Fechamento de fronteiras, quarentena obrigatória, falta de mantimentos nos supermercados, multas a quem sair na rua: a realidade que a pandemia do novo coronavírus ainda não trouxe ao Brasil já é enfrentada por brasileiros que estão no exterior, e alguns deles ainda não sabem quando poderão voltar ao país.
No Peru, na Espanha, no Marrocos e nos Estados Unidos, brasileiros relataram ao BHAZ as diferentes situações que vivem fora do país, seja como turistas ou como moradores. Enquanto isso, no Brasil, foi registrada a primeira morte pelo Covid-19 nessa terça-feira (17), e os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro já decretaram estado de emergência.
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Presas no Peru
Raquel Barra, que está em Cusco, no Peru, viajou a turismo e planejava voltar ao Brasil no dia 20 de março. Agora, com as fronteiras fechadas e sem respostas concretas da embaixada brasileira no país, ela e as amigas ainda não sabem quando vão poder retornar. O Peru registrou até agora 145 casos confirmados de coronavírus.
No domingo (15), às 20h, o governo do Peru decretou estado de emergência. Quando o grupo de brasileiras foi até o aeroporto, na manhã do dia seguinte, elas foram impedidas de entrar pelo exército do país.
Ao entrar em contato com a companhia aérea, a Avianca, Raquel foi avisada de que só conseguiria trocar a passagem para depois que o espaço aéreo peruano fosse aberto de novo, ou seja, depois do dia 30 de março. Até lá, por enquanto, elas estão presas no Peru. Raquel e uma amiga também gravaram um vídeo, alertando os brasileiros sobre a situação.
No Peru, brasileiras são impedidas de voltar ao Brasil e fazem alerta por conta do novo coronavírus. pic.twitter.com/gA1j2BiIHe
— BHAZ (@portal_bhaz) March 18, 2020
Desde então, elas tentam contato com a Embaixada do Brasil no Peru, que ainda não tinha dado suporte aos mais de 3.5 mil brasileiros no país. Na terça-feira (17), o Peru autorizou a retirada de estrangeiros que não conseguiam deixar o país, mas, ainda sim, os brasileiros continuam sem conseguir voltar.
“A liberação vale para o transporte aéreo não-comercial, ou seja, as companhias aéreas ainda não podem atuar. Nós teríamos que fretar um avião ou ser repatriados e resgatados pelo exército brasileiro. Os americanos e os mexicanos que estava aqui conseguiram fretar voos de linhas aéreas nacionais e já voltaram, mas as companhias brasileiras falaram que não podem fazer nada”, explica Raquel.
A Embaixada comunicou, na terça-feira, que solicitou ao Ministério das Relações Exteriores do Peru a autorização de saída por via terrestre, com veículos particulares, mas ainda não houve resposta. Enquanto isso, os hotéis peruanos estão fechados e são proibidos de abrigar turistas.
“Nós encontramos um lugar que nos abrigou por um preço simbólico, mas a qualquer momento a polícia ou o exército podem entrar aqui, nos expulsar e multar o hotel. Tem gente dormindo na rua, sem ter onde ficar. Mulheres grávidas, pessoas doentes. Tem muita solidariedade entre os brasileiros, mas fomos deixados sem informações, cada um por si”, finaliza ela, ainda sem notícias de quando poderá voltar ao Brasil.
Quarentena na Espanha
Na Europa, a situação já é mais assustadora do que se pode imaginar e o número de casos se multiplica com rapidez. A Espanha já vive a quarentena obrigatória, com apenas supermercados, farmácias e hospitais abertos.
A estudante brasileira Thaises Aguilar, que vive na cidade de Valencia há 4 anos, conta como é a situação do país diante dos mais de 13 mil infectados e mais de 550 mortos pelo Covid-19, depois que, na sexta-feira (13), foi ordenado que todos os comércios fechassem.
“Falaram que seria uma medida provisória de 15 dias, mas quando eu despedi do meu chefe ele falou que ia durar muito mais. Eu fui mandada embora, eu e quase toda a equipe, mas o governo fez um comunicado oficial e falou que todas as pessoas que estão com contrato de trabalho vão receber o seguro-desemprego”, conta ela.
