A torcedora Débora Caroline Rodrigues Cotta, 25, foi agarrada e beijada à força por um homem durante o jogo do Atlético x Corinthians, no Mineirão, na noite de ontem (10). Ao BHAZ, ela contou que não teve apoio da equipe do estádio e de ninguém que estava por perto. Após o ocorrido, a jovem conseguiu amparo da Polícia Militar, que puxou um vídeo do momento. O Mineirão disse que está em contato com a vítima e apura a denúncia.
Débora conta que o caso aconteceu logo no início do segundo tempo do jogo, por volta das 20h. Ela estava em frente a um bar do setor Amarelo Superior. “Como o Mineirão está enchendo muito, eu preferi esperar o intervalo acabar para ir ao bar comprar uma cerveja. Quando cheguei lá, uma mulher estava passando mal, com a pressão baixa, então fiquei conversando com ela, encostada em uma mureta”.
Nesse momento, um homem se aproximou com dois copos de cerveja nas mãos. “Eu estava distraída, conversando com a outra mulher, não percebi ele chegando. Ele se aproximou e falou algumas coisas que não entendi direito”.
Beijada à força
De acordo com a vítima, o homem iniciou o assédio na sequência. “Ele me agarrou muito forte e me deu um beijo na boca. Naquele momento eu fiquei paralisada, sem reação mesmo. Fiquei olhando para ele e o mandei ir embora”, explica Débora.
Depois de alguns momentos ela decidiu ir atrás do assediador. “Dei um tanto de socos, chutes, derrubei as cervejas dele no chão e gritei, pedi ajuda. Ninguém fez nada, todo mundo apenas assistiu. Tive uma crise de choro, a única pessoa que me ajudou foi uma moça, que me abraçou e me acalmou”, lembra.
Descaso
Após o ocorrido, ela foi até alguns seguranças do Mineirão. “Contei o que havia acontecido e eles me perguntaram se eu sabia a identidade do homem, se eu tinha testemunhas. Eu falei que não, e eles me avisaram que não poderiam fazer nada”.
Débora voltou para o seu lugar no setor Amarelo Superior e começou a chorar muito, enquanto era consolada por uma mulher. “Depois de um tempo um segurança de colete laranja me achou e me encaminhou para uma base de Polícia Militar. Chegando lá, fui muito bem atendida, contei tudo e eles já conseguiram o vídeo do momento na hora. Deu para ver direitinho o rosto do homem, toda a cena”.
A vítima vai prestar depoimento na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, no Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte, na tarde de hoje. “Já fiz o boletim de ocorrência na Polícia Militar, agora vou formalizar tudo na Polícia Civil para entrar com uma ação judicial contra esse homem”.
‘Só sinto nojo’
A jovem conta que está traumatizada com a situação. “Eu me senti totalmente sozinha, um descaso enorme, como se eu não fosse ninguém. O rosto desse cara não sai da minha cabeça, se eu encontrá-lo na esquina eu sei quem é. Não consegui dormir direito até agora. Só sinto nojo”, desabafa.
Agora, Débora cobra uma postura firme do Mineirão. “Eu quero que eles façam alguma coisa. Não é possível que uma mulher não possa ir ao estádio em paz. Estão agindo como se eu não fosse nada”, completa.
Mineirão apura denúncia
Ao BHAZ, por meio de nota (leia abaixo na íntegra), o Mineirão disse que “teve conhecimento, na manhã desta quinta-feira (11), do caso denunciado pela torcedora Débora Cotta no jogo entre Atlético e Corinthians, realizado na noite dessa quarta-feira (10)”.
Segundo o estádio, as apurações da denúncia estão sendo feitas “junto à equipe de segurança contratada e entrando em contato com a torcedora para mais informações”.
O Mineirão ainda disse que “vem aprimorando o treinamento de seus prestadores de serviço e tem trabalhado para o melhor acolhimento das torcedoras. É importante que denúncias como essa sejam feitas para que o estádio leve ao conhecimento das autoridades policiais”.
Atlético se posiciona
Procurado pelo BHAZ, o Clube Atlético Mineiro informou, por meio da assessoria de imprensa, que o “comportamento do agressor não pode ser normalizado nem aceito”.
“O clube vai retomar campanhas contra assédio, paralisadas devido à pandemia de Covid-19 e a ausência dos torcedores nos estádios”. O clube mineiro ainda se solidarizou com a vítima e defendeu a punição do torcedor pelo comportamento inadequado.
Polícia Civil tenta identificar suspeito
A Polícia Civil disse, por meio de nota (leia abaixo na íntegra), que “instaurou procedimento para apuração da ocorrência de importunação sexual registrada ontem, durante jogo de futebol, no estádio do Mineirão”.
Segundo o órgão, “diligências estão em andamento para identificação do suspeito”.
Onde conseguir ajuda em BH?
Caso você seja vítima ou conheça alguém que precise de ajuda, pode fazer denúncias pelos números 181, 197 ou 190. Além deles, veja alguns outros mecanismos de denúncia:
Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher: av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190
Casa de Referência Tina Martins: r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221
Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher): r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171
Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher: r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380
Ponto de Acolhimento e Orientação à Mulher em Situação de Violência: avenida dos Andradas, 3.100, no Núcleo de Cidadania da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Nota do Mineirão
“O Mineirão teve conhecimento, na manhã desta quinta-feira (11), do caso denunciado pela torcedora Débora Cotta no jogo entre Atlético e Corinthians, realizado na noite dessa quarta-feira (10). O estádio já está apurando a denúncia junto à equipe de segurança contratada e entrando em contato com a torcedora para mais informações.
O Mineirão informa que vem aprimorando o treinamento de seus prestadores de serviço e tem trabalhado para o melhor acolhimento das torcedoras. É importante que denúncias como essa sejam feitas para que o estádio leve ao conhecimento das autoridades policiais”.
Nota da Polícia Civil
“A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que instaurou procedimento para apuração da ocorrência de importunação sexual registrada ontem, durante jogo de futebol, no estádio do Mineirão.
Diligências estão em andamento para identificação do suspeito”.