Sem poder sorrir, professor contaminado por Backer deixa hospital: ‘Pensei que seria melhor morrer’

Cristiano voltou para a casa após longo período internado
Professor da UFMG ficou 71 dias no hospital (Arquivo pessoal/Reprodução)

Em menos de dez dias, a vida do professor de pós graduação do departamento de psicologia da UFMG, Cristiano Mauro Assis Gomes, de 47 anos, mudou completamente. Das orientações aos alunos e viagens nacionais e internacionais, ele passou a lutar para respirar. “Em cada inspiração, era uma dor insuportável”, contou nessa sexta-feira (6). Ele é uma das vítimas da intoxicação por dietileglicol presente na cerveja Belo-Horizontina, da Backer. Ao todo, a Polícia Civil já confirmou 11 intoxicações e seis mortes relacionadas à bebida.

Após 71 dias no hospital, sendo 44 deles no CTI, Gomes voltou para casa com sequelas. Mas pronto para lutar. “Eu sempre gostei de desafios, e quando a Backer não nos atende da maneira [correta] até reforça meu desafio”, disse aos jornalistas após chegar em casa do hospital. Ele está 11 quilos mais magro e, além disso, Cristiano perdeu movimentos de alguns músculos da face e não consegue mais sorrir. Da cervejaria, ele só quer Justiça. “Eu não desejo [o que eu passei] para ninguém da Backer”, enfatizou.

Professor conversou nessa sexta-feira (6) com a imprensa (Arquivo Pessoal/ Reprodução)

Durante o tempo que passou no Hospital Biocor, o professor pensou em desistir. “Em determinado momento, eu realmente pensei que seria melhor morrer. Cada inspiração de ar era insuportável”, acrescentou. A família e a equipe do centro de saúde foram como âncoras para Cristiano. “Essas pessoas me deram muita força”, se emocionou.

Péssimas notícias

Cristiano contou que recebia notícias sobre o caso Backer e que ficou consciente todo o tempo em que esteve internado. “Foi um período muito intenso, e eu estive lúcido o tempo inteiro. Eu vivenciei o percurso de aprendizado”, revelou.

Quando recebeu o diagnóstico de que uma substância tóxica presente em uma cerveja estava causando os sintomas, Cristiano pensou: “Isso é o Brasil”. Segundo o professor, a segunda sensação que lhe passou pelo coração é de que é necessário mudar a cultura do país. “Precisamos mudar esse país. Empresários corruptos, insensíveis que só pensam em lucro”, disparou. Ele acrescentou que ao criticar só o governo, o brasileiro não faz uma crítica privada com relação ao capitalismo e também com relação a atuação das empresas.

Professor sofre com sequelas renais (Arquivo Pessoal/ Reprodução)

Tratamento

Conforme a família, até o momento, Cristiano não recebeu qualquer apoio da cervejaria. Ele precisa realizar hemodiálises três vezes por semana e tomar remédios de hipertensão. O professor perdeu 11 kg e também o movimento de alguns músculos da face. Por isso, ele não consegue mais sorrir. Uma terapia experimental com uma fonoaudióloga é a esperança para reverte esse quadro.

Investigação

A Polícia Civil investiga o caso há dois meses, há 38 notificações de pessoas contaminadas. O Ministério da Agricultura identificou a substância tóxica em 23 lotes da Backer.

O BHAZ tentou contato com o advogado e com a assessoria de imprensa da empresa, entretanto, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno.

Aline Diniz[email protected]

Editora do BHAZ desde janeiro de 2020. Jornalista diplomada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) há 10 anos e com experiência focada principalmente na editoria de Cidades, incluindo atuação nas coberturas das tragédias da Vale em Brumadinho e Mariana. Já teve passagens por assessorias de imprensa, rádio e portais.

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