Trabalhadora denuncia agressão e ofensas racistas de torcedor atleticano no Mineirão

Trabalhadora denuncia agressão no Mineirão
Mulher levou uma rasteira do torcedor, caindo no chão e sofrendo luxação no punho e o braço (Arquivo pessoal)

Uma mulher que trabalhava no bar do Mineirão denuncia ter sido vítima de ofensas racistas e de agressão por parte de um torcedor, no jogo do Atlético contra o Corinthians nessa quarta-feira (10). Bruna Araújo Campos, 37, usou as redes sociais para contar que foi chamada de “lixo” e “macaca” pelo atleticano.

A trabalhadora ainda contou que levou uma rasteira do torcedor, caindo no chão e sofrendo luxação no punho e o braço. Com a queda, o celular dela também quebrou e não funciona mais. O Mineirão afirma que apura a denúncia (veja nota na íntegra abaixo).

De acordo com Bruna Campos, tudo começou quando o torcedor, um homem mais velho, se irritou ao tentar pegar uma cerveja no bar. “Eu estava no setor laranja, e a ficha dele era para outro setor. Eu expliquei que não podia entregar a cerveja ali e ele começou a gritar comigo”, relata.

O homem teria chamado a funcionária de “lixo” e “macaca”, além de ameaçar pular para dentro do bar. “Os outros torcedores começaram a gritar, chamando ele de vacilão e pedindo respeito. Eles queriam bater nele, mas um funcionário do bar impediu”, conta.

Mais ofensas e agressão

No final do segundo tempo, ainda segundo o relato da vítima, o torcedor atleticano teria voltado ao bar para fazer mais ameaças. “Ele voltou a gritar as mesmas ofensas e falou ‘tô te esperando na rua, você vai ver lá fora'”.

Pouco tempo depois, quando Bruna foi ao banheiro, ela sentiu uma rasteira por trás e caiu no chão, em cima do próprio braço. Uma mulher que estava por perto se aproximou e disse que um senhor havia cometido a agressão, batendo com a descrição do homem mais velho que a ofendeu antes.

“Procurei ajuda, mas naquele setor não tinha policiamento. Voltei a trabalhar com o punho doendo muito, até que não aguentei mais e pedi para receber e ir embora. Conversei com os responsáveis pelo bar sobre o que aconteceu, mas disseram que não podiam fazer nada naquele momento, mas que iam tentar ver as imagens das câmeras e entrariam em contato”, conta.

A mulher oficializou a denúncia junto à polícia nesta sexta-feira (12). Ainda abalada, ela diz que já tinha sido ofendida nos outros jogos em que trabalhou no Mineirão, mas as agressões nunca tomaram essa proporção.

Procurado pelo BHAZ, o Mineirão afirmou que “repudia qualquer ato de discriminação ou preconceito de gênero, raça, cor e orientação sexual e está apurando o caso”.

Assédio no Mineirão

Ainda no jogo de quarta-feira, uma jovem de 25 anos também denunciou que foi agarrada e beijada à força por um torcedor atleticano. Ela conta que não teve apoio da equipe do estádio e de ninguém que estava por perto.

Débora Caroline Rodrigues Cotta conta que o caso aconteceu logo no início do segundo tempo do jogo, por volta das 20h. Ela estava em frente a um bar do setor Amarelo Superior.

“Como o Mineirão está enchendo muito, eu preferi esperar o intervalo acabar para ir ao bar comprar uma cerveja. Quando cheguei lá, uma mulher estava passando mal, com a pressão baixa, então fiquei conversando com ela, encostada em uma mureta”, contou.

Nesse momento, um homem se aproximou com dois copos de cerveja nas mãos. “Eu estava distraída, conversando com a outra mulher, não percebi ele chegando. Ele se aproximou e falou algumas coisas que não entendi direito”, disse a torcedora.

De acordo com a vítima, o homem iniciou o assédio na sequência. “Ele me agarrou muito forte e me deu um beijo na boca. Naquele momento eu fiquei paralisada, sem reação mesmo. Fiquei olhando para ele e o mandei ir embora”, explica Débora.

Depois de alguns momentos ela decidiu ir atrás do assediador. “Dei um tanto de socos, chutes, derrubei as cervejas dele no chão e gritei, pedi ajuda. Ninguém fez nada, todo mundo apenas assistiu. Tive uma crise de choro, a única pessoa que me ajudou foi uma moça, que me abraçou e me acalmou”, lembra.

O Mineirão disse que está em contato com a vítima e apura a denúncia, enquanto o Atlético divulgou comunicado repudiando o assédio nos estádios. “O clube irá atuar de forma contundente junto às autoridades e à segurança do estádio, no sentido de coibir essa prática e exigir punição aos infratores”, diz a nota do clube.

Racismo é crime

De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), é classificada como crime de racismo – previsto na Lei n. 7.716/1989 – toda conduta discriminatória contra “um grupo ou coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça”.

A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Por exemplo: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais, negar ou obstar emprego em empresa privada, além de induzir e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, conforme determina o artigo 5º da Constituição Federal.

Já a discriminação que não se dirige ao coletivo, mas a uma pessoa específica, também é crime. Trata-se de injúria racial, crime associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima.

É o caso dos diversos episódios registrados no futebol, por exemplo, quando jogadores negros são chamados de “macacos” e outros termos ofensivos.

Quem comete injúria racial pode pegar pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência, para quem cometê-la. Em outubro deste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o crime de injúria racial também deve ser declarado imprescritível e inafiançável, assim como o crime de racismo.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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