Para alguns brasileiros, não foi um domingo atípico

Enquanto uma onda de pessoas e meios de comunicação, neste domingo, falavam do impeachment, assistiam à votação ou manifestavam nas ruas, seja contra ou a favor, outras estavam em um lugar diferente. Esse lugar diferente pode ser chamado de: não pertenço, não me representa, não entendo ou não posso.

Qual o significado disso? Para entender melhor as diferentes ações das pessoas em um dia atípico do país, decidimos procurar o que ia contra a maré, e aqui chamamos de maré todos aqueles que estavam, de alguma forma, com a atenção voltada ao impeachment da presidente Dilma.

Conversei com Vitória, Mariana e Inês, todas funcionárias de uma padaria do bairro Paraíso, região Leste de Belo Horizonte. Para as funcionárias “não há saída, trabalhamos todo domingo, mesmo em um dia como esse, que o circo tá pegando fogo”. A padaria abre aos domingos e para Vitória mesmo se tivesse em um dia de folga “não gastaria meu tempo de folga nessa discussão, eu trabalho, trabalho, trabalho, e eles não estão nem aí, o problema maior é sempre o deles, e nunca o nosso, os que verdadeiramente trabalham”. Já Mariana, afirmou que talvez deixaria a TV ligada para escutar as votações, mas disse que “isso não tomaria muito do meu tempo, tenho três filhos pra cuidar e olhar, é o que importa na minha vida hoje”.

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Vitória, no caixa da padaria.

Na porta de um restaurante do bairro Serra, região Centro-Sul de BH, encontrei Anderson, funcionário do local que fazia uma pausa para o cigarro. Para ele hoje é um dia importante, “e há quem acredite na mudança, eu não sei, hoje em dia tô sem esperanças”. Afirmou ainda que, não deixaria de trabalhar para manifestar, porque não houve organização para isso, mas deixou claro que “chegando em casa vou ver o que vai tá acontecendo, mas agora eu prefiro ficar só com meu cigarro”.

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Intervalo do trabalho, para Anderson.

Entrei também no BH Shopping, na curiosidade de saber se o local estava cheio, com lojas fechadas ou funcionando normalmente. Sim, havia algumas lojas fechadas, mas a maioria estava aberta, e com consumidores. Na fila de uma das lojas, conversei com Marli, que estava no local comprando algumas roupas. Ela estava acompanhada de seu marido, Carlos. Marli disse que “não posso negar que sou consumista, mas estou numa fase da vida que me dá essa oportunidade, por isso estou aqui”. Começou a conversa dessa forma, mas logo afirmou que “ando preocupada com o futuro do país, mas na verdade faz muito tempo que tenho essa preocupação, agora na mídia ela só parece ser maior, sei não, só não quero ter medo, o medo trava as pessoas”. Seu marido, que a acompanha em tudo, disse que gosta de estar ao lado dela, e que “num momento como esse, prefiro relaxar do lado de quem eu amo”.

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Fila de uma loja do BH Shopping.

O shopping estava cheio para um dia que pode definir diretrizes do Brasil. Mas, no meio do “fogo cruzado” acontecendo em Brasília, para alguns é preciso levantar a cabeça e seguir em frente. E como disse Warley, morador de rua, que não deixou ser fotografado, “vamos esperar pra ver o que vem a seguir e vê se a população vai lutar por mudança, porque eu tô na rua e na rua ainda não vi mudança”.

Algumas pessoas estavam manifestando contra e a favor do impeachment, e outras em suas casas atentas à votação, mas a intenção aqui era encontrar quem não fazia parte desses grupos, e entender os seus motivos. O Brasil é grande, com uma população muito diversificada, que não pode ser reduzida a pequenos nichos, é preciso expandir e tentar olhar sempre para todos os lados. A tentativa aqui, mesmo que pequena, era essa: uma atenção diferente para o domingo de votação de impeachment.

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