Insatisfeitos, motoristas do Uber vão cruzar os braços e deixar BH em ‘ponto morto’

Divulgação

Mais de cem motoristas do Uber se reuniram na praça do Papa, na Zona Sul de BH, no fim da tarde dessa segunda-feira (8), para discutir insatisfações com o serviço. Organizados em grupos do WhatsApp, com cerca de 800 participantes, os condutores não concordam com o modo de operar do aplicativo e prometem uma grande manifestação para deixar a capital em “ponto morto” e exigir respostas a questionamentos enviados ao Uber, já que estariam sendo ignorados individualmente.

Além de pedir a abertura de diálogo com representantes do aplicativo, os motoristas querem que a forma como os lucros das corridas são divididos seja revista; que o Uber se posicione a respeito de casos que envolvem agressões por parte de taxistas; e ainda volte com a tabela que previa pagamento para horas paradas. A regulamentação do serviço em BH é outro ponto lembrado pelos colaboradores, que temem ser surpreendidos com o fim das atividades repentinamente e, assim, perder o trabalho.

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Reprodução/Uber

Atualmente, 25% do valor de cada corrida realizada pelos motoristas é repassado para a empresa. Os condutores consideram a porcentagem injusta por causa da crescente quantidade de veículos cadastrados para oferecer o serviço na capital. Ao portal Bhaz, um dos líderes de grupos Uber explica que o excesso de carros na cidade tem feito com que centenas de trabalhadores fiquem parados e realizem poucas corridas ao longo de uma jornada inteira. Na contramão, o aplicativo segue lucrando.

“Vários motoristas procuraram o Uber para falar sobre essas insatisfações, mas geralmente somos ignorados. Eles dizem que vão estudar as possibilidades e que vão entrar em contato, mas nunca retornam. É uma falta de respeito”, diz Rodrigo Amaral, de 43 anos. “A gente quer melhorias para que a situação fique boa para todos os envolvidos”, diz o homem, motorista do Uber há cinco meses.

Reprodução/Raul Aragao /I Hate Flash
Reprodução/Raul Aragao /I Hate Flash

“Se o Uber continuar contratando motoristas, vão faltar passageiros. Às vezes, você sai com o carro e chega a ficar até 1h parado sem trabalhar. No começo, isso era compensado com uma tabela que previa um pagamento por horas paradas. Mas, esse recurso foi cortado sem nenhuma explicação”, conta Rodrigo. “Não estamos reclamando à toa, ao contrário do que as pessoas podem achar. O problema é que para ter uma renda razoável a gente precisa dirigir cerca de 14h por dia, sem contar que bancamos os custos operacionais dos carros. Chega a ser desumano”, completa.

Em relação à rivalidade com taxistas, Rodrigo afirma que muitos motoristas evitam fazer determinados trajetos para não encontrar os concorrentes e que o aplicativo não dá suporte às vítimas. “Se um Uber encontra vários taxistas juntos é problema na certa. No Jardim Canadá, em Nova Lima, por exemplo, muitos motoristas não vão até os salões de festas. A gente tem medo do que pode acontecer”, diz. “Vários casos já foram noticiados e a insegurança existe: a gente sai para trabalhar e não sabe se volta para a casa. É por isso que queríamos um apoio do Uber em relação a essas violências’, clama.

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Diversas ocorrências de agressão envolvendo taxistas e ubers já foram registradas na capital.
Reprodução/Facebook

“Vamos realizar uma grande manifestação para ver se somos atendidos, pelo menos para que o diálogo seja aberto. A gente se preocupa com o bem-estar e o bom atendimento dos usuários, mas também precisamos nos preocupar com o que nos afeta diretamente”, pondera Rodrigo.

Procurado pelo Bhaz, o Uber informou nesta terça-feira (9) que considera a quantidade de carros cadastrados no serviço como parte essencial do processo de geração de renda para os motoristas. Segundo o aplicativo, dados colhidos em mais de 400 cidades nas quais atua mostram que quanto maior é a quantidade de veículos disponíveis maior é o lucro dos colaboradores, já que os mesmos passam a fazer mais viagens por hora e ficam menos tempo rodando entre uma viagem e outra.

O Uber ainda repudia qualquer tipo de violência gerada contra os colaboradores e que eles têm o direito de trabalhar garantido pela lei, mas não há nenhuma ação prática para tentar impedir ou amenizar os casos, nem suporte para as vítimas. “Uber considera inaceitável o uso de violência. Todo cidadão tem o direito de escolher como quer se movimentar pela cidade, assim como o direito de trabalhar honestamente”, informa um trecho da nota enviada ao Bhaz.

Reprodução/Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas
Reprodução/Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas

“Orientamos os usuários a contatar imediatamente as autoridades policiais sempre que se sentirem ameaçados. É importante também fazer um Boletim de Ocorrência para que os órgãos competentes tenham ciência do ocorrido e possam tomar as medidas cabíveis”, explica. “Seguimos trabalhando para que o aplicativo seja regulamentado e as condições de trabalho se tornem ainda mais favoráveis para nossos colaboradores”, diz. Na capital, o serviço tem permissão para funcionar graças à uma liminar.

Em relação à negociação de repasses, o Uber explicou que a alteração depende de estudos e que os 25% são descontados das viagens desde que o serviço foi lançado. O Bhaz não teve retorno sobre a extinção da tabela que previa compensação por horas em que motoristas ficavam parados.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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