–Moça. O local, inaugurado em 1994, já foi a “Casa de Descanso do Prefeito” de BH e a “Cidade do Menor”, alojamento para menores de idade em risco social.

Nos 176 mil metros quadrados, o parque tem um pequeno lago e o Córrego do Clemente. O córrego tem grande importância ambiental, sendo um dos afluentes do Ribeirão Arrudas, parte da Bacia do Rio São Francisco.

A vegetação é típica do Cerrado, com algumas espécies representativas da Mata Ciliar, como copaíbas, jacarés, ingás e jatobás. Aves como tucanos, pica–paus e sabiás, e mamíferos como gambás, micos–estrela e esquilos fazem parte da fauna do parque.

Parque Ecológico Burle Marx em BH (Reprodução/Vader Bras)

O Parque Ecológico Burle Marx é aberto ao público, que pode encontrar extensas áreas gramadas, lagos e jardins para piqueniques e comemorações. Quadras poliesportivas, pista de caminhada e campos de futebol também estão disponíveis para usufruto.

Algumas atividades sociais são realizadas no parque, como Academia da Cidade, Coonarte (Cooperativa de Artesãs), Escola Integrada, Escotismo, Projeto “Bom na Bola, Bom na Vida”, Projeto Fica Vivo e o CEA (Centro de Educação Ambiental).

O parque funciona de terça-feira a domingo, de 7h às 18h, com entrada permitida até às 17h45.
Endereço: Avenida Ximango, 809 – Flávio Marques Lisboa
Entrada gratuita.

Parque Burle Marx em São Paulo

O Parque Burle Marx de São Paulo também funciona como uma área de lazer gratuita aberta ao público. Localizado nos arredores do bairro Panamby, na região Oeste da capital paulista, o terreno teve o jardim projetado e executado por Burle Marx, na década de 1940.

Em 1991, o paisagista restaurou o jardim que havia feito. Isso porque as obras no parque, que era uma propriedade privada, haviam sido interrompidas. Após uma articulação do local feita pelo escritório KRAF, o espaço foi transformado em um parque municipal público, inagurado em 1995.

A área contempla o Jardim Burle Marx, um amplo gramado de xadrez, painéis artísticos, fontes e espelhos d’água, área ao ar livre, fileiras de palmeiras–imperiais, canteiros com bancos e pareas de estar. O parque é tombado por órgãos do patrimônio histórico a nível estadual e municipal.

Parque Burle Marx em São Paulo (Reprodução/@parque_burlemarx/Instagram)

Lá, os visitantes podem aproveitar pistas de caminhada, gramado para atividades esportivas e eventos, trilhas em mata fechada, bosque de jabuticabeiras, lagos e nascentes, áreas contemplativas, horta orgânica comunitária, playground, quiosque do coco, espaço para piquenique, entre outros.

O parque fica aberto todos os dias, de 7h às 19h. Para fazer uma visita guiada, basta agendar pelo e-mail [email protected].
Endereço: Avenida Dona Helena Pereira de Moraes, 200 – Vila Andrade
Entrada gratuita.

Sítio Burle Marx

Burle Marx fortaleceu sua ligação com Minas Gerais quando conheceu o botânico Henrique Lahmeyer Mello Barreto. Ele incentivou o paulista a estudar as plantas e seus locais de origem antes de utilizá-las nos projetos.

Com isso, o paisagista passou a realizar expedições botânicas em todo o Brasil para coletar dados sobre a flora e reproduzi-la de forma fiel. Em seus trabalhos, Roberto Burle Marx utilizava uma grande quantidade de plantas, e muitas delas precisavam ser estudadas e aclimatadas.

Por conta disso, surgiu a necessidade de que Burle criasse uma espécie de laboratório. Logo, em 1949, ele adquiriu, junto com o irmão Guilherme Siegfried Burle Marx, o espaço que veio a ser o Sítio Roberto Burle Marx. O local fica no Rio de Janeiro e seu nome original era Fazenda ou Engenho da Bica.

Espaço adequado para a pesquisa

Os irmãos buscaram espaços que unissem boa diversidade de solos adequados, com rochas expostas, água abundante e livre de especulação imobiliária. O sítio escolhido tem vegetação nativa da Mata Atlântica preservada pelo Parque Estadual Pedra Branca.

Nos anos de 1952 e 1960, os irmãos Marx compraram e anexaram à propriedade inicial terrenos vizinhos. Fizeram intervenções para transformar o local no laboratório que Burle Marx queria, instalando a infraestrutura necessária, edificações, viveiros de plantas e áreas ajardinadas.

Roberto Burle Marx doou o sítio ao Governo Federal, em 1985, com o objetivo de assegurar a continuidade das pesquisas, disseminar o conhecimento adquirido e compartilhar o espaço com a sociedade.

Iphan preserva o sítio

Em 1994, com a morte de Burle, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) passou a gerir o sítio. O instituto preserva, pesquisa e divulga a vida e obra de Roberto Burle Marx.

Os órgãos do patrimônio cultural do estado do Rio de Janeiro tombaram o imóvel, no ano de 1988, e a União, no ano 2000. Desde julho de 2021, o Sítio Burle Marx é Patrimônio Mundial na categoria paisagem cultural, chancelado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

O sítio traduz a relação do paulista com a natureza, reunindo um dos mais importantes acervos de plantas vivas. O local é uma síntese da vida e do espírito criativo do paisagista. Burle Marx morou e produziu no sítio durante seus últimos 20 anos de vida.

Vista aérea de uma das partes do Sítio Burle Marx (Reprodução/Diego Rodriguez Crescêncio)

Sobre o Sítio Burle Marx

O lugar é um grande laboratório de experimentação, com mais de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais, organizadas em viveiros e jardins. Elas convivem em harmonia com a vegetação nativa, numa área de 405 mil metros quadrados. O local também tem lagos, coleções de arte e uma grande biblioteca.

Dividio em áreas, o Sítio Burle Marx é composto por: prédio da administração, Casa de Pedra, Sombral Graziela Barroso, Sombral Margaret Mee, Cozinha de Pedra, Capela Santo Antônio da Bica, Loggia, Casa de Roberto Burle e um atêlie. O sítio fica no bairro Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

As visitas acontecem por meio de agendamento no site do sítio. Os horários disponíveis vão de terça-feira a sábado, exceto feriados, de 9h30 às 13h30. Os valores são R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada). A visita é sempre mediada, e dura em torno de 1h30. Prepare uma roupa confortável porque o passeio é todo a pé.

Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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