Comediante João Pimenta, do Porta dos Fundos, é barrado no próprio show e aponta racismo

joão pimenta
Segundo João Pimenta, ele mostrou a pulseira que comprovava participação no evento mas ainda foi impedido de subir no palco (Reprodução/@joaoseupimenta/Instagram)

O comediante João Pimenta, integrante do canal Porta dos Fundos, usou as redes sociais para desabafar sobre um episódio que avaliou ser racista, durante evento do TikTok no qual se apresentou, nessa quinta-feira (1º).

Antes de subir no palco para um stand up, o baiano foi barrado diversas vezes pela equipe do evento. Mesmo após apresentar uma pulseira que comprovava sua participação no evento, ele ouviu que o impedimento era uma “orientação”.

Em resposta à publicação, o TikTok disse condenar qualquer tipo de discriminação, incluindo a racial, e pediu desculpas ao artista.

‘Seguro meu choro mais uma vez’

No Instagram, o comediante desabafou sobre as várias situações de cunho racista com que se depara diariamente, independentemente da posição em que está.

“Chega minha hora e não tô lá. O pessoal do evento me procura para pedir desculpas. Subo arrasado. Faço um show incrível. No final dou meu recado. Querem ser aliados dos pretos? Comecem pelo básico. Nos tratar bem”, escreveu João.

O artista avalia que pode “fechar várias portas” com o posicionamento, mas precisa falar sobre o preconceito que sentiu ao ser barrado no próprio show.

“Seguro meu choro mais uma vez. Mas é minha vida, é isso aí todo dia, independente da posição em que estou. Não fiz nada de errado, não queria que acontecesse isso. Mas é por isso que minha comédia é do jeito que é, falo do que eu falo. E sei que sou incrível”.

Evento sem cachê

No relato, João ainda conta que ficou com vontade de chorar e “só passou raiva”: “Então, né, eu sei que esse negócio que eu postei do evento aí vai dar uma m**** grande pra mim, mas não fiz nada de errado. Eu acho que, se eu tenho alcance hoje pra falar pra algumas pessoas, eu vou falar. Recebi nem cachê, só fui lá passar raiva”, disse.

João narra aos seguidores que, depois do ocorrido, os responsáveis teriam “inventado” um cachê simbólico. Mesmo após o longo desabafo, que rendeu mensagens de apoio ao comediante, ele recebeu críticas negativas de internautas.

Conforme post mais recente de João, alguns usuários o culparam por ter aceitado fazer um evento sem cachê. “Culpa minha também quem comentou que se fosse show de uma escola de graça eu não iria, sem conhecer porra nenhuma da minha história. Vou dar um tempo. Desisto”, desabafou.

O que diz o TikTok?

O influenciador digital Yuri Marçal, que também é negro, disse ter sido barrado no mesmo evento ao tentar ajudar João. O curioso é que ele havia acabado de se apresentar.

Na publicação do comediante baiano, o TikTok afirmou que “condena qualquer forma de discriminação ou assédio, incluindo com base em raça, cor, sexo, orientação sexual ou deficiência”. Segundo a marca, o caso está sendo acompanhado com “muita seriedade e preocupação.

“Pedimos desculpas a você e ao Yuri e nos comprometemos a continuar empenhando todos os esforços para valorizar nossos criadores e garantir uma experiência segura e inclusiva para nossa comunidade em todas as circunstâncias e evitar que fatos como esses voltem a acontecer”, escreveu a plataforma.

Racismo x injúria racial

De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), é classificada como crime de racismo – previsto na Lei n. 7.716/1989 – toda conduta discriminatória contra “um grupo ou coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça”.

A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Por exemplo: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais, negar ou obstar emprego em empresa privada, além de induzir e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, conforme determina o artigo 5º da Constituição Federal.

Já a discriminação que não se dirige ao coletivo, mas a uma pessoa específica, também é crime. Trata-se de injúria racial, crime associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima – é o caso dos diversos episódios registrados no futebol, por exemplo, quando jogadores negros são chamados de “macacos” e outros termos ofensivos.

Quem comete injúria racial pode pegar pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência, para quem cometê-la.

Em outubro de 2021, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o crime de injúria racial também deve ser declarado imprescritível e inafiançável, assim como o crime de racismo.

Canais de denúncia em BH

  • Delegacia Especializada em Repressão aos crimes de Racismo, Xenofobia, Homofobia e Intolerâncias Correlatas – DECRIN

Telefone: (31) 3335-0452

Endereço: Avenida Augusto de Lima, 1942 – Barro Preto

Horário de Funcionamento: Segunda à Sexta, de 12h às 19h

  • Ministério Público – Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos, Igualdade Racial, Apoio Comunitário e Fiscalização da Atividade Policial

Telefone: