“Um atraso de meia hora impediu que eu fosse mais uma das vítimas”, desabafa Márcia Regina do Nascimento, que mora no distrito de Casa Branca, a 7 quilômetros de Brumadinho, e o ponto de rompimento das barragens no córrego Mina do Feijão. Segundo ela, a tragédia vitimou vários amigos de infância e conhecidos. “Parece que não é verdade o que estamos vivendo. Meu Deus!”.
A tragédia ocorrida na região metropolitana de Belo Horizonte tem mobilizado forças nacionais e internacionais no resgate das vítimas e, desde a última sexta-feira (25), alterou completamente a vida na cidade. “A lama destruiu Brumadinho humanamente e economicamente”, afirma Márcia.
Muitos conhecidos e alguns amigos de Márcia estavam trabalhando no complexo da Vale durante o rompimento das barragens e alguns deles continuam desaparecidos. Ela faz um comparativo do desastre ocorrido em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, em 2015, e o de agora para demonstrar seu sentimento. “Quando houve o rompimento de Mariana doeu demais, mas agora estou sangrando. Perdi vários colegas de escola. É um sentimento que não dá para descrever. Parece que não é verdade”.
Apesar de os rejeitos não terem atingido o local onde mora, Márcia conta que a estrada que liga Casa Branca a Brumadinho ficou completamente destruída. “Estamos sem poder nos deslocar pela antiga estrada. Por isso que eu seria mais uma das vítimas se minha volta de Betim para a casa não tivesse atrasado”, diz ela, explicando a frase que inicia esta reportagem.
“É triste ver tantos sonhos sendo interrompidos. A cada história, uma tristeza. Por sorte, o esposo da minha amiga não morreu. Ele saiu do refeitório um pouco antes do rompimento”, conta.
De acordo com a moradora, a relação entre a comunidade e a Vale não é das melhores. Márcia conta que o diálogo da mineradora com eles é mais “protocolar”. “Se a gente já tinha desprezo pela Vale, hoje nós queríamos nunca mais ouvir esse nome na vida. Eles só reúnem com a gente para tirar foto e falar no jornal que está tudo certo”, conclui.