‘Uma coisa bem precária’: Metrô BH acumula queixas após privatização, de tarifa mais cara a falhas técnicas; confira

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O BHAZ organizou, em uma linha do tempo, os principais acontecimentos relatados pelos usuários do metrô de BH desde a privatização (Amanda Dias/BHAZ)

Há pouco mais de um ano, em 23 de março de 2023, o metrô de BH foi concedido à iniciativa privada em um contrato que tem duração de 30 anos. De lá para cá, se tornaram cotidianos os problemas enfrentados pelos usuários. Panes elétricas, estações superlotadas e atrasos nas viagens são algumas das reclamações apresentadas pelos usuários nos quase 400 dias de privatização do metrô de BH.

“Tá uma coisa bem precária. Tem hora que demora muito e vem muito lotado. Se aumentassem um pouco o fluxo de ‘metrôs’ ficaria melhor. Às vezes, eu fico esperando 40 minutos, tenho horário pra pegar serviço, então é complicado”.

A queixa da estudante Jaqueline Oliveira está longe de ser uma percepção individual. Até 30 de abril deste ano, conforme apurou a reportagem, o metrô de BH funcionou com horários irregulares por ao menos 30 dias, ou seja, o metrô não funcionou regularmente pelo menos uma vez a cada quatro dias nos primeiros quatro meses de 2024.

“Tem vezes que o metrô parou lá na frente, fora da estação, e não teve como entrar ninguém. A gente tá achando péssimo, né? Pagamos R$ 5,30 e não vemos nenhuma melhoria significativa. E é perigoso demais, se tiver alguma criança ou um idoso?”, observa a também estudante Ana Laura Machado.

O problema é sistêmico e, na visão dos trabalhadores, foi intensificado pela falta de mão de obra. Somente em abril, mais de 200 funcionários foram demitidos do Metrô BH, empresa do Grupo Comporte, e a categoria agora luta na Justiça para manter os empregos.

Para entender melhor como começaram a surgir os problemas relacionados ao transporte, o BHAZ organizou, em uma linha do tempo, os principais acontecimentos relatados pelos usuários do metrô de BH desde a privatização. Confira abaixo:

Aumento na tarifa

Em pouco mais de seis meses de privatização, a tarifa do metrô de BH sofreu um reajuste significativo. Em 1º de julho de 2023, o usuário do transporte coletivo passou a pagar R$ 5,30 por viagem.

Antes disso, a passagem custava R$ 4,50. O Metrô BH disse, na época, que a atualização do valor em 17,78% está prevista no contrato de concessão e corresponde à inflação entre março de 2021 e março de 2023, período em que o preço da passagem ficou sem reajustes.

Explosão

Em 14 de janeiro deste ano, houve uma explosão seguida de incêndio na estação do metrô Minas Shopping, no bairro Fernão Dias, região Nordeste de Belo Horizonte.

Por volta de 23h, houve um intenso temporal com raios. A cada trovoada, um clarão se abria no céu, e, como relatado por uma internauta no X, antigo Twitter, o chão tremia. “Parecia um bombardeio aéreo”, relatou outro leitor.

Vídeo feito por moradores do bairro Fernão Dias mostra a enorme bola de fogo que se formou após explosões na linha de transmissão do metrô. O incêndio durou alguns minutos, mas, segundo o Corpo de Bombeiros, não foi registrado chamado para atendimento no local.

Na ocasião, o sistema sofreu danos por causa de um raio e o serviço teve que operar com intervalo de 20 minutos de 15 a 19 de janeiro para manutenção.

Passageiros descem nos trilhos

Dois dias depois, em 16 de janeiro de 2024, o metrô de Belo Horizonte apresentou nova falha na rede elétrica. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram os passageiros presos dentro do vagão.

O metrô saiu da estação Minas Shopping em direção a José Cândido. No X, antigo Twitter, um internauta mostrou que os passageiros precisaram descer nos trilhos. De acordo com o Metrô BH, a situação foi decorrente de danos sofridos pelo raio que atingiu a estação.

Novo incêndio em estação gera pânico

Em 17 de janeiro de 2024, por causa de um incêndio que atingiu a fiação entre as estações Calafate e Carlos Prates, o trem precisou ficar parado por cerca de duas horas.

Ao BHAZ, a técnica ambiental Cindy Hemanuele, 20, conta que saiu do trabalho e pegou o metrô na estação Vila Oeste. O que era para ser uma volta para casa normal, contudo, acabou se tornando um pesadelo logo que ela chegou na estação seguinte.

“O metrô parou às 21h58, na Estação Gameleira. Até 23h43, a gente ficou parado no mesmo lugar. Deu barulhos muito altos, a gente não escutou o som do raio, mas sentimos um cheiro muito forte de fumaça e o metrô parou. Desligaram tudo e o pessoal começou a ficar em pânico”, narra a jovem.

O incêndio ocorreu entre as paradas Calafate e Carlos Prates, que fica a apenas uma estação de onde Cindy estava.

Passageiros presos em elevador

Em 19 de janeiro de 2024, pelo menos sete passageiros ficaram presos dentro de um elevador da estação Eldorado, em Contagem, na Grande BH.

De acordo com testemunhas, o elevador parou por volta das 17h e só foi reaberto cerca de 40 minutos depois. Os passageiros que circulavam ouviram os apelos das vítimas e buscaram ajuda.

Um vídeo registrou o momento em que os passageiros são liberados do elevador. Entre eles, idosos são vistos sofrendo por causa do calor.

