Desespero e desolação: O drama de quem escapou da tragédia em Brumadinho

Novo mar de lama em Minas Gerais vai deixar marcas (Henrique Coelho/BHAZ)

Enviado especial a Brumadinho

O cenário era de confusão e incredulidade. Quem presenciou os momentos após o rompimento de ao menos uma barragem de rejeitos da mineradora Vale, na tarde desta sexta-feira (25), em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte encontrou esses sentimentos nos moradores locais.

A todo instante pessoas adentravam o cerco montado por policiais, bombeiros e representantes da Defesa Civil, próximo ao local da tragédia, para reclamar desaparecidos e buscar informações. Eram pais, mães, filhos, irmãos e amigos que trabalhavam na região atingida pelos rejeitos e, agora, estão incomunicáveis, deixando familiares em desespero.

A nova tragédia ambiental em Minas, assim como o fatídico novembro de 2015, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana – quando a barragem de Fundão se rompeu, deixando um lastro de 19 mortos e incontáveis danos ambientais que atingiram a Bacia do Rio Doce, chegando até o mar – vai deixar marcas no solo, na natureza, nas casas, nas águas, na vida e na alma. Mais uma vez.

Michel Fernandes Guimarães, de 29 anos, estava em casa no momento da tragédia e resolveu entrar na lama para tentar achar o irmão que trabalhava em uma pousada atingida. Ele conta que conseguiu ajudar outras vítimas, mas até o momento, não havia encontrado o irmão.

“Corre, corre!”, foi o que gritou o funcionário Renato Cassimiro que trabalhava na região da barragem e estava na área do refeitório da empresa no momento do rompimento. O local foi atingido em cheio onde, segundo dados da Vale repassados ao Governo de Minas, estavam cerca de 430 funcionários.

Funcionário conseguiu escapar do local atingido pelos rejeitos (Henrique Coelho/BHAZ)

“Foi muito rápido. Quando olhamos, a lama já estava em cima. Houve muito barulho e as pessoas começaram a correr e a gritar. Os troncos de árvore estavam quebrando como se fossem lápis. Quem estava dentro do restaurante não conseguiu escapar, além disso, tinha caminhões com pessoas, ônibus e o escritório. Foram todos arrastados”, diz Renato.

Após o desastre, o morador da região Arthur Guilherme se juntou a um grupo de pessoas para ajudar na localização de vítimas. Segundo ele, uma criança que estava presa em uma casa cercada de lama foi socorrida por eles. Além disso, muitos animais morreram soterrados pela onda de rejeitos na região. “Isso é uma lição de vida para todo mundo, é o famoso ouro de tolo. As pessoas querem suprir necessidades que não precisam realmente. O dinheiro vai destruir o mundo ainda”, afirma o morador.

Morador ajudou socorristas a resgatar criança que estava presa em casa (Henrique Coelho/BHAZ)

Outro morador que não quis ser identificado, pois trabalha na mineradora, contou à reportagem do BHAZ que cerca de 10 amigos que trabalhavam em um setor próximo à barragem foram soterrados pelo rejeito. “Eu não estou conseguindo falar com eles. Conversei com um outro funcionário que conseguiu escapar e ele me disse que não sobrou ninguém lá. Era para eu estar lá, mas estava de folga hoje. Deus me salvou”, disse.

 

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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