De cinema a shopping, Cine Nazaré reunirá artesãos no centro da capital

Espaço contará com 48 estandes para comercialização de produtos

Os que têm mais de 30 anos devem se lembrar do Cine Nazaré, o confortável cinema que funcionava no edifício Nazaré, localizado bem no início da rua Guajajaras, no centro de Belo Horizonte. Inaugurado no final dos anos de 1960, o cinema não primava pela exibição dos chamados filmes de arte, como o Pathe, por exemplo. Mas exibia bons filmes.

O Nazaré tentou, o quanto pôde, resistir à migração dos chamados cinemas de rua para os shoppings. Nos anos 90, a enorme sala foi dividida em três. Mas, nem assim, resistiu à passagem do tempo e, há 23 anos, no dia 31 de janeiro de 1994, fechou suas portas definitivamente.

A novidade é que o espaço do antigo Cine Nazaré irá ressurgir, não como um cinema, mas como um shopping de artesanato. Por R$ 3 milhões, o imóvel foi adquirido em um leilão pelo empresário Mário Valadares, também proprietário do Shopping Oiapoque.

Vista do hall de entrada no interior do cinema (Maick Hander/Bhaz)

Em entrevista ao Bhaz, ele afirmou que o objetivo é complementar a feira de artesanato que existe no local. “No novo shopping haverá a comercialização exclusivamente de bolsas e calçados de couro”, afirma.

A feira de artesanato existente na região é setorizada e de acordo com Mário, “na ponta da Guajajaras ficam os expositores de couro, por isso a definição desses produtos que serão comercializados”, destaca. Ao todo, serão 48 lojistas no espaço que foi adquirido no ano passado.

“Fizemos um bom investimento no espaço, que passará a ser mais uma opção para a população da capital”, afirmou Mário.

Para Carlos Augusto Dias, zelador do shopping, a expectativa é a melhor possível para o início dos trabalhos. “Mais da metade do espaço já está alugado e os valores variam de R$ 600 a R$ 1.800. Estamos recebendo muitas visitas, tanto de artesãos que pretendem aproveitar o espaço para comercializar seus produtos, quanto de pessoas que conheceram ainda como cinema e desejam ver no que se tornou”, diz.

Carlos será o responsável por gerenciar a relação entre os lojistas e a empresa e ressalta que foram feitas diversas obras para adequar o espaço a nova realidade. “Refizemos a parte elétrica por completa, pois as antigas instalações não suportariam as três tomadas necessárias por estande e a de telefone”, relata. A parte estrutural também foi reformada; o piso passou a ser de granito, a iluminação ampliada. “O que falta para podermos funcionar é o alvará de funcionamento, emitido pela prefeitura. Acreditamos que ele estará em nossas mãos até outubro”, afirmou.

Espaço passou por reformas como, por exemplo, na parte elétrica (Maick Hannder)

Receio e desejo que o empreendimento dê certo

Há 40 anos que o cabeleireiro aposentado João Bosco de Oliveira Cândido, 70 anos, reside e possui um salão de beleza no condomínio Nazaré. Com isso, presenciou muitas coisas que aconteceram no antigo cine, desde a época do grande público até o declínio. “O cinema lotava na época áurea, vinham desde pessoas comuns a famosos. Conheci artistas como Patrícia Pillar, o autor Ziraldo e muitos outros que até esqueço o nome”, diz.

O aposentado relata que o fim do cinema foi “decretado” quando colocaram filmes eróticos para serem apresentados. “A concorrência com a vinda dos shoppings já era difícil; depois colocaram esses filmes, viram que não ia dar público e tentaram colocar os filmes tradicionais. Mas, era tarde demais e o espaço precisou ser fechado de vez”, lembra.

João conta que os moradores do condomínio Nazaré, que é exclusivamente residencial, tinham o único receio de que o espaço virasse igreja evangélica. “No começo do ano, por dois meses, o espaço foi alugado para uma igreja. Eles frequentavam tão pouco que não foi pra frente”.

A vinda do shopping gera no comerciante a expectativa que dê certo, mas também o receio de que não “vá para frente”. “O espaço é distante da rua e, com a crise que o país vive, as pessoas não estão querendo gastar”, analisa o aposentado. Porém, um fator faz com que João Bosco veja novamente a galeria repleta de pessoas: o empresário Mário Valadares como proprietário do espaço. “Todos sabem que esse rapaz não erra nos investimentos. Se der certo para ele, nós, que temos comércio na galeria, também seremos beneficiados. Estamos na torcida”, concluiu o comerciante.

 

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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