A Estação Conhecimento recebe desde o último dia 25 de janeiro familiares dos atingidos pelo rompimento da barragem da Vale no Córrego Mina Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. A falta de informação sobre os entes desaparecidos traz o pior dos sentimentos a estas pessoas: a angústia. E a cada nova lista divulgada ressurge a esperança de que o familiar tenha sido encontrado e que a angústia sentida tenha um ponto final, por mais que a dor seja inevitável.
Com o objetivo de ajudar os atingidos pela lama a enfrentar este momento, psicólogos e representantes de diversas religiões se colocam à disposição para ir ao encontro deles e ouvi-los. “Estamos tentando aliviar a dor, o sofrimento pela falta de informação. Sabemos que num momento como este palavras não preenchem o vazio que estas eles sentem”, diz o diácono Carlos da Silva.
Além do atendimento na Estação Conhecimento, os religiosos da Arquidiocese de Belo Horizonte estão visitando os moradores do Córrego Feijão. “É momento de acolhida das famílias. Precisamos levar o consolo e a palavra de força para eles”, afirma.
Entender a dor do outro não é tarefa fácil, mas necessária. Por conta disso, as psicólogas Ethyene Costa e Ana Flávia Souza estão indo ao encontro dos familiares dos atingidos para levar uma mensagem de esperança de que dias melhores virão, mesmo com toda dor. “A cada novo atendimento encontramos uma barreira para ser vencida, mas basta o primeiro contato e ela se transforma em ponte e une eles [assistidos] a nós”, diz Ethyene.
O apoio e a palavra de esperança vem de pessoas que moram tanto em Belo Horizonte como em outros estados. A Organização Não-Governamental (ONG) Extreme Impact reuniu seis voluntários de São Paulo para ajudar no atendimento às famílias dos atingidos. “O principal neste momento é abraçar essas pessoas e demonstrar à elas que compartilhamos a dor deles. É conforto para eles e também para nós”, afirma Gabriel Pietro, coordenador da ONG.
Viver o luto neste momento de tanta dor e incerteza é de suma importância para os familiares, pois somente desta forma eles conseguirão abrir novos caminhos para a vida que continua, como explica a psicóloga Ethyene. “Orientamos que eles chorem e coloquem para fora todo o sentimento. É um direito deles e só assim para conseguirem seguir adiante”, explica.
A psicóloga Ana Flávia realiza uma analogia comparando a dor enfrentada pelos familiares a uma linha férrea, algo popular na região atingida pelo mar de lama, para explicar o momento vivido pelas famílias. “A linha férrea tem uma peça chamada dormente e é ela que suporta toda a estrutura. Às vezes ela sai do lugar. Hoje temos várias dormentes na Estação Conhecimento e precisamos ajustá-las para que o trem possa ‘passar’ e a vida continuar”, diz emocionada.
Gratidão
O fato de serem os ouvidos daqueles que precisam de um amigo para desabafar traz aos voluntários e profissionais que trabalham no espaço o sentimento de gratidão. “O carinho das famílias nos consola. O que temos recebido faz com que nossas energias sejam renovadas para o próximo dia. Ao final de um atendimento que teve início com lágrimas, recebemos um sorriso do assistido. Somos gratos por tudo”, conta Ethyene.
A aceitação dos familiares com os atendimentos fará com que a ONG Extreme Impact volte a Brumadinho. “Estamos retornando para São Paulo certos de que dentre alguns meses retornaremos a Brumadinho para acompanhar essas pessoas que tão bem nos acolheram, mesmo em um triste momento”.