Após críticas por exoneração de diretor, presidente da Fundação Clóvis Salgado nega ‘censura’ e posta espetáculo no YouTube

fundação clóvis salgado
Sérgio Rodrigo Reis explica que a Fundação Clóvis Salgado estaria passando por um processo de ‘recondução’ dos servidores (Asafe Alcântara/BHAZ)

O Palácio das Artes, um dos principais pontos de formação e difusão da cultura em Belo Horizonte, esteve no centro de um embate nas últimas semanas. Após a exoneração do diretor da Cia. de Dança, Cristiano Reis, e de outros servidores comissionados, a Fundação Clóvis Salgado se tornou alvo de críticas por uma suposta censura contra o espetáculo “.m.a.n.i.f.e.s.t.a.”, encenado em novembro do ano passado.

Em conversa com o BHAZ, o presidente da instituição, Sérgio Rodrigo Reis, negou as acusações e explicou que a exoneração de servidores de cargos comissionados acontece em toda transição de governo. Ele garante que todos os bailarinos ainda estão na companhia e destaca investimentos previstos para a programação 2023 no Palácio das Artes.

“A fala de que a companhia estava sofrendo censura não é verdade, não é uma fala dos bailarinos, é de uma bailarina amiga pessoal do diretor de dança [Cristiano Reis] que foi à imprensa para prestar aquelas declarações. A companhia se sentiu preterida do processo, pois ela não compactua com essa fala”, declarou ele.

Para reforçar o repúdio às acusações de censura, a Fundação Clóvis Salgado decidiu divulgar o espetáculo em seu canal do YouTube nesta semana. O “.m.a.n.i.f.e.s.t.a.” ocupou o palco do grande teatro do Palácio das Artes nos dias 5 e 6 de novembro do ano passado e atraiu um público total de 1.660 pessoas.

O movimento que questiona a exoneração de Cristiano afirma que existia uma data definida para reapresentação do espetáculo, que teria sido inviabilizada pela saída do profissional. A informação é contestada pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. “Não houve divulgação, por parte da Fundação Clóvis Salgado, de reestreia oficial do espetáculo e nem da possível data de apresentação no dia 15 de março de 2023”, informa o órgão por meio de nota.

Futuro da companhia de dança

Sérgio Rodrigo Reis diz que a Fundação Clóvis Salgado passa por um processo de “recondução” de parte dos servidores exonerados. Ainda há a necessidade de substituição de alguns profissionais. Após a saída de Cristiano, os próprios bailarinos fizeram uma lista com nomes de candidatos à diretoria da Companhia de Dança e eles serão analisados.

Perguntado sobre um possível retorno do antigo diretor à companhia, Sérgio afirma que houve “perda de confiança”. Cristiano Reis passou oito anos no cargo.

“Não vou acusar ninguém, mas é fato que ele [Cristiano] veio à imprensa com acusações de censura, com acusações de que a companhia estava sem bailarinos, com acusações de que estava se sentindo desprestigiado. O fato é que houve perda de confiança e quando isso acontece esse elo se dissolve”, ponderou.

‘Nunca vi censura póstuma’

O presidente da instituição explica que o “.m.a.n.i.f.e.s.t.a.” foi encomendado pela Fundação Clóvis Salgado e que contou com recursos captados pelo Governo de Minas e pelo Ministério Público. Ainda assim, foi necessário um “rearranjo” nas despesas da fundação para que o espetáculo acontecesse.

“Tudo o que quiseram, fizeram. Tudo que foi compactuado, foi cumprido. E agora não sei quantos meses depois vem com essa balela. Nunca vi na minha vida censura póstuma. A minha visão é que tentaram associar a não recondução naquele momento do diretor a essa situação e, aí, como mote tiveram essa história”, declarou.

O “.m.a.n.i.f.e.s.t.a.” foi disponibilizado no YouTube do Palácio das Artes e Sérgio espera que ele volte aos palcos tão logo haja recursos. “Esse falatório todo aguçou a curiosidade pra ver .m.a.n.i.f.e.s.t.a.. Não tem nada demais no espetáculo e, mesmo se tivesse, a companhia é super livre pra criar o que quiser”, reforçou ele.

