Após emplacar músicas em novela da Globo, mineiro Marcos Almeida traz turnê a BH e prepara novo álbum

marcos almeida bh
Marcos Almeida retornará a BH para show em teatro (Divulgação/Arthur Damasceno)

Talvez você já deva ter ouvido falar do cantor e compositor Marcos Almeida, da banda de rock Palavrantiga. O que talvez você não saiba é da história que levou o artista de BH a colocar duas músicas em uma novela da Globo, fazer mais de 90 shows e vender mais de 45 mil ingressos.

Unindo o talento da composição à sua perspectiva espiritual, Marcos Almeida iniciou sua jornada aos 13 anos, com um violão kashima dado pelo pai, Ubaldo Almeida. Filho de pais separados, o instrumento era o laço afetivo que o então pequeno artista tinha com o pai, já que morava com a mãe.

O cantor passou boa parte da vida com saudades desse violão, pois teve o instrumento roubado em uma manifestação em Brasília. “Foi muito triste, eu lembro do som desse violão até hoje, então eu cresci com o vazio desse instrumento que se perdeu e era minha conexão com meu pai”.

De professor de Música a cantor e compositor

Com a memória do violão guardada no peito, Marcos decidiu estudar Música na UEMG (Universidade Estadual de Minas Gerais) com o sonho de ser professor, porém, a composição o levou para os palcos. “Formei banda e acabei indo para esse viés da interpretação, da carreira artística”, conta ao BHAZ.

‘No meio do caminho eu me tornei um professor de música frustrado’, conta Marcos (Divulgação/Arthur Damasceno)

A composição esteve presente na vida do artista mesmo antes da banda, daquele jeito meio tímido, de quem escreve e mostra somente para os mais privilegiados. “Aos 24 anos, eu criei o meu primeiro projeto, que foi uma banda chamada Palavrantiga, que trabalhou comigo até 2014”.

A banda teve um pequeno comeback em 2018, no entanto, os artistas seguem separados. “Tinha uma influência forte do rock inglês e também do The Killers, e a gente é pós o Los Hermanos, então bebemos muito desse indie brasileiro”, explica o cantor.

Marcos Almeida fala sobre o fim da banda. “É sempre muito difícil, né, porque no início, você sonha em envelhecer com aquelas pessoas. Acho que uma das nossas grandes dificuldades é reconhecer que as coisas têm fim. É necessário terminar certos projetos para que nasçam outros”.

Carreira solo

Com o fim da Palavrantiga, Marcos passou por um ano sabático fora dos palcos e da mídia e, em 2015, retornou com foco em ocupar os teatros e se reencontrar com os ouvintes que já conheciam seu trabalho. “Desde então são mais de 90 shows que a gente já realizou desde 2015”, declara.

De lá para cá, o cantor lançou cinco álbuns ao vivo e um de estúdio, além de quatro EPs. O trabalho de Marcos, como ele define, é autoral e coração. As músicas do artista possuem um toque filosófico, originário da espiritualidade cristã dele, embora elas não se enquadrem no gênero gospel.

“Eu sou cristão que também expressa na sua lírica essa vivência com Deus. Na época que a gente [banda] começou, naturalmente já nos colocavam nessa caixinha, então isso sempre foi uma discordância porque nunca nos denominamos como uma banda gospel”, explica o cantor.

“O fato de eu não circular mais dentro do circuito gospel e procurar os teatros já foi um marcador muito importante de direcionamento para minha carreira e também até para me posicionar num espaço onde os diálogos fossem mais naturais”, diz.

Rock espiritual

Marcos, então, define sua música como um rock com influências da MPB e do folk. As inspirações melódicas, segundo ele, partem desde a música de concerto até o rock e a MPB. Para compor – arma potente do artista -, a influência também surge de vários lados.

“É um texto que eu li, é um filme que eu assisti. A palavra é muito importante para mim na hora de compor. Me influencio muito pelos livros que eu leio, isso é um fato, fui me dando conta disso aos poucos. Às vezes é uma frase que vem e aí eu começo a fazer a música”.

Como o artista se relaciona com a religião?

Em relação à religião, o mineiro conta que tem uma certa dificuldade com a palavra. “Sociologicamente falando, sim, eu me identitifico como cristão da igreja evangélica, mas eu prefiro falar que eu sigo essa espiritualidade de Jesus”.

“A religão às vezes tem um pacote muito definido do que você tem que acreditar, do que você não pode, e tem esse peso que eu não curto muito. Eu gosto de andar mais leve e é assim que eu vejo a proposta de Jesus também”.

Encontro com o pai na música

Em dezembro de 2022, o pai do cantor faleceu. Marcos tem na memória a conquista de ter realizado um grande momento junto com Ubaldo. “Quando eu me casei, pouco tempo depois eu trouxe meu pai para morar aqui em Vila Velha (ES), ele estava morando em BH”.

