Gatos morrem por suspeita de envenenamento em BH e moradora avisa: ‘Lei do retorno não falha’

faixa envenenamento gatos
A morte de cinco gatos de rua que viviam na rua Antônio Dias, no bairro Santo Antônio, despertou revolta em uma moradora (Larissa Reis/BHAZ)

Ao menos cinco gatos que viviam na rua Antônio Dias, no bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, morreram nas três últimas semanas. A suspeita de quem mora por lá é de que algum vizinho tenha colocado veneno para os animais, que foram sendo encontrados mortos de forma gradativa na região.

Revoltada com a situação, uma moradora, até então desconhecida pelos vizinhos, resolveu tomar uma iniciativa. No alto da rua, perto da sede da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), ela afixou um recado “afrontoso” e que não passa despercebido por quem caminha por lá.

“Assassino de gatos: a lei do retorno não falha”, diz uma grande faixa presa em dois postes. O BHAZ esteve na rua Antônio Dias e conseguiu conversar com a autora da faixa que tem intrigado os moradores da região. É que a maioria das pessoas que vivem ou trabalham por lá não fazem ideia de quem está por trás do recado que apareceu “do dia para a noite” no local.

‘Coloquei para todo mundo saber’

Encontrar o paradeiro da “justiceira” não foi difícil: bastou ir de encontro a uma colônia de gatos que vivem na rua. Em alguns minutos, ela apareceu para alimentar os animais, os quais trata como filhos, com ração “super-pemium”. À reportagem, Fernanda Santos diz atuar como defensora de animais há 30 anos.

Só para cuidar dos gatos da rua Antônio Dias ela gasta, há mais de cinco anos, um valor mensal de R$ 750 – valor investido em ração e atendimento veterinário. Segundo Fernanda, o intuito da faixa era justamente chamar a atenção dos vizinhos ao problema que parecia restrito apenas a uma “bolha” de moradores do bairro.

“Uma moradora aqui da região achou o corpo de um dos gatos na esquina e que parecia que ele tinha sido envenenado. Fui coletando informações com o vigia da rua e moradores e coloquei a faixa para todo mundo saber que aqui na rua tem a suspeita de alguém que está envenenando”, conta ela.

Além da faixa, Fernanda também afixou cartazes em postes e árvores da rua com o intuito de confrontar o suposto autor dos casos de envenenamento em série. “Algumas delas estão sendo retiradas por alguém”, explica a ativista.

Cartaz foi afixado em um dos postes da rua Antônio Dias (Larissa Reis/BHAZ)

Polícia investiga suposto envenenamento

Ontem (12), Fernanda procurou a delegacia para denunciar o suposto envenenamento. Ao BHAZ, a Poícia Civil informou que “já há procedimento preliminar apuratório em trâmite na Delegacia Especializada em Investigação de Crime Contra a Fauna”. Segundo a corporação, a investigação vai apurar, inicialmente, se realmente a morte dos gatos se deram em decorrência de crime ou de causas naturais.

“Havendo indícios de crime ambiental, o competente inquérito será instaurado para a apuração da completa materialidade do crime e sua autoria”, explica a PCMG (leia a nota na íntegra abaixo). Com a denúncia, Fernanda espera conseguir dormir mais tranquila em relação aos gatos criados de forma voluntária por ela.

“Eu sou protetora há mais de 35 anos, sou vegana, amo bichos, tenho em casa cinco gatos e, inclusive, dois deles eu resgatei na escola que eu trabalho em Contagem. É por amor, faço isso por altruísmo, não tem outra finalidade. Ainda não os tirei da rua, pois são gatos adultos e não consigo adotantes”, explica ela.

Equipe de zoonoses vai até o local

Após a morte dos cinco gatos, restam quatro em uma das colônias da rua Antônio Dias. São um macho, uma fêmea já castrada e dois filhotes. Ao BHAZ, um vizinho que preferiu não se identificar conta que os gatos sempre existiram na rua e que a própria comunidade precisou atuar no controle populacional, arcando com as castrações.

“Os gatos não são abandonados. Moro aqui no bairro há mais de 40 anos e sempre teve gatos de rua aqui, mas poucos. O que aconteceu é que uma gata migrou para cá há uns seis anos e ela teve várias ninhadas aqui. Esses gatos costumam migrar e criar outras colônias em volta. Alguns poucos fixaram aqui perto de casa”, explicou ele.