Ex-diretor diz que governo tem que dialogar

O BHAZ conversou com Cristiano Reis, ex-diretor da companhia de dança do Palácio das Artes que foi exonerado em janeiro desse ano. O artista conta, com orgulho, que fez parte da companhia durante 22 anos – oito deles na direção.

Cristiano descreve as declarações do presidente da Fundação Clóvis Salgado como “vazias” e “neutras”, e argumenta que até hoje não lhe foi apresentado algum motivo plausível para a demissão. Para ele, a decisão foi tomada por ele ser um artista que “sempre se posicionou”.

“Esse não é um cargo político, gostaria de lembrar que para esse cargo eu fiz uma prova pública. Fiz uma carreira de 22 anos, então responder que é um cargo comissionado, que é livre nomeação e exoneração é a coisa mais sem resposta que existe”, argumentou. Cristiano passou por testes na época em que foi selecionado para ocupar a diretoria, apesar do cargo ser de fato comissionado.

“Eu entendo esse lugar neutro que ele se coloca, e foi assim desde o início. Quando escrevi pra ele pelo WhatsApp, ele me respondeu: ‘é, está acontecendo de alguns servidores não voltarem’. Me desculpa, mas isso não justifica (…) As pessoas que chegam a cada governo tem que dialogar com a companhia que existe lá dentro. Então qual é a proposta? A resposta dele é vazia e ele não se compromete”, acrescentou Cristiano.

O ex-diretor explica que o .m.a.n.i.f.e.s.t.a. foi inspirado no modernismo brasileiro e dirigido por duas profissionais da dança contemporânea. Na visão dele, o espetáculo promove uma reflexão sobre a arte que pode não ter sido bem aceita pela gestão atual do governo de Minas.

“Talvez o ‘.m.a.n.i.f.e.s.t.a.’ representa o lugar desse sujeito que pensa a arte, que pensa em um contexto político-social. Será que essa gestão, esse governo atual, está interessado nisso? Sendo que ele pode demitir uma pessoa que tá ali há 22 anos sem dizer nada. Então dá pra se pensar que o espetáculo não representa esse governo”.

O artista acredita ter sido um acerto a disponibilização do espetáculo no YouTube, embora ache que “é só uma resposta reativa à pressão que o governo e a fundação vêm sofrendo”.

Palácio das Artes ‘para todas as pessoas e para todas as artes’

As queixas de “desmonte” que surgiram após as exonerações também são refutadas pela direção da Fundação Clóvis Salgado. Sérgio conta que serão investidos R$ 18 milhões na “maior reforma que o Palácio das Artes já teve”, além de também apresentar novidades na programação do espaço.

“Para a arte se manifestar, precisam existir condições para isso. O público também precisa se sentir bem acolhido. É um desafio grande manter esse lugar atualizado, conservado e restaurado. Isso é uma grande preocupação nossa”, explicou.

Sérgio disse que, neste ano, o espaço vai receber diversas mostras experimentais e populares, além de projetos que visam levar o cinema ao grande teatro junto com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. A ideia, segundo o presidente, é criar atividades diversificadas de modo a atrair todos os tipos de público no local.

“A gente lança nos próximos dias um programa amplo que é o ‘Palácio das Artes no Circuito’. A ideia é que o Palácio das Artes deixe esse lugar monumental, mas que ele converse com o mundo, com a realidade que está fora dele. É um palácio para todas as pessoas e para todas as artes”, disse.

Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

Asafe Alcântara[email protected]

Coordenador de mídias digitais e repórter, no BHAZ, desde setembro de 2021. Atualmente concilia como repórter na Record TV Minas.
Jornalista graduado pelo UNI-BH, com experiência em redações de veículos de comunicação, como RedeTV! BH, TV Band Minas, TV Alterosa, TV Anhanguera (afiliada Globo GO), TV Justiça e CNN Brasil.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!