Sem auxílio da BHTrans, moradores de aglomerado colocam ônibus gratuito para circular em BH

Reprodução/Facebook

Uma iniciativa de moradores do Aglomerado da Serra em parceria com o coletivo Tarifa Zero BH colocou nas ruas o “Busão da Comunidade”. O meio de transporte coletivo gratuito é uma alternativa – e uma crítica – à falta de uma linha que ligue os moradores do aglomerado à Zona Leste da capital. A mobilização surgiu com o apoio do Programa de Apoio as Ações Comunitárias Autogestionadas (PAACA), formado pelos Arquitetos sem Fronteiras e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

O Busão da Comunidade saiu nas ruas pela primeira vez no sábado (8), a partir da Praça do Cardoso, no Aglomerado da Serra, transitando pelas avenidas Jefferson Coelho da Silva e Mem de Sá, dando acesso à estação de metrô Santa Tereza pela rua Niquelina. A demanda partiu da própria comunidade após uma série de reuniões. Segundo moradores, a implantação da linha no sistema vilas e favelas supriria várias carências na mobilidade urbana da região.

Segundo Cléssio Mendes, integrante do movimento Tarifa Zero BH, a necessidade do meio de transporte existe pois viabilizaria o acesso a diversos pontos da região Leste que têm importância crucial no cotidiano da população do aglomerado. Em sua primeira circulação, o ônibus transportou cerca de 242 pessoas, entre às 13h e 19h, num total de seis viagens. “O mais surpreendente é que no meio da viagem o pessoal já estava dando sinal para pegar o ônibus”.

O convite para os moradores usarem o transporte foi feito por meio de divulgação através de carro de som e panfletos informando sobre a iniciativa, que tem o custo financiado pelo próprio Tarifa Zero BH.

Necessidade

Floriscena Estevam, moradora do aglomerado, afirma que a única forma de sair da comunidade utilizando transporte coletivo é pela região Sul. “Se nós acessássemos a região Leste, iríamos ao metrô, à UPA, à rede de comércio varejista”. Ainda segundo a moradora, a UPA Leste é a única unidade de atendimento médico próxima a comunidade que possui serviço de pediatria e exames de raio-x.

Outra questão abordada é o acesso viável a supermercados, açougues e sacolões. “As pessoas costumam ir ao supermercado fazer compras, mas como não tem nenhuma linha de ônibus, elas precisam pegar táxi ou pagar um carreto ilegal. Eles cobram cerca R$ 20 para levar até a comunidade”, conta Clessio. “O pessoal junta o máximo de compras para fazer para poder gastar uma vez só com esse transporte”, completa.

Cléssio afirma ainda que a construção da avenida que liga o Serra ao Santa Efigênia é percebida pela comunidade como um espaço inutilizado pelos próprios moradores, servindo mais aos deslocamentos de proprietários de veículos particulares.

Oficialização do pedido

A meta do movimento é recolher cinco mil assinaturas para fazer o novo pedido da linha, que, segundo levantamentos dos moradores, já foi solicitada diversas vezes. Para conseguir a aprovação, moradores estão recolhendo assinaturas em um abaixo‐assinado a ser entregue à BHTrans juntamente com o projeto de viabilidade técnica, em processo de elaboração pelo coletivo Tarifa Zero.

No sábado em que o Busão da Comunidade rodou pela primeira vez, cerca de um mil assinaturas foram recolhidas. “Reuniões semanais vem acontecendo no local para viabilizar a ação”, conta Cléssio, que prevê o próximo dia para a circulação do ônibus ainda no mês de outubro.



Outro lado

A BHTrans informou que o Aglomerado da Serra é atendido por três linhas do transporte coletivo municipal, que são: a 102 (Nossa Senhora de Fátima/Hospital Evangélico), a 103 (Vila Cafezal/Pouso Alto) e a 107 (Vila Marçola/Rua do Ouro. Entretanto, nenhuma das linhas citadas faz a ligação à Zona Leste.

Sobre a linha “Busão da Comunidade”, a BHtrans informou que, conforme legislação vigente, o transporte remunerado de passageiros só pode ser realizado por meio de concessão do poder público. Caso contrário, estará sujeito às penalidades previstas no regulamento do serviço. Como o transporte é gratuito, não há impedimentos.

O órgão disse ainda que leva em consideração os registros dos usuários nos canais de atendimento e que estão abertos a sugestões e solicitações sobre transporte. Segundo a assessoria de comunicação, não há conhecimento de solicitações da nova linha.

Jéssica Munhoz

Jessica Munhoz é redatora do Portal Bhaz e responsável pela seção Cultura de Rua.

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