Após dez dias do assassinato de um idoso de 62 anos, a Polícia Civil chegou à conclusão de que ele foi morto por causa da intolerância racial. O crime aconteceu no último dia 31 de maio, no bairro Tirol, na região do Barreiro. O suspeito, que também é um idoso e tem 66 anos, era vizinho da vítima e, conforme os moradores, os desentendimentos entre os dois eram constantes (relembre o crime aqui).
O delegado responsável pelas investigações, Domênico Rocha, revelou, em uma coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (10), que o investigado e a vítima tinham um histórico de desentendimentos. As brigas, conforme a autoridade policial, eram motivadas por provocações de cunho racista por parte do homem de 66 anos.
“Tão logo as testemunhas começaram a serem ouvidas, ficou bastante claro para a Polícia Civil que a motivação era a intolerância racial do autor para com as pessoas negras. Foram ouvidas dez testemunhas. Essas dez testemunhas foram bastante contundentes e afirmaram que o autor era declaradamente racista e assumia de forma adepta esse seu sentimento desprezível”, detalhou o delegado. O indiciado dirigia ofensas declaradas a todas as pessoas de pele negra, conforme os depoimentos.
Briga começou no bar
No dia do crime, segundo a Polícia Civil, os dois estavam em um bar quando o investigado iniciou as provocações. Após uma discussão entre eles, a vítima decidiu ir embora. No entanto, o suspeito foi até a casa do desafeto, onde continuou com as ofensas. Armado com um porrete e uma faca, o suspeito iniciou as agressões, sem que a vítima conseguisse reagir.
De acordo com laudo da perícia, o idoso foi atingido com aproximadamente 20 facadas, além de ser espancado com um bastão. O delegado ressalta que alguns desses golpe acertaram a região do rosto, que é uma forma de ataque à dignidade e à identidade de uma pessoa, o que reforça a tese do racismo.
“Nunca é demais dizer que estamos vivendo um momento ímpar, com um movimento iniciado nos Estados Unidos, em razão da morte do George Floyd, e que motivou uma onda de protestos contra o racismo em todo o mundo. Podemos facilmente traçar um paralelo com a situação vivida no Brasil, que tem o racismo enraizado em sua cultura”, considerou o chefe da Divisão Especializada em Investigação de Crimes Contra a Vida, o delegado Emerson Morais, na mesma coletiva de imprensa.
Racismo até com a família
Durante a coletiva, o delegado Emerson Morais informou que o idoso é racista, inclusive, com pessoas de sua própria família. Ele desaprovava, por exemplo, o casamento do filho com uma mulher negra. Além disso, o suposto assassino se recusou a conhecer o neto por causa da cor da pele da criança.
Indiciamento
Além do homicídio qualificado pelo motivo torpe – o que significa motivação fútil – e pela impossibilidade de defesa da vítima, o suspeito vai responder também pelos crimes de racismo e injúria racial.
Racismo x Injúria racial
A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Já o racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível.