‘Colocaram o dinheiro na frente’, diz vereador que cobrou respostas da Vale antes de rompimento

Desde o dia do rompimento, bombeiros fazem buscas no local; cava da Mina Córrego do Feijão (CBMMG/Divulgação + Caio César Braga/Arquivo pessoal)

O receio de que as barragens da mineradora Vale rompessem em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, fez com que o vereador do município, Caio César Braga (PTB), encaminhasse, em 19 de dezembro, um ofício solicitando respostas da multinacional quanto às estruturas. No entanto, o parlamentar não teve seus questionamentos respondidos e após um mês do envio do documento a barragem 1 e duas estruturas menores – 4 e 4A – se romperam. Até o momento, 134 pessoas morreram e outras 199 continuam desaparecidas.

Em conversa com o BHAZ, o vereador disse que o momento é de extrema tristeza na cidade e ao mesmo tempo de busca por renovação. “Brumadinho passa por um fase horrível. Quando pensamos que podemos recomeçar/renovar, encontramos o velório de um amigo. Nosso povo é guerreiro, mas o momento é muito difícil”, conta.

A tragédia de Mariana, em novembro de 2015, é apontada por Caio Braga como motivador para que ele fiscalizasse as barragens da cidade. “O rompimento de Fundão motivou a nossa luta, pois matou o Rio Doce e, além disso, sabíamos do tamanho das barragens da Vale em Brumadinho e o que um rompimento poderia causar. Ela era muito antiga e os funcionários nos diziam que apresentava problemas”.

Vereador visitou o local em 19 de dezembro de 2018 (Caio César Braga/Arquivo pessoal)

No dia em que entregou o documento com os questionamentos, Caio relembra que foi informado pela Vale que quinzenalmente eram realizadas vistorias nas estruturas. “Informaram isso, porém a parte técnica teria de ser respondida seja por e-mail ou outra forma. Não responder meus questionamentos é mais um fator para que ela pague as indenizações. Colocaram o dinheiro na frente e aconteceu isso. A Vale é culpada pelo ocorrido”, diz.

Após o rompimento das estruturas, a mineradora ainda não respondeu os questionamentos do vereador. Agora, ele pretende acionar o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). “Uma empresa do porte da Vale não responder em 30 dias já é prova de que existia algo de errado”, pondera.

Procurada pelo BHAZ, a Vale informou que o ofício do parlamentar tinha 10 perguntas e que elas “estavam em processo de apuração”. O motivo para o atraso nas respostas é apontado pela mineradora pelo fato de “diferentes áreas da empresa “serem acionadas para solucionarem as dúvidas de Caio Braga.

“No dia 19 de dezembro empregados da Vale acompanharam uma visita do vereador Caio César Braga às barragens da mina Córrego do Feijão. Nessa visita, os empregados deram informações técnicas e esclareceram dúvidas do vereador”, afirma a empresa em nota que pode ser lida na íntegra ao final da matéria.

Inspeções não apontaram alteração

Na nota enviada, a Vale ainda informou que três dias antes do rompimento da barragem 1, uma inspeção foi realizada e não detectou “nenhuma alteração no estado de conservação da estrutura”. “A estrutura possuía a Declarações de Condição de Estabilidade atestando a sua segurança física e hidráulica”, diz a nota.

Além do dia 22 de janeiro de 2019, a estrutura foi vistoriada nos dias 21 de dezembro e 8 de janeiro. As inspeções eram reportadas à Agência Nacional de Mineração (ANM) por meio do Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM).

Ofício entregue pelo vereador

Vale se pronuncia

Confira na íntegra a nota enviada pela Vale:

“No dia 19 de dezembro empregados da Vale acompanharam uma visita do vereador Caio César Braga às barragens da mina Córrego do Feijão. Nessa visita os empregados deram informações técnicas e esclareceram dúvidas do vereador. Ao final da visita, o vereador entregou um ofício com dez perguntas à Vale, que estavam em processo de apuração e resposta. São perguntas variadas que necessitam de informações de diferentes áreas da empresa.

Conforme já informado, a barragem passava por inspeções de campo quinzenais, todas reportadas à ANM (Agência Nacional de Mineração), através do SIGBM (Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração). A última inspeção cadastrada no sistema da ANM foi executada em 21 de dezembro de 2018. A estrutura também passou por inspeções em 8 de janeiro de 2019 e 22 de janeiro de 2019, com registro no sistema de monitoramento da Vale. Todas estas inspeções não detectaram nenhuma alteração no estado de conservação da estrutura.

Além disso, a estrutura possuía Declarações de Condição de Estabilidade atestando a sua segurança física e hidráulica. As últimas declarações foram emitidas em 13 de junho de 2018 e 26 de setembro de 2018 pela TUV SUD do Brasil, uma empresa alemã especializada em geotecnia. A estrutura possuía, ainda, fator de segurança de acordo com as boas práticas mundiais e acima da referência da Norma Brasileira.

A barragem era monitorada por 94 piezômetros e 41 INAs (Indicador de Nível D´Água). As informações dos instrumentos eram coletadas periodicamente e todos os seus dados analisados pelos geotécnicos responsáveis pela barragem. Dos 94 piezômetros, 46 eram automatizados.”

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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