CURA 2021: Praça Raul Soares ganha cores e saberes ancestrais indígenas

pintura-empena-cura
A obra de Ed-Mun é uma das que vêm ganhando forma, no edifício Paula Ferreira (Reprodução/CURA/Facebook)

A 6ª edição do CURA (Circuito Urbano de Arte) já está a todo vapor na Praça Raul Soares, no coração de Belo Horizonte, desde a última quinta-feira (21). Desta vez, artistas do Acre, do Peru e de Minas Gerais estão por conta da pintura das empenas e das ruas do entorno da praça, além de uma intervenção no Edifício JK. O CURA 2021 busca descer as águas da Avenida Amazonas, canalizando a energia do rio que ali deságua.

Neste ano, muitos moradores estão acompanhando pessoalmente as intervenções artísticas, diferente do que era possível na edição do ano passado. O CURA pede para que cada pessoa aproveite as obras utilizando máscara e respeitando o distanciamento social.

“Com a alegria subversiva e a responsabilidade que o momento exige, ocupar o espaço público é uma forma de resistência. Vamos fazer isso de máscara e cada um no seu quadrado ao ar livre, ‘feshow’?”, pediu o circuito nas redes sociais.

Pintura no edifício Paula Ferreira

Desde a última quinta-feira (21), o artista belo-horizontino Ed-Mun, que é o anfitrião desta edição, está fazendo a pintura da empena do edifício Paula Ferreira, na Praça Raul Soares. O grafiteiro é famoso pela maestria na técnica de criar graffitis realistas e no graffiti caligrafia 3D.

Ed-Mun está realizando o sonho de pintar sua primeira empena. “Me sinto muito honrado com o convite desse projeto maravilhoso. Sempre sonhei em pintar uma empena, em qualquer lugar que fosse, aconteceu desse lugar ser muito especial”, diz o artista.

Sobre a arte que prepara no edifício, Ed-Mun conta que “é uma arte em homenagem à escrita, à comunicação por símbolos e grafismos, inspirado na arte marajoara, na pintura rupestre, mas com um estilo urbano contemporâneo que é o graffiti 3D e com um pouco de anamórfico”.

O perfil oficial do CURA no Instagram vem compartilhando fotos e vídeos do processo de pintura das empenas. O circuito convida a quem postar registros das artes a utilizar a hashtag “#aRaulzonaénossa”. Confira como está ficando o trabalho de Ed-Mun:

Arte indígena no edifício Levy

A segunda empena também vem recebendo desde a última quinta-feira, no edifício Levy (Avenida Amazonas), os traços da artista Kassia Rare Karaja Hunikuin e outros pintores do coletivo de artistas indígenas Mahku, originário do Acre. O coletivo de arte trabalha a cura, pintando a partir de cantos xamânicos.

“Agora, eu estou pintando só cantos de cura. A gente está precisando muito: o Brasil e o planeta precisam. Escolhi uma pintura para esse momento de pandemia e pelas perdas irreparáveis”, explica Kassia. Confira como vem ficando o trabalho do coletivo na empena do edifício.

Intervenção no edifício JK

No último sábado (23), o edifício JK, na Rua dos Guajajaras, recebeu uma intervenção do Coletivo Viva JK. O grupo projetou no prédio manchetes e trechos de reportagens de a partir da década de 60, sobre como a Praça Raul Soares começou a ser disputada pela população conservadora e pelos grupos LGBTQIA+.

A projeção teve direção do videoartista Eder Santos, que sobrepôs representações negativas das pessoas LGBTQIA+ a fotos de mulheres trans e travestis. Além disso, a projeção utilizou cenas do clipe “Duas Pessoas”, de Aldrin Gandra, e cenas de uma batalha de vogue gravadas na boate Matriz, do edifício.

Pintura no chão da praça

Enquanto os artistas trabalham nas pinturas das empenas até o dia 2 de novembro, outros movimentos estão programados na agenda do CURA 2021. O primeiro deles é a pintura-ritual no chão ao redor da Praça Raul Soares, do dia 29 de outubro ao dia 1° de novembro.

Para essa atividade, os convidados são os artistas indígenas Sadith Silvano e Ronin Koshi, do povo Shipibo, no Peru. Ambos irão apresentar um sistema de desenhos chamado Kené, que é declarado patrimônio cultural no território peruano. Os traçados seguem padrões geométricos e labirínticos.

Os artistas irão fazer uma pintura ritual, evocando suas raízes língua, costumes e conhecimentos de cura. Essa obra será pintada ininterruptamente, 24 horas por dia, sendo a primeira vez que o CURA apresenta tal modo de intervenção artística. Para isso, equipes estão escaladas para revezarem.

Vivência espiritual

A segunda atração será uma Vivência, guiada por Tainá Majoara (PA), Patrícia Brito(MG), Silvia Herval (MG) e Mayô Pataxó (MG), do dia 30 de outubro ao dia 2 de novembro. A vivência será de presença marajoara, em que o chão é entendido como sagrado, território dos mortos e de onde sai a cura.

O encontro será o fruto de um processo artístico e de intenções, com encantarias e espiritualidade. No centro, estarão 4 alimentos-chave, sendo farinha de mandioca, tucumã, pimentas e beijus – alimentos identitários, territoriais e que têm valor ancestral.

Durante a vivência, as guias espalharão sementes nas pedras portuguesas. “A gente quer atuar num processo de contracolonização, florescer no chão (ainda que simbolicamente) jenipapo, tucumã, urucum… entendendo que a pedra da colonização precisa sair do nosso caminho”, diz Tainá Marajoara.

Anota aí:

Dia: 29 de outubro a 01 de novembro:  

> Pintura-ritual – Chão da Av. Amazonas, ao redor da Praça Raul Soares

Artistas: Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo (Peru)

Dia: 30 de outubro a 02 de novembro:  

> Vivência 

Guiada por: Tainá Marajoara (PA), com Patrícia Brito (MG), Silvia Herval (MG) e Mayô Pataxó (MG)

Edição: Giovanna Fávero
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!