Sargento reformado é preso suspeito de assassinar ex-esposa em BH após 32 anos de agressões

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Assassinato aconteceu depois que ela se divorciou do marido (Polícia Civil de Minas Gerais/Divulgação)

Um casamento marcado por 32 anos de agressões físicas e psicológicas terminou com a morte de uma mulher de 50 anos, no dia 8 de outubro, em Belo Horizonte. O suspeito, um sargento reformado da Polícia Militar (PM) de 52 anos, foi preso pela Polícia Civil na última sexta-feira (5). Ele foi indiciado. O homicídio aconteceu depois que a mulher pediu divórcio do marido e um dia após ela solicitar medida protetiva de urgência.

A mulher foi assassinada dentro de casa, no bairro Mariano de Abreu, na região Leste da capital. Ela não morava mais com o ex-marido, já que, após anos de violência sofrida, teria decidido se divorciar dele, período em que o homem tentou por diversas vezes reatar o relacionamento.

A delegada Ingrid Estevam conta que “a vítima guardou em arquivos pessoais fotos das marcas das agressões que ela sofria por parte desse suspeito. Ela já teve o maxilar quebrado e também guardou um chumaço de cabelo que, em alguma briga, o homem arrancou da cabeça dela. Ela guardou como forma de demonstrar as agressões que ela vivia com esse indivíduo”.

Ainda segundo a delegada, a filha do suspeito, atualmente com 28 anos, intervia nas agressões sofridas pela mãe, e também era agredida. Ingrid Estevam relata que os dois filhos do casal cresceram vendo a mãe sofrer violências por parte do pai, assim como a neta deles, de 13 anos. “A vítima fez inúmeros registros na polícia, relatando as agressões, mas a família [do suspeito], muito desacreditada dessa situação, sempre tentava uma reconciliação, desacreditando as vítimas, tanto a mãe quanto a filha”, destaca.

Últimas agressões

Conforme levantamentos realizados pela Polícia Civil, após anos de violência doméstica, a vítima teria decidido terminar o relacionamento e pediu o divórcio. Nos primeiros meses, o casal permaneceu morando na mesma casa. No dia 17 de junho, depois que o marido tentou estrangulá-la enquanto dormia, ela procurou a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) para registrar ocorrência e solicitar medida protetiva.

Após esse episódio, os dois passaram a morar em imóveis distintos. No entanto, diante dos pedidos do suspeito e de familiares dele, a mulher requisitou a revogação da ordem judicial em setembro. No dia 4 de outubro, o militar reformado mais uma vez tentou agredir a vítima e voltou a ameaçá-la, motivo pelo qual, um dia antes de ser morta, retornou à Deam para solicitar mais uma vez a medida protetiva de urgência.

A medida não foi expedida em tempo hábil. No dia do crime, por volta das 22h, o suspeito teria entrado na casa dela e, em menos de três minutos, descarregou um revólver calibre 38 contra o rosto da vítima.

A chefe do Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Letícia Gamboge, ressalta que a região dos disparos não foi escolhida por acaso. “Na noite do dia 8, o suspeito, utilizando-se de uma arma de fogo, desferiu disparos todos no rosto da mulher, na intenção de menosprezo, humilhação e desfiguração da vítima”, disse em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (8).

A delegada Ingrid Estevam explica que essa atitude é comum em feminicídios. “Demonstra o menosprezo e a discriminação pela vida da mulher, que, em tese, ele fala que é posse dele. Essa é uma característica dos feminicidas, dos agressores. Atingir justamente as partes femininas: o rosto, seios e outras partes que demonstram a feminilidade”, complementou.

Estopim

Para a delegada Ingrid Estevam, o estopim para o crime foi o comentário de um outro homem em uma publicação da vítima em rede social. O suspeito, que monitorava a vida da ex-esposa na internet, não gostou da interação e ainda tentou descobrir quem era o homem que fez o comentário.

Durante o processo de separação, a polícia apurou que a vítima vivia em clima de tensão. Ela compartilhava a rotina dela com familiares e dormia com o quarto trancado e com objetos atrás da porta, com o objetivo de dificultar a entrada do ex-marido.

Quando o suspeito deixou a casa em que ele morava, chegou inclusive a expulsar a filha e a neta do imóvel, no intuito de deixar a ex-esposa ainda mais vulnerável.

Onde conseguir ajuda em BH?

Caso você seja vítima ou conheça alguém que precise de ajuda, pode fazer denúncias pelos números 181, 197 ou 190. Além deles, veja alguns outros mecanismos de denúncia:

Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher: av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190

Casa de Referência Tina Martins: r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221

Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher): r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171

Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher: r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380

Ponto de Acolhimento e Orientação à Mulher em Situação de Violência: avenida dos Andradas, 3.100, no Núcleo de Cidadania da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Aplicativo MG Mulher: Disponível para download gratuito nos sistemas iOS e Android, o app indica à vítima endereços e telefones dos equipamentos mais próximos de sua localização, que podem auxiliá-la em caso de emergência. O app permite também a criação de uma rede colaborativa de contatos confiáveis que ela pode acionar de forma rápida caso sinta que está em perigo.

Seja qual for o dispositivo mais acessível, as autoridades reforçam o recado: peça ajuda.

Edição: Vitor Fernandes

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