Círculo de pedras ‘misterioso’ intriga moradores de BH e origem surpreende

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Pedras “misteriosas” despertam a atenção da população (Moisés Teodoro/BHAZ)

Um círculo de pedras cravadas ao chão tem despertado a curiosidade de quem passa pela avenida Antônio Carlos, na região da Pampulha, em Belo Horizonte. A circunferência chama atenção pela forma como foi “organizada” e por estar em um espaço afastado de casas e comércios, além de deixar no ar pelo menos duas dúvidas: o que de fato representa e como foi parar naquele local. O BHAZ foi atrás de respostas na tentativa de solucionar o “mistério das pedras”.

O gerente comercial Danilo Henrique é usuário do MOVE e sempre passa pela avenida a caminho do trabalho. Desde o final do ano passado, ele começou a “observar atentamente” a paisagem e se deparou com as pedras ajeitadas. “Fiquei olhando uns dois meses e me espantei com a perfeição. Tudo sempre arrumadinho. Parece que foi colocado com a mão”, conta.

Depois de ficar curioso, Danilo passou a perguntar aos familiares e colegas de serviço se já tinham visto as pedras. “Todos disseram que não, mas depois passaram a observar e a ficar com a mesma dúvida minha de como foi parar ali. Pesquisei na internet e nada de achar a resposta”.

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Pedras misteriosas podem ser vistas por quem passa pela avenida Antônio Carlos
(Moisés Teodoro/BHAZ)

O lugar em que as pedras estão é uma extensão da praça Olavo Kafunga Bastos, cuja administração é da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte). Mas nem mesmo o Executivo municipal soube explicar como elas foram ficar daquela maneira. A Sudecap (Superintendência de Desenvolvimento da Capital) informou que “não tem registro da implantação/colocação das pedras”, já que “não foi feita qualquer intervenção” pela regional.

Hipóteses

Dúvidas não faltam sobre a origem das pedras em formato de círculo. Uma das hipóteses levantadas era de que ele poderia ser associado à alguma religião de matriz africana, como o candomblé, por exemplo. “Teve gente cogitando isso”, conta Danilo. Mas engana-se quem apostou que esta seria a solução do “mistério”.

“Desconheço ritual em nossa religião com círculo de pedras. Nossa crença é embasada em fundamentos e, de fato, acreditamos nas pedras. Quando vamos montar uma exu, buscamos na natureza uma pedra chama Otá. Ela faz a ligação entre nós com a divindade, mas algo parecido com isso eu desconheço”, disse o pai de santo Marcelo Augusto de Oliveira.

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Círculo de pedras não foi colocado pela PBH na praça (Moisés Teodoro/BHAZ)

A proximidade do círculo de pedras com o aeroporto da Pampulha, que tem pistas de pouso e decolagem bem próximas do local, também fez algumas pessoas pensarem em uma possível relação. Uma das pessoas que trabalha no setor de manutenção disse que nunca viu o círculo. A Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) informou que o círculo “não faz parte do sítio aeroportuário da Pampulha”.

‘Figura perfeita’

Sem saber quem fez o círculo de pedras na praça é impossível afirmar com precisão qual o significado dele, mas o professor Wanderson Flor, doutor e orientador da pós-graduação de Direitos Humanos, Filosofia e Biética da UnB (Universidade de Brasília), conta um pouco sobre a representatividade dos círculos e aponta uma possível razão de as pedras terem sido escolhidas.

“Muitas culturas se comunicam por círculos e aqui, em Brasília, vez ou outra aparecem intervenções deste tipo, mas sem significado ancestral e sim vinculado em torno da noção de equilíbrio. O círculo como ideia da perfeição, tanto nas culturas do Oriente, na África e dos indígenas brasileiros”, explica.

A perfeição do círculo também proporciona, conforme detalha Flor, “a projeção da harmonia”. Mas por que usar pedras? “Elas constituem marcas mais perenes. Se você fizer um círculo de folhas, o vento vai levar. Se escrever algo no chão, alguém vai pisar e apagar. A pedra deixa o recado por um pouco mais de tempo”.

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As pedras estão próximas da Lagoa da Pampulha (Moisés Teodoro/BHAZ)

“Não dá para inferir se o círculo de pedras da praça foi feito para passar uma mensagem intencional ou se alguém fez para se divertir e acabou deixando. Não sabemos o que provocou a pessoa a fazer aquilo. Independentemente disso, a mensagem foi deixada, só resta saber por qual motivo”, complementa.

Fim do mistério

O estudante de Antropologia Eni Carajá Filho tem o costume de passar pela região da Pampulha e assim como Danilo ficou intrigado com a aparição do círculo de pedras. A perfeição e a forma como as pedras estão dispostas fez ele ficar ainda mais curioso em descobrir a origem daquilo. “Eu descobri quando teve um acidente naquela região”, conta.

O acidente citado por Eni foi uma explosão na galeria do vertedouro da Lagoa da Pampulha em 25 de outubro de 2019 (relembre aqui). Cinco funcionários que trabalhavam na obra ficaram feridos, sendo que três deles morreram. O universitário, passados alguns dias, foi até o local onde as pedras estavam e conseguiu conversar com um operário e para a surpresa dele “desvendou” o mistério.

“Um dos operários falou comigo que tinha feito o círculo com a ajuda de colegas de trabalho durante o horário de almoço. O objetivo era homenagear o relógio do sol”, conta. O motivo disso é que um dos funcionários veio de Taquatinga, no Distrito Federal, e queria fazer algo que lembrasse a terra natal. “Ele disse que lá tem um relógio desses próximo da estação do metrô e resolveu fazer a estrutura de um aqui para lembrar”.

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Círculo está na praça, porém numa área afastada de casas e comércios
(Moisés Teodoro/BHAZ)

O operário saudosista reuniu os demais colegas e fixou as pedras com cimento para a estrutura permanecer por um bom tempo. Isso tudo em meados de 2015. “Fiquei feliz em descobrir como o círculo foi parar na praça, pois sempre via e ficava curioso”, finaliza o universitário que integra o Comitê Mineiro de Apoio à Causa Indígena.

Nota da PBH na íntegra

“A Prefeitura de Belo Horizonte informa, por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), que não tem registro da implantação/colocação das pedras na praça Olavo Kafunga, uma vez que não foi feita qualquer intervenção por parte da Gerência Regional de Manutenção Pampulha nesse sentido”.

Edição: Roberth Costa
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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