Anestesista que estuprou mulher durante parto atuava como ginecologista desde 2020

giovanni quintella bezerra
Giovanni Quintella Bezerra não tem nenhuma especialidade cadastrada no CRM do Rio (Reprodução/Redes sociais)

Giovanni Quintella Bezerra, indiciado por estuprar uma mulher durante o parto no Rio de Janeiro no início desta semana, atuava como ginecologista e obstetra desde junho de 2020. Ele iniciou a residência médica em Nova Iguaçu, em 2019, e passou a atuar como anestesiologistaem formação apenas no ano passado.

Conforme disposto no CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), Giovanni não tem especialidade registrada no Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro), portanto, não podia se declarar ginecologista.

Segundo a resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) que trata da publicidade de assuntos médicos, um profissional pode anunciar seus títulos de especialista somente caso eles estejam registrados no CRM local.

Itagiba Filho, conselheiro e presidente da Codame (Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos) em Minas Gerais, explica ao BHAZ que, ainda que um médico não tenha especialidade registrada, isso não o impede de exercer a profissão na área. Ele apenas não deve se anunciar como tal.

Atuação médica suspensa

Além de São João de Meriti, onde o crime sexual contra a gestante foi cometido, o anestesista já trabalhou em Duque de Caxias, Mesquita e na própria capital carioca. Ele iniciou a residência médica em Nova Iguaçu, em abril de 2019, cidade em que permaneceu trabalhando por mais de um ano.

Conforme nota enviada ao BHAZ no início da semana, o médico não era servidor do estado e prestava serviços como pessoa jurídica em três hospitais do Rio (leia abaixo na íntegra). Ele foi preso nessa segunda-feira (11) após ser flagrado colocando o órgão genital na boca de uma paciente que estava sedada, durante uma cesariana.

Assim que o caso veio à tona, o Cremerj suspendeu o registro e instaurou processo contra ele. Giovanni foi filmado depois que a equipe médica, sobretudo enfermeiras e técnicas mulheres, suspeitaram do comportamento dele durante as cirurgias. Uma prática que levou ao flagra era a quantidade excessiva de sedativo que ele aplicava nas gestantes. No momento do parto, o anestesista chegou a pedir que o marido da vítima deixasse a sala.

Segundo autoridades, as funcionárias relataram que o médico já havia participado de outras cirurgias em salas onde era inviável fazer gravações. Desconfiadas do comportamento dele, na terceira operação do dia, elas conseguiram trocar o local de última hora e esconderam o telefone para confirmar o que ele fazia atrás de uma espécie de “cabana” que improvisava com tecidos.

Polícia investiga novas vítimas

O anestesista Giovanni Quintella Bezerra, indiciado por estupro de vulnerável após ser flagrado abusando de uma mulher em trabalho de parto, pode ter feito mais de 30 vítimas. A declaração é da delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, no Rio de Janeiro.

A responsável pela investigação ouviu, nessa quinta-feira (14), duas mulheres que também fizeram partos no domingo passado (10) com a presença do homem de 31 anos. Elas estão entre as cinco que identificaram o médico como o profissional que realizou a anestesia durante as cirurgias, sendo que outras três já prestaram depoimento.

Para a delegada, a potencial repetição do crime praticado pelo anestesista é porque ele tinha a sensação de que não seria punido.

“Ele não achou que houvesse uma audácia e uma coragem muito [grande] da equipe de enfermagem de fazer essa gravação, jamais contou com isso e há toda uma circunstância de posição dentro de um hospital. Ele contava que não fosse ser pego, tanto que se surpreendeu quando foi dito a ele que havia uma imagem, na hora ele não disse nada e depois se calou e não quis mais falar”, afirmou.

A investigação procura saber se cerca de 30 mulheres que também fizeram partos com a presença do médico sofreram abuso, desde que ele concluiu a formação profissional em abril.

“Vamos continuar identificando. Não são relatos ainda. Nós precisamos investigar. Primeiro fazer uma triagem, saber qual foi o tipo de procedimento e aí vamos aprofundando. São mais de 30, não sei exatamente quantas, mas já identificadas como possíveis [vítimas], foram pacientes”, completou Bárbara Lomba.

Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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