Idosos de BH oficializam casamento após 60 anos juntos: ‘Meu amigo, meu companheiro, meu esposo’

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Dona Gerli e seu José têm uma longa história de amor, que foi oficializada nessa semana em Belo Horizonte (Daniela Araruna/Arquivo pessoal)

Muitos casais sonham em oficializar a união em um casamento com festa grande, toda a “pompa e circunstância” e, é claro, na presença de pessoas queridas. Depois de 60 anos bem vividos, a oportunidade finalmente bateu à porta de dois idosos que vivem em Belo Horizonte e, aqui, construíram uma vida juntos.

Gerli Maria dos Santos, de 72 anos, e José Araruna Junior, 74, foi um dos casais contemplados pelo casamento comunitário da capital mineira. Promovida pela Defensoria Pública de Minas, a celebração tornou “oficial” o amor que eles alimentam diariamente desde a adolescência.

O Grande Teatro do Minascentro serviu de palco para o momento especial, nessa terça-feira (23). Dona Gerli conta ao BHAZ que o relacionamento começou lá atrás, quando os dois ainda eram muito jovens.

Ainda que o casamento não fosse “passado no papel”, os dois sempre prezaram pelo companheirismo e parceria ao longo das seis décadas juntos. A história de amor surgiu aqui em Belo Horizonte na década de 1960 e perdura até hoje, sem data para terminar.

O caminho até a aprovação da família

A união resistiu aos trancos e barrancos, incluindo a desaprovação de familiares que enxergavam o casamento com os moldes tradicionais da época. O pai dela era muito “sistemático”, já a mãe dele não apoiava o relacionamento por Gerli vir de família pobre.

Mas não pense que ela deu bola para ele logo de cara, viu? No começo, devido à pouca idade e alguns outros fatores, houve certa resistência. “Ele trabalhava lá em frente à minha casa, todas as vezes que passava piscava pra mim. Eu morria de raiva”, recorda Gerli, em meio a risadas.

Certo dia, a sanfoninha do pai dela quebrou e, enquanto ele tentava repará-la, adivinha quem chegou? Seu José, é claro! “Na manha”, o jovem encontrou a oportunidade perfeita e decidiu pedir a mão da pretendente em namoro. O futuro sogro ficou encantado e resolveu dar uma chance.

Dona Gerli e Seu José na juventude (Daniela Araruna/Arquivo pessoal)

A partir de então, os dois começaram a namorar sob a vigilância das famílias. Após descobrir que o genro tinha muito dinheiro, o pai de Gerli deixou de apoiar a união novamente. Eles chegaram a se separar por alguns meses em função desses empecilhos, mas usavam bilhetinhos para não perderam contato.

Não demorou muito tempo para que o homem notasse o carinho dos dois. Finalmente aceitando o relacionamento, José conseguiu comprar uma casa para chamarem de lar.

Criação dos filhos exigiu ‘garra’

Da união, surgiram quatro filhos e dez netos. A idosa conta à reportagem que foi difícil criar todos os filhos, principalmente devido à condição precária em que viviam. Muitas vezes, os dois deixavam de ter uma refeição para alimentar as crias.

“Nós somos todos muito agarrados, muito juntos. Não fazemos nada sem participar. Criamos eles com todos sacrificios, os que quiseram se formar se formaram”, diz.

Seu José sempre insistiu para que os dois formalizassem a união, mas Gerli era do time “deixa quieto”. Nas vésperas de completarem 60 anos juntos, ela viu um anúncio sobre o casamento comunitário da Defensoria Pública e deu a ideia, que foi aceitada após alguma reflexão.

“Hoje é tudo muito caro, né. Nós íamos fazer 60 anos e eu perguntei o que ele queria de presente, mas para um almoço. Ele disse: ‘O único presente que eu quero é que você case comigo’. Aí eu pensei: ‘poxa, tô ferrada'”, brinca.

Gerli, José e família no casamento comunitário (Daniela Araruna/Arquivo pessoal)

‘Enfim, casados!’

Dona Gerli escolheu o vestido desejado e, enfim, realizou o grande sonho de chamar seu José oficialmente de esposo. “Ele me vê como um cristal. Ele pra mim é meu amigo, meu parceiro, meu companheiro, meu marido, meu amor”.

Muita gente questiona o casal sobre o “segredo” de uma relação tão duradoura. “É a compreensão, um carinho, realmente nós aprendemos um com os outro. Ele me ensinou muita coisa, como também eu ensinei muita coisa. Tivemos que amadurecer juntos”, diz.

Esta foi a sexta edição do Casamento Comunitário de Belo Horizonte. Ao todo, 225 casais oficializaram a união por meio da iniciativa extrajucial, e mais de 100 se casaram presencialmente. O evento contou com dama de honra e pajem, além de um tapete vermelho e uma troca de alianças emocionante.

Daniela Araruna/Arquivo pessoal
Daniela Araruna/Arquivo pessoal
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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