Estudante denuncia assédio sexual durante treinamento de estágio em academia de BH

A estudante denuncia ter sido alvo de assédio sexual por parte de um coordenador da Pratique Fitness enquanto fazia treinamento para estágio (FOTO ILUSTRATIVA: Banco de imagens/Pixabay)

Uma estudante de educação física denuncia ter sido assediada nessa quinta-feira (3) durante um treinamento de estágio em uma academia localizada no bairro Jaraguá, na Pampulha, em Belo Horizonte. Isabella Santiago, 21, conta que o coordenador da academia avaliava os conhecimentos dela sobre determinados movimentos, quando abaixou o top que ela usava e a tocou nos seios.

A jovem procurou imediatamente a delegacia para relatar o abuso. Em nota enviada ao BHAZ, a academia Pratique Fitness informou que o funcionário foi afastado e que o caso será investigado internamente (veja abaixo). Em conversa com a reportagem nesta sexta-feira (4), Isabella conta como tudo ocorreu.

“Fiz a entrevista de emprego na segunda-feira (31) e fui ontem fazer o treinamento. Assim que entrei na sala dele, ele estava sem camisa. Eu logo olhei para o lado oposto e pedi desculpas, mas ele disse que não tinha problema”, relata a estudante.

Isabella explica que o homem pediu que ela tirasse a blusa e ficasse só de top para que ele começasse a avaliar os movimentos que ela sabia fazer, como agachamentos, elevação pélvica e prancha. Em determinado momento, ele percebeu que a estudante possui uma fratura nos ombros.

“Ele pediu para eu ficar de pé, pediu para eu fazer um movimento com os braços e colocou os dedos no meu ombro. Ele se afastou um pouco e depois pediu licença, abaixou meu top e passou a mão nos meus seios. Eu falei ‘não’ na mesma hora, ele me pediu desculpas e disse que era ‘inevitável'”, relata.

‘Quando paro pra pensar, eu choro’

A estudante conta que o homem ainda elogiou seu corpo, a deixando constrangida. Ela ressalta também que faz estágios na área da educação física desde o começo do ano, mas que nunca precisou ser submetida a esse tipo de treinamento. Assustada, ela logo comunicou o ocorrido à família e procurou a delegacia para denunciar o caso.

Além disso, a relatou o ocorrido nas redes sociais de modo a alertar outras mulheres. “Nove meninas já entraram em contato comigo dizendo ser vítimas dele. Algumas vão fazer uma ocorrência. Já acionei a Justiça contra ele e agora vou entrar contra a academia também”, explica Isabella.

“Graças a Deus tenho uma família que me apoia muito e isso tem me dado forças. Mas todas as vezes que eu paro para pensar, eu choro. Hoje meus professores mandaram um buquê de flores para mim, mas quando me chamaram no portão eu fiquei com medo de sair”, conta ela.

Funcionário é afastado

Em nota enviada à reportagem, a Pratique Fitness disse ter afastado o funcionário envolvido após a repercussão do caso. A empresa informou, ainda, que o caso está sendo investigado internamente “para a devida apuração de todos os fatos” (leia na íntegra abaixo).

“A Rede de Academias tem por filosofia zelar pelo bem-estar e segurança de todos os seus frequentadores e colaboradores, e tomará todas as medidas judiciais cabíveis quando da conclusão das investigações e elucidação dos fatos por parte do poder público”, diz um trecho do comunicado.

Ao BHAZ, a Polícia Civil disse que instaurou inquérito para apurar a denúncia de importunação sexual. “Os envolvidos foram ouvidos e, por falta de elementos suficientes para prisão em flagrante, o suspeito foi liberado”, explicou a corporação.

Crime sexual

O crime de estupro é previsto no artigo 213 do Código Penal, e consiste em “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.

Mesmo que não exista a conjunção carnal, o criminoso pode ser condenado a uma pena de reclusão de seis a 10 anos.

O artigo 217A prevê o crime de estupro de vulnerável, configurado quando a vítima tem menos de 14 anos ou, “por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”. A pena varia de 8 a 15 anos.

Já o crime de importunação sexual, que se tornou lei em 2018, é caracterizado pela realização de ato libidinoso na presença de alguém e sem sua anuência.

O caso mais comum é o assédio sofrido por mulheres em meios de transporte coletivo, como ônibus e metrô. Antes, isso era considerado apenas uma contravenção penal, com pena de multa. Agora, quem praticar o crime poderá pegar de um a 5 anos de prisão.

Onde conseguir ajuda?

Caso você seja vítima de qualquer tipo de violência de gênero ou conheça alguém que precise de ajuda, pode fazer denúncias pelos números 181, 197 ou 190. Além deles, veja alguns outros mecanismos de denúncia:

  • Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher
  • av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190
  • Casa de Referência Tina Martins
  • r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221
  • Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher)
  • r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171
  • Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher
  • r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380
  • Aplicativo MG Mulher: Disponível para download gratuito nos sistemas iOS e Android, o app indica à vítima endereços e telefones dos equipamentos mais próximos de sua localização, que podem auxiliá-la em caso de emergência. O app permite também a criação de uma rede colaborativa de contatos confiáveis que ela pode acionar de forma rápida caso sinta que está em perigo.

Seja qual for o dispositivo mais acessível, as autoridades reforçam o recado: peça ajuda.

Nota da Pratique

A Rede de Academias, após conhecimento dos fatos, afastou o funcionário envolvido no ocorrido em caráter imediato, sendo que a empresa está realizando sindicância interna para devida apuração de todos os fatos relatados.

A Rede de Academias reitera que está à disposição para colaboração e elucidação do ocorrido junto às forças de segurança. A Rede de Academias tem por filosofia zelar pelo bem-estar e segurança de todos os seus frequentadores e colaboradores, e tomará todas as medidas judiciais cabíveis quando da conclusão das investigações e elucidação dos fatos por parte do poder público.

Sempre primando pela oferta dos melhores serviços e benefícios de todos os seus frequentadores, nos colocamos à disposição de todos para quaisquer esclarecimentos.

Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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