Thaises, que mora com a mãe em Valencia, está no quinto dia de confinamento, que começou no sábado (14): “Ninguém pode sair, não tem ninguém na rua. As únicas pessoas que saem são quem tem cachorros, para eles fazerem as necessidades, mas é na porta de casa e pronto. As pessoas também podem sair para ir ao supermercado e às farmácias”.
Escolas, academias, restaurantes e todo o resto está fechado. Os moradores podem sair para trabalhar, desde que assinem um documento provando que têm contrato com o lugar para onde vão. Caso contrário, pessoas que saírem nas ruas podem ser multadas.
➡️ Pagat de veïnes i veïns organitzats i responsables. Exemple de ciutadania.? pic.twitter.com/62wyxg3VpG
— Alejandro Ramon (@_alejandroramon) March 14, 2020
Thaises partiria nesta quarta-feira (18) para um intercâmbio em Malta, mas o programa foi cancelado pela escola e o voo foi cancelado pela companhia aérea. Agora, é impossível entrar ou sair de qualquer país da União Europeia: os líderes dos 27 países-membros decidiram, na terça-feira, fechar as fronteiras da UE durante 30 dias.
Presos no Marrocos
No Marrocos, a situação dos brasileiros é parecida com a do Peru. Desde o domingo (15), as fronteiras do país foram fechadas e eles ainda não receberam informações concretas sobre quando poderão voltar ao país. Um grupo de WhatsApp reúne mais de 100 brasileiros que se encontram na mesma situação, alguns sem ter nem onde dormir.
“Desde o fechamento, estamos fazendo contato com o Cônsul brasileiro aqui, mas até agora a orientação que recebemos foi a de ir ao aeroporto para obter informações, mesmo eles não sendo seguros por causa das aglomerações. Até agora, não temos um prazo para a reabertura das fronteiras e precisamos da intervenção do Governo Federal para sermos repatriados”, explica Diego Pelegi, que chegou na cidade de Casablanca na sexta-feira (13).
Assim como no Peru, parte dos brasileiros não tem onde se hospedar enquanto espera uma resposta. “Alguns hotéis estão expulsando brasileiros, a cidade está fechando o comércio. Recebi vídeos e fotos de turistas se acomodando nos jardins do aeroporto, porque não têm onde dormir”, conta ele.
Pandemia de Covid-19 faz hotéis no Marrocos expulsarem hóspedes e pessoas ficam, literalmente, na rua. pic.twitter.com/SX82yfayHJ
— BHAZ (@portal_bhaz) March 18, 2020
Na segunda-feira, a embaixada emitiu em seu portal uma nota consular e informou que está “fazendo todos os esforços possíveis com vistas a tentar viabilizar uma solução para o regresso, para o Brasil, de brasileiros retidos no Marrocos”.
Praias cheias nos Estados Unidos
No país em que as maiores atrações são os parques de diversão, restaurantes, shoppings e lojas, os turistas vão ter que esperar uma próxima visita para aproveitar o que os Estados Unidos têm a oferecer. Ainda sem quarentena obrigatória, brasileiros circulam por um país em que tudo está fechado e não conseguem nem fazer compras nos outlets.
O mineiro José Eduardo Campos, que viajou aos EUA com a esposa, planejava passar uma semana na Flórida e outra em Nova York e Nova Orleans. Com o impacto do coronavírus, eles decidiram cancelar a segunda parte da viagem.
“As lojas estão fechadas pelo menos até o fim do mês, todos os parques da Disney estão fechados. Nos restaurantes, você entra para pegar a comida e tem que comer em casa ou no carro, porque não deixam ninguém ficar lá dentro. Nos supermercados, já estamos vendo prateleiras vazias, todo mundo está estocando água mineral e papel higiênico”, conta ele.
A volta do casal ao Brasil está prevista para o dia 30 de março e, por enquanto, as companhias aéreas garantem que os voos estão seguindo as programações normais. Enquanto isso, as praias da Flórida continuam cheias e a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de evitar aglomerações parece ser ignorada.