Dois gatos adultos e dois filhotes ainda vivem no local (Larissa Reis/BHAZ)

O morador disse já ter acionado o serviço de zoonoses por meio da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), mas nenhuma equipe foi ao local para averiguar a situação. O BHAZ procurou a administração municipal que informou, em nota, não ter localizado nenhuma solicitação desta natureza nos últimos três meses.

Ainda assim, a PBH garantiu que “uma equipe irá até a região para verificar a situação”. Segundo o Executivo municipal, o Centro de Controle de Zoonoses realiza o recolhimento de cães e gatos encontrados soltos nas vias e logradouros públicos, sem a presença de um tutor. Em 2022, 936 cães e 644 gatos resgatados.

“O trabalho é realizado por meio de solicitação da população, pelo telefone 3277-7411 ou 7413. Para fazer a denúncia é necessário informar o endereço ou um ponto de referência do local onde os animais foram vistos”, explica a PBH (leia na íntegra abaixo).

Nota da Polícia Civil

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que já há procedimento preliminar apuratório em trâmite na Delegacia Especializada em Investigação de Crime Contra a Fauna (Dema), visando investigar em primeiro lugar, se realmente a morte dos gatos se deram em decorrência de crime ou de causas naturais. Havendo indícios de crime ambiental, o competente inquérito será instaurado para a apuração da completa materialidade do crime e sua autoria.

Nota da Prefeitura de Belo Horizonte

A Prefeitura de Belo Horizonte esclarece que nos últimos três meses o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) não recebeu solicitação para recolhimento de animais no local informado. Uma equipe irá até a região para verificar a situação. O CCZ faz o recolhimento de cães e gatos encontrados soltos nas vias e logradouros públicos, sem a presença de um tutor. O trabalho é realizado por meio de solicitação da população, pelo telefone 3277-7411 ou 7413. Para fazer a denúncia é necessário informar o endereço ou um ponto de referência do local onde os animais foram vistos.

A Prefeitura desenvolve políticas em várias frentes para evitar o abandono, o tratamento inadequado e as doenças transmitidas por animais. O combate a crimes praticados contra os animais é feito com ações conjuntas do Departamento de Meio Ambiente, da Guarda Municipal, e do CCZ, da Secretaria Municipal de Saúde, e em parceria com a Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna, da Polícia Civil. É importante ressaltar que o abandono e maus tratos de animais é crime e deve ser denunciado à Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna de Minas Gerais, assim como investigação de casos de envenenamento de animais. 

Todos os animais que chegam ao CCZ passam por uma consulta com veterinário. Caso necessário, é iniciado tratamento adequado. Cães e gatos aguardam o período de dois dias após a captura para serem resgatados por seus tutores. Expirado o prazo, eles são disponibilizados para adoção nas dependências do Centro de Controle de Zoonoses, de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 16h30. Para adotar, é necessário ser maior de idade, apresentar carteira de identidade e comprovante de endereço. Animais adotados, com idade superior a 4 meses, saem castrados e microchipados. Filhotes abaixo de 4 meses saem com a castração garantida. 

A Prefeitura também oferece o serviço de castração de cães e gatos para a população. Atualmente a capital conta com cinco Unidades de Esterilização de Cães e Gatos, localizadas na região Barreiro, Leste, Nordeste, Norte e Oeste. Juntas, as unidades realizam cerca de 25 mil cirurgias por ano. Os agendamentos devem ser feitos pelo Portal de Serviços. No dia marcado para a castração, o tutor deve comparecer ao local usando máscara, manter distância mínima de 2 metros das outras pessoas, higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel 70% e não levar acompanhantes. Além disso, o dono do animal deve permanecer na unidade após a castração, até a alta.

Para serem submetidos à cirurgia, os animais devem ter no mínimo 4 meses de idade e no máximo 8 anos. Os filhotes de gatos devem pesar mais de 1,5Kg. Antes da cirurgia todos os animais passam por uma avaliação médica veterinária para identificar algum problema de saúde que impeça a realização da cirurgia naquele momento. A castração é um procedimento cirúrgico e exige que o animal seja devidamente preparado com antecedência, incluindo jejum hídrico (8 horas) e alimentar (12 horas), indispensáveis para a segurança do procedimento que envolve anestesia geral.

Cães e gatos recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) em 2022: 936 cães e 644 gatos.

Edição: Roberth Costa
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!