Modelo denuncia transfobia em espaço de eventos em BH: ‘Homem vestido de mulher não pode’

beagá rooftop
Anthonella Carvalho foi vítima de transfobia no último sábado (Arquivo pessoal/Anthonella Carvalho)

A modelo Anthonella Carvalho, 24, denuncia ter sido alvo de transfobia dentro do Beagá Rooftop, um espaço de eventos na região da Pampulha, em Belo Horizonte, no sábado (18). Ela relata ter sido impedida, por uma segurança, de entrar em um local reservado para mulheres.

A jovem registrou boletim de ocorrência e a Polícia Civil analisa o caso. Já os responsáveis pelo espaço divulgaram nota em que “a casa pede desculpas e garante que tal situação não ocorrerá novamente” (veja na íntegra abaixo). É válido reforçar que transfobia é crime previsto por lei.

De acordo com Anthonella, ela chegou junto com outras pessoas para comemorar o aniversário de um amigo, por volta das 15h30. No local, há um espaço de open bar feminino, no qual somente mulheres podem entrar, das 15h às 17h.

Segundo a modelo, a atendente autorizou que todas as quatro pessoas que estavam com ela subissem para o open bar. A funcionária chegou a entregar quatro copos para os clientes. Então, a vítima foi com os amigos para o local. Como o aniversariante era homem, a segurança pediu que ele se retirasse. O que prontamente aconteceu, de acordo com a jovem.

‘Homem vestido com roupa de mulher’

“A segurança chamou meu amigo para conversar e eu estava junto com ele na hora. Ela disse que precisaria apresentar documento de identidade para comprovar que eu era mulher. Logo depois, ela disse assim: ‘Homem vestido com roupa de mulher não pode, não é do sexo feminino'”, relata a modelo.

Nesse momento, Anthonella relata que todos ficaram sem acreditar no que estava acontecendo. O aniversariante começou a chorar e a modelo também. “O chefe da segurança veio até nós e pediu desculpas, disse que não era interessante perder uma lista de 45 convidados, que ainda estavam chegando”. A vítima ainda disse que, como forma de amenizar a situação, o funcionário ofereceu um drink de graça para cada, mas eles não aceitaram.

Muito abalados, a modelo e os convidados optaram por se retirar do evento. “Encontramos com um dos sócios do lugar quando estávamos lá embaixo. Ele estranhou aquela quantidade de gente saindo ao mesmo tempo. Na hora, já estávamos em 20 pessoas, acho”.

Humilhação

“Ele pediu para conversar comigo em particular, mas eu não quis. Estava muito abalada naquele momento”, desabafa. “Eu me senti totalmente humilhada diante da situação. A mãe do meu amigo estava lá, outros amigos também, todos viram. Eu nunca tinha passado por isso. A gente escuta, mas não sabe como é até sentir na pele. Eu chorei muito, meus amigos também, foi uma sensação que eu não sei nem explicar”.

A jovem registrou boletim de ocorrência na tarde desta segunda-feira, e fala sobre a importância de denunciar. “A gente não pode deixar situações como essa acontecerem. Já estamos em 2021. O mínimo que todos deveriam saber é respeitar o próximo. Ainda mais por se tratar de uma equipe de segurança que trabalha com o público”, completa.

Por meio de nota (leia abaixo na íntegra), a Polícia Civil disse que “recebeu o registro de ocorrência na tarde desta segunda-feira”. O órgão informou que “o caso será analisado pela Delegacia Especializada de Investigação a Crimes de Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas”.

O que diz o local

Por meio de nota (leia abaixo na íntegra), o Beagá Rooftop disse que “não coaduna com nenhum tipo de preconceito”. A casa pediu desculpas pelo ocorrido e garantiu “que tal situação não ocorrerá novamente”.

O estabelecimento ainda disse que “está de portas abertas para público de todos os gêneros”. No fim da nota, o local ainda convidou “o reclamante e seus amigos para outra oportunidade retornar à casa com condições especiais”.

Crime

Vale reforçar que homofobia e transfobia são crimes previstos por lei. Eles entram na lei do racismo, já existente há 30 anos e, com isso, as punições são semelhantes. O STF (Supremo Tribunal Federal) criminalizou a homofobia em junho de 2019.

Veja o que é considerado crime:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
  • a pena será de um a três anos, além de multa;
  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;
  • a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema

Nota do Beagá Rooftop

“O Beagá Rooftop esclarece que não coaduna com nenhum tipo de preconceito. Esclarece que a casa oferece open bar de caipirinha para o público feminino no horário compreendido entre 15 e 17h, em espaço reservado, com acesso permitido apenas para o referido público.

Quanto ao episódio ocorrido no último sábado, em que uma cliente trans foi impedida de acessar o local pela equipe de segurança, a casa pede desculpas e garante que tal situação não ocorrerá novamente. Um dos sócios da casa ao chegar no estabelecimento e ser colocado a par da situação ofereceu ao cliente que havia realizado a reserva combo de bebidas como cortesia da casa em pedido de desculpas.

Além do combo, que já faria jus como brinde aniversariante, porém o cliente em questão optou por não permanecer na casa alegando que não haveria mais clima para permanecer no local juntamente com seus convidados. O que foi respeitado pela casa, sendo devolvido aos clientes os valores pagos na entrada referentes ao couvert artístico.

A casa enfatiza que está de portas abertas para público de todos os gêneros. Convida o reclamante e seus amigos para outra oportunidade retornar à casa com condições especiais”.

Nota da Polícia Civil

“A Polícia Civil de Minas Gerais informa que recebeu o registro de ocorrência na tarde desta segunda-feira. O caso será analisado pela Delegacia Especializada de Investigação a Crimes de Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas”.

Edição: Roberth Costa
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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