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Ópera ‘Devoção’ resgata história de patrimônio mineiro e se prepara para estreia em BH

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(Divulgação/Marcia Charnizon)

A história de Congonhas, município localizado na região central de Minas, passa pelos feitos de Feliciano Mendes. Português radicado no Brasil no século XVIII, ele foi o responsável por dar início à construção do Santuário Bom Jesus de Matosinhos, patrimônio da humanidade e ponto de fé cravado no alto da cidade. Foi lá também o local que recebeu a pré-estreia da ópera “Devoção”, parte da programação de atividades do projeto “Profecia”, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que norteará as ações da Fundação Clóvis Salgado (FCS) no segundo semestre de 2024.

“Quando se rega um sonho com fé, Deus abençoa a colheita”, diz o ditado, que também resume o resultado apresentado no último sábado (13), em primeiríssima mão. Do alto das escadarias do Santuário, o Coral Lírico de Minas Gerais deu vida à história do imigrante português, que, após contrair uma doença e pedir aos céus pela cura, parte em construção do templo sagrado. “Ele nem chegou a ver o lugar pronto”, diz Cláudia Malta, diretora artística da FCS. “Mas começou a construção, e muitos anos depois veio Aleijadinho, que fez a Paixão de Cristo em 12 passos. São essas obras que estão aqui até hoje”.

Enquanto Cláudia falava de fora do Santuário, músicos da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais se preparavam para a apresentação, lá de dentro. Mais do que um resgate histórico, a ópera propôs, na pré-estreia, uma homenagem interativa com o espaço. Em logística um tanto quanto engenhosa, que mobilizou mais de 600 pessoas, a apresentação foi dividida entre as áreas interna e externa da igreja. Orquestra de cá, na execução “escondida” das partituras, e Coral Lírico de lá, nas interpretações ao ar livre. Da praça central, o público viu sua própria história sendo contada.

Devoção

Com composição assinada por João Guilherme Ripper e libreto de André Cardoso, “Devoção” apresenta o que Ripper chama de “ficção histórica”. “A ideia não era fazer um documentário”, destaca o compositor, ao explicar parte imaginativa da peça. “Os personagens históricos que estão na obra são o Feliciano e o padre Antônio Rodrigues. Todos os outros são personagens fictícios, que nós criamos para dar equilíbrio à parte teatral. A partir dali, a ideia foi criar toda essa ambiência, devoção. Porque a devoção é a personagem principal dessa ópera. Não apenas a devoção cristã, mas a devoção mineira, num sentido mais amplo”, afirma.

(Marcia Charnizon/Divulgação)

Ronaldo Zero, diretor cênico da peça, acredita que a escolha do lugar para pré-estreia não poderia ter sido melhor. “A música é acessível e tem que estar em todos os lugares, mas a primeira apresentação ao público tinha que ser aqui. Apesar disso, ‘Devoção’ traz uma história muito abrangente, que fala não só da religiosidade desse homem sonhador, mas de sonhos. Feliciano veio pra cá com um sonho, enfrentou dificuldades, persistiu e construiu esse templo maravilhoso”, diz.

A apropriação narrativa e paisagística do patrimônio mineiro impressionou o público presente. Professora particular em Congonhas, Marcilene Ferreira se disse encantada após a apresentação. “Isso faz parte da nossa história, da memória de Congonhas; é fundamental que esse passado seja conhecido por nós, mas também por quem não é daqui. Adorei a união do Feliciano e (de sua esposa) Mercês, foi um trabalho magnífico dos cantores e de todos os outros artistas envolvidos. Fiquei especialmente emocionada com a percussão e com esse resgate do congado. Isso fala muito do sincretismo da nossa religiosidade, e da própria tradição mineira”.

Profecia

Depois de “Aleijadinho” (2022) e “Matraga” (2023), “Devoção” nasce como a terceira ópera de tema mineiro encomendada pela FCS e sob direção artística de Cláudia Malta. “A ópera como veículo de investimento vem muito em função da própria história de Minas Gerais”, aponta o secretário de Cultura e Turismo do estado, Leônidas Oliveira. “Nós temos a primeira casa de ópera da América do Sul, na antiga capital, Ouro Preto. E desde 2022, depois do período pandêmico, nós resolvemos expandir e descentralizar as óperas do Palácio das Artes, com seus corpos estáveis, para as cidades que têm uma relação com a temática”.

A peça integra o calendário de atividades do projeto “Profecia”, apresentado pela Secult no último dia 9, em coletiva de imprensa em BH. “Lançamos, hoje, uma série de atividades que vão rechear de forma muito expressiva a Fundação Clóvis Salgado e seus espaços – de forma bem especial, o Palácio da Liberdade e o Palácio das Artes. O projeto visa, entre outras coisas, elevar a nossa história a partir da fé em transversalidade com o turismo, e lançar luz também sobre o turismo da fé, ao trabalharmos as Rotas do Rosário”, disse Leônidas na oportunidade. “O projeto tem realmente esse lugar de analisar e estudar historicamente a fé no estado de Minas Gerais e proteger a cultura afromineira”.

Até dezembro de 2024, a programação da FCS envolve três exposições: “Nem Tudo é o Que Se Vê” e “Pontos de Fé“, já em cartaz no Centro de Arte Popular e no hall do Cine Humberto Mauro, respectivamente, e “A Valorização e Resgate de Nossa Cultura”, que chega ao Palácio da Liberdade nesta quarta-feira (17). Também a moda terá destaque com o desfile coletivo “Moda no Jardim Sensorial”, a ser realizado em 28 de julho, nos jardins do Palácio da Liberdade, com a participação de 40 estilistas da Associação de Criadores e Estilistas de Minas Gerais.

Para agosto, há expectativa sobre o reconhecimento do congado, por meio do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, como Patrimônio Cultural Imaterial do estado. A ação é mais uma iniciativa da Secult de valorizar as afromineiridades. Também em agosto, serão estruturadas as Rotas do Rosário, roteiros turísticos que ressaltam a importância dos congados e das festas do rosário.

Depois da pré-estreia em Congonhas, a ópera “Devoção” chega para curta temporada em Belo Horizonte, já nesta semana. O Palácio das Artes receberá quatro apresentações, nos dias 19, 20, 22 e 23 de julho, com ingressos à venda por valores a partir de R$ 30. Eles estão disponíveis na bilheteria oficial do complexo e no site da FCS.

Então se liga!

‘Devoção’ em BH
Local: Palácio das Artes
Data: 19, 20, 22 e 23 de julho
Ingressos: a partir de R$ 30, no site da FCS

Thiago Cândido

Aluno de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais. Repórter no BHAZ e colunista no programa Agenda, da Rede Minas de Televisão.
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