Marcelo Adnet relata abusos sexuais sofridos na infância e sofre ataques na web: ‘Senti uma dor imensa’

adnet relata abusos sexuais na infância
Após o ato corajoso, o humorista sofreu com ataques homofóbicos e questionamentos dos relatos (@marceloadnet0/Instagram/Reprodução)

O humorista Marcelo Adnet relatou pela primeira vez sobre os abusos sexuais que sofreu na infância. Em entrevista à revista Veja, Adnet falou sobre dois episódios que passou aos 7 e aos 11 anos. O humorista comentou sobre o trauma que ficou e o sentimento de culpa.

Marcelo Adnet resolveu falar sobre os abusos após ser questionado por suas atitudes machistas. As perguntas eram relacionadas aos rumores de traição em relacionamentos, quando ele abordou o assunto. “Isso, certamente, tem a ver com traumas que sofri”, associou.

Adnet contou que no primeiro abuso, aos 7 anos, ele nem sabia o que era sexo. Segundo o humorista, o caseiro do lugar onde passava férias se aproximou dele e começou a chantageá-lo. “Um dia, quando só estávamos eu e ele em casa, foi para cima de mim. Senti uma dor imensa, mas durou pouco porque meus parentes, que tinham ido ao mercado, voltaram para buscar a carteira”, relatou à revista.

A segunda ocasião aconteceu com um amigo mais velho da família. “Ele não chegou a consumar o ato, como o caseiro, mas me beijou e passou a mão no meu corpo”, acrescentou.

Marcelo Adnet explicou que nunca havia tocado nesse assunto publicamente porque precisou de anos de análise para entender que o constrangimento não é dele, e sim dos abusadores. “O que fica disso é o susto, o trauma, a desconfiança”, concluiu.

Apoio (e ataques) nas redes sociais

Nas redes sociais, alguns internautas elogiaram a coragem do humorista e ressaltaram a importância de falar sobre o assunto. “O nome disso é coragem. Ninguém fala sobre abusos contra meninos. Obrigada por jogar luz onde só existe medo e escuridão”, escreveu uma usuária do Twitter.

No entanto, alguns internautas atacaram Adnet, com ofensas e falas homofóbicas, afirmando que o humorista queria chamar atenção com as declarações. “Sempre desconfiei desse daí. Pra mim essa coca-cola é fanta desde o começo”, escreveu um usuário do Twitter.

Um tuíte específico foi destacado pelo humorista. “Só assim mesmo pra esse bosta aparecer! Deve ter gostado de dar a bunda, daqui a pouco ele se assume”, escreveu um internauta. Esse comentário foi denunciado por Adnet e a Marinha do Brasil, que é onde o autor da postagem trabalha, afirmou que vai investiga-lo.

Após ser elogiado pelo ex-candidato à presidência Guilherme Boulos, Adnet agradeceu o apoio. “Essa dor já passou. Agora é aguentar as agressões, crueldade pura. As vítimas não merecem isso”, acrescentou.

Abuso sexual infantil no Brasil

Mais da metade dos estupros registrados no Brasil foram contra crianças de até 13 anos. Os dados fazem parte do estudo Atlas da Violência 2018, apresentados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

As mulheres ainda representam a maior parte das vítimas dos abusos. Em 2018, mais de 50 mil casos de estupro contra mulheres foram registrados. Ainda assim, 34 homens foram estuprados por dia, no mesmo ano, de acordo com o FBSP. A maioria desses casos foi na faixa etária de 5 a 9 anos.

Relatos como o de Marcelo Adnet podem servir para que mais pessoas falem sobre o assunto. Em uma segunda entrevista à Veja, o humorista disse que foi procurado por outros homens vítimas de abusos, que tinham dificuldade em falar sobre as violações.

A denúncia desses casos pode ser um passo para conhecer a verdadeira dimensão do problema. Apesar do alto número de casos registrados, o Ministério da Justiça acredita que menos de 10% dos abusos sexuais cheguem ao conhecimento das autoridades.

Como denunciar

Caso você seja vítima ou conheça alguém que precise de ajuda, veja alguns mecanismos de denúncia:

  • Disque 100;
  • Conselhos Tutelares próximos a região da vítima quando esta for menor de idade;
  • Promotoria da Criança e do Adolescentes (Ministério Público);
  • Delegacias da Mulher ou Especializada em Crimes contra a Criança e Adolescente;
  • Defensoria Pública;

Havendo vestígios no corpo da vítima, é importante registrar boletim de ocorrência na delegacia, que propiciará que a vítima faça um exame de corpo de delito e possa se munir de provas contra o agressor.

Em casos de crimes ocorridos há mais tempo, mesmo sem os vestígios no corpo e o exame de corpo de delito, outras formas de provas também são admitidas.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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