Estação ‘invadida’ por torcedores e foliões

Em 3 de fevereiro de 2024, torcedores do Atlético foram flagrados pulando as catracas da estação Gameleira a caminho do clássico contra o Cruzeiro, na Arena MRV. No dia seguinte, 4 de fevereiro, dezenas de pessoas foram filmadas pulando grades e catracas na estação Minas Shopping. A situação provocou medo nos funcionários que estavam no local.

Na época, ao BHAZ, a presidente do Sindmetro-MG disse que a quantidade de seguranças que operava no local não conseguiu conter as pessoas que invadiram a estação na saída de um bloco realizado na avenida Pastor Anselmo Silvestre, no bairro Dom Joaquim, na região Nordeste de BH.

“Não tem como fazer nada se não tem funcionários o suficiente para coibir. A orientação era que os trabalhadores ligassem para a PM, mas isso era obrigação da empresa. Não tem nem telefone na estação que possa falar sequer com o RH, mais uma vez o empregado vai ter que usar suas coisas pessoais para fazer a segurança dele”, disse Alda Lúcia.

Metrô apresenta falha técnica

Em 26 de fevereiro deste ano, os trens circularam em baixa velocidade e com intervalos acima do normal. Ao BHAZ, a presidente do Sindimetro-MG disse que houve um problema técnico no centro de controle do metrô.

Alda Lúcia disse, na ocasião, que o centro de controle perdeu o comando da via e, com isso, não conseguiu injetar os trens. Naquele dia, um trem do Eldorado até o Gameleira estava a 25 km/h.

Ainda de acordo com Alda, até mesmo o trem com os trabalhadores do sistema teve dificuldade para sair de manhã. Além do atraso nas viagens, alguns passageiros relataram que foram barrados nas estações por causa da superlotação.

Demora e superlotação nas estações

A escala de circulação do metrô de BH também tem dificultado a vida de quem depende do sistema desde a privatização. Em função de obras de revitalização das vias, os trens circularam em intervalos maiores do que o comum.

Em 11 de março deste ano, passageiros disseram que “estava impossível pegar o metrô”. “O trecho entre as estações São Gabriel e Santa Tereza estavam lotados de manhã”, relatou a técnica em Enfermagem Lucia Paula de Souza.

“Quando o metrô chegou, não teve como entrar. As pessoas eram empurradas, o metrô fechava a porta com metade do corpo das pessoas pra fora”, completou.

Estação inundada

Em 5 de abril, após fortes chuvas que atingiram BH, a Estação Central do metrô foi tomada pela água e ficou alagada. Nas imagens filmadas pelos passageiros, um funcionário aparece retirando a água com um rodo.

Demissão em massa

Nos dias 4 e 5 de abril de 2024, o Metrô BH realizou uma demissão em massa e, ao todo, 230 funcionários foram desligados sem justa causa pela empresa que assumiu o serviço desde a privatização.

O Sindimetro-MG entrou com uma ação na Justiça e conseguiu, por meio de liminar, a recontratação de 8 trabalhadores. Novos funcionários serão incluídos na ação. A Justiça ainda proibiu o Metrô BH de demitir mais funcionários sem motivo.

O que diz o Metrô BH?

O BHAZ procurou o Metrô BH para obter um posicionamento referente aos problemas apresentados na reportagem. Segundo a empresa, “desde a concessão do metrô de Belo Horizonte, em março de 2023, o sistema opera de forma mais eficiente”.

“As melhorias graduais refletem o empenho da empresa em proporcionar regularidade, pontualidade e conforto ao usuário. Como resultado desses esforços, pode-se citar que a empresa reduziu as evacuações dos trens de uma média mensal de 30 para somente uma por mês”, argumenta o Metrô BH.

“O tempo médio de percurso entre as Estações Vilarinho e Eldorado foi reduzido em 16%, de 55 para 46 minutos. Já o número médio de viagens em atraso, diminuiu de cerca de 35 para três. Atualmente, o Metrô BH atende cerca de 100 mil usuários nos dias úteis”, acrescenta a nota.

Entre as melhorias, o Metrô BH destaca “a revitalização de todas as estações da linha 1, a compra de novos trens equipados com ar-condicionado e diversas atualizações tecnológicas de sistemas, como os de controle e segurança dos trens, via permanente, iluminação e hidráulico”.

A empresa também argumentou que tem buscado a modernização do serviço, com ampliação das formas de pagamento e fornecimento de wi-fi gratuito nas estações e nos trens, por exemplo.

O BHAZ também procurou a Seinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais), que é o órgão que regula a atividade em Belo Horizonte. Em nota, a pasta informou que “não tem registro nos canais oficiais de atendimento de demandas relativas à superlotação de estações, panes elétricas e atrasos do metrô”.

Os usuários do metrô podem encaminhar reclamações sobre os serviços prestados pela concessionária para o telefone 162, da Ouvidoria Geral do Estado (OGE), ou ainda pelo WhatsApp (31) 3915.2022.

As denúncias também podem ser feitas pelo site da OGE no menu “Desenvolvimento e Infraestrutura” e do Seinfra, no menu “Fale Conosco”.

Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

Asafe Alcântara[email protected]

Coordenador de mídias digitais e repórter, no BHAZ, desde setembro de 2021. Atualmente concilia como repórter na Record TV Minas.
Jornalista graduado pelo UNI-BH, com experiência em redações de veículos de comunicação, como RedeTV! BH, TV Band Minas, TV Alterosa, TV Anhanguera (afiliada Globo GO), TV Justiça e CNN Brasil.

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