“Ele se matriculou na EJA [Educação de Jovens e Adultos], muito incentivado por mim, e a professora falava, ‘olha, seu Ubaldo, você tem um filho que é músico, o senhor toca e gosta de música, por que não começa a compor?’. Aí ele gostou da ideia e começou a escrever”.

Nisso, Marcos decidiu gravar a terceira música escrita pelo pai em um estúdio em Brasília. “Levei ele junto comigo na cidade onde eu perdi meu violão [risos]. Só fui ter a noção depois. A nossa primeira viagem de avião juntos e meu pai pode gravar do jeitinho dele e eu participei”.

Músicas de Marcos entram em novela da Globo

No ano passado, Marcos Almeida teve duas de suas canções, “Sê Valente” e “Vem me Socorrer” incluídas na trilha sonora da novela “Vai na Fé”, da TV Globo. “Foi uma surpresa enorme e eu acho que também é um reconhecimento do Brasil como um todo”.

“A música é um elemento muito importante nessa vivência dessa jornada espiritual cristã no Brasil. É mais ou menos assim que eu vejo a minha composição, não para um lugar específico. É uma jornada, é uma trilha da vida e foi muito emocionante poder ver isso encarnado, tendo forma e drama na vida de personagens que representam histórias da vida real”.

Marcos Almeida (Divulgação/Arthur Damasceno)

Projetos musicais

Marcos terminou, recentemente, a primeira parte do projeto “Recanto – canções para morar em tempos difíceis”, em que faz releituras de grandes composições da MPB. “Paciência” (Lenine), “Tenho Sede” (Anastácia), “O Vencedor” (Los Hermanos) são algumas das músicas regravadas pelo artista.

Para o artista, existe uma grande conexão entre as canções escolhidas para o projeto e seu trabalho autoral com letras espirituais. “O cerne dessa pesquisa é justamente encontrar uma linguagem comum”.

“É uma linguagem poética e espiritual que corre também na MPB, e isso é evidente quando você ouve ‘Juízo Final’, tem ali uma inspiração espiritual, uma visão de mundo que não é superficial. A espiritualidade provoca o nosso olhar para o que não está na superfície”, define.

O projeto terá uma segunda parte, e um spoiler que Marcos deu ao BHAZ é de que as músicas serão lançadas em vinil. “A ideia é que na comemoração dos meus 10 anos de carreira eu tenha esse projeto pronto”, diz o cantor, que completará o ciclo em 2025.

Novo álbum

Além da segunda parte das regravações, o artista está preparando seu próximo álbum de estúdio, intitulado “Calado”. Nesse projeto, Marcos levará seu público para um lugar praiano, em referência ao lugar onde ele mora hoje com a família.

“Eu tô criando histórias que são ambientadas nesse espaço geográfico, isso é muito importante no meu processo de criação: imaginar. E eu descobri uma figura muito forte observando e frequentando o mar, porque agora eu também faço canoagem e gosto muito de pescar”.

“Já estava viajando nessa coisa que eu te falei do invisível que está debaixo daquilo que a gente acha que é a superfície, e observando o barco descobri que ele também tem um lugar escondido que fica entre a lâmina d’água e a quilha que a náutica chama de ‘calado'”.

Marcos viu nessa descoberta o nome de seu novo álbum, em que aprofundará em vários assuntos com um mergulho diferente dos que tem dado. “Está mais rock and roll do que o ‘Lá de Casa’. Agora é a primeira vez depois da pandemia que eu vou para o estúdio fazer esse trabalho minucioso”.

Marcos Almeida em BH

Enquanto não lança seus novos projetos, o cantor está em turnê pelos teatros do Brasil – onde vai começar a dar spoilers de seu próximo disco. “Já estamos incluindo no repertório pelo menos duas canções inéditas”, revela.

A turnê passará por Belo Horizonte no dia 9 de maio, no Cine Theatro Brasil Vallourec. Os ingressos estão disponíveis a partir de R$ 35 (meia–entrada) neste link. A experiência na capital mineira será como voltar para casa em muitos sentidos para o artista.

“Tem uma coisa mística e meio mágica em pisar novamente na sua terra. É uma das cidades que a minha família mais ama! Tem essa coisa familiar que é poder ver meus amigos e meus parentes, e também tem o público que me viu brotar, foi aí que eu comecei”, reflete.

“A gente está juntando essa família de novo e nunca é igual, toda vez que eu volto em Belo Horizonte é uma coisa nova que acontece, é um encontro de muito significado, sempre”.

Acompanhe Marcos Almeida no Instagram.

Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!