‘A verdade sobre o Bolsa Família’: Ex-ministra de Dilma comenta fraudes no programa social

A ministra Tereza Campello participa do programa semanal Bom Dia Ministro. A ministra falou sobre o reajuste de 10% nos benefícios do Programa Bolsa Família anunciado na semana passada (Elza Fiuza/Agência Brasil)

Ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome da presidenta Dilma Rousseff (PT), a economista Tereza Campello, de 53 anos, divulgou nesta semana um texto no qual comenta fraudes apontadas pelo Ministério Público Federal (MPF) em auditoria realizada no Bolsa Família. No dia 30 de maio, o órgão informou à imprensa que havia encontrado irregularidades no valor de R$ 2,5 bilhões no pagamento dos benefícios do programa, entre os anos de 2013 e 2014.

Formada pela Universidade Federal de Uberlândia, no Triângulo mineiro, Tereza afirma que a inspeção do MPF parece ter utilizado premissas equivocadas como base já que leva a conclusões não verdadeiras a respeito do Bolsa Família. A profissional ainda considera que o levantamento adota posições “simplistas e preconceituosas” contra as pessoas que se beneficiam do programa.

O recebimento do Bolsa Família por pessoas falecidas, doações de beneficiários para campanhas eleitorais e pessoas que recebem o pagamento, mas não possuem CPF são alguns dos pontos abordados ao longo do texto, que tem sido compartilhado nas redes sociais e em blogs desde que foi publicado.

O MPF não comentou as críticas feitas por Tereza, mas realizou uma reunião no Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, atualmente comandado pelo ministro Osmar Terra (PMDB), indicado pelo presidente interino Michel Temer. O objetivo do encontro seria fortalecer a parceria entre os órgãos e aprimorar o controle do Bolsa Família, além de discutir formas de como a fiscalização de quem recebe o benefício pode ser aumentada e se tornar mais eficaz.

O Bolsa Família foi criado para famílias que vivem em situação de pobreza ou de extrema pobreza. Ou seja, com renda mensal abaixo de um salário mínimo por pessoa. Para fazer a conta, calcula-se a média dos salários dos membros das famílias. Os interessados em integrar o programa precisam se inscrever no Cadastro Único. As famílias ainda precisam estar com os dados atualizados há pelo menos 2 meses.

Veja o texto de Tereza na íntegra:

“Os fatos precisam ser conhecidos.

Desde 2005, o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), responsável pela gestão federal do Bolsa Família, realiza, rotineiramente, o cruzamento do cadastro do programa com outras bases de dados, para identificar inconsistências. O procedimento vem sendo permanentemente aperfeiçoado, incorporando outras bases de dados, novas tecnologias e metodologias mais complexas.

As bases de dados que o Ministério Público Federal diz ter utilizado já foram e vêm sendo objeto de cruzamentos do próprio MDS, de outros ministérios e órgãos de controle, como a Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU).

Em relação às “fraudes” identificadas pela referida auditoria, vale destacar:

Os casos de pessoas falecidas são tratados desde 2012 utilizando a base nacional de óbitos, o Sisobi. Mais recentemente, o cruzamento tornou rotina automatizada no sistema de pagamentos de benefícios, operado pela Caixa. Qual o sentido de divulgar agora algo completamente superado há quatro anos? Dar margem para manchetes de que mortos recebem Bolsa Família? Vale ressaltar que a morte de um indivíduo não torna a família inelegível ao programa. Ao contrário, há situações em que o falecimento torna a família ainda mais vulnerável.

Em relação à doação para campanha eleitoral e propriedade de empresas, não existe impedimento legal para que um beneficiário do Bolsa Família realize doações ou seja proprietário de microempresa. Na averiguação feita a partir dos indícios levantados pelo TCU em 2010, os casos identificados não se confirmaram, mas indicaram a existência de outras fraudes: beneficiários sendo usados por terceiros para compra de bens, ou contratados para fazer campanhas para candidatos, registrados incorretamente como doadores de campanha. Ou seja, não era fraude no Bolsa Família, mas crime eleitoral.

No caso de beneficiários sem CPF, é preciso esclarecer que o documento só é obrigatório para os titulares do benefício. Sua ausência não implica recebimento indevido de recursos. Recentemente, o TCU fez avaliação e identificou casos residuais de duplicidade de CPF entre os beneficiários, que já estão sendo tratados por meio da rotina anual de atualização cadastral do Bolsa Família.

Este conjunto de informações mostra que o cruzamento entre bases de dados deve ser feito de forma criteriosa. Até porque os cadastros não têm a mesma qualidade e atualidade de informações, incorrendo em erros de interpretação sobre a situação das famílias.

Por isso, ao avaliar a divulgação da referida auditoria, que usa bases de dados dos anos de 2013 e 2014, é importante lembrar alguns aspectos.

O levantamento resulta em posições simplistas e preconceituosas contra o público do Bolsa Família, revelando desconhecimento sobre os critérios e sobre a legislação do programa. Desconsidera, ainda, o trabalho realizado pelo próprio MDS, TCU e CGU nos últimos anos.

Tais conclusões equivocadas poderiam ser evitadas se, antes da exposição midiática, a equipe técnica responsável pela gestão do programa tivesse sido procurada para discutir os “achados”.

O levantamento é frágil. É mais uma tentativa de desconstrução do programa do que uma denúncia de fraude concreta ou linha de aperfeiçoamento dos mecanismos de controle.

Antes de sair do MDS, lancei o processo de atualização cadastral das famílias para 2016, uma espécie de malha fina do Bolsa Família. Esse procedimento foi iniciado em 29 de abril, baseado na Instrução Operacional 79 do MDS. As famílias identificadas passaram a ser convocadas a comparecer às prefeituras para atualizar informações no Cadastro Único.

É preciso reiterar um aspecto importante. O Bolsa Família é um patrimônio nacional. Não pode ser atacado de maneira irresponsável. É assustador que o governo provisório e o ministro interino do MDS tenham uma reação aos “achados” do Ministério Público Federal sem tentar esclarecer os fatos, sem nem mesmo ouvir os próprios técnicos do ministério. É um desrespeito a servidores premiados por organismos internacionais, mundo afora, pela gestão correta e exemplar do Bolsa Família que atende a 46 milhões de brasileiros. Esses servidores são um exemplo de dedicação, prestando serviços de qualidade à população.

As informações divulgadas pela imprensa sobre supostas fraudes no Bolsa Família prestam um desserviço ao Brasil, desconhecendo um valoroso trabalho que mantém 13,9 milhões de famílias brasileiras fora da extrema pobreza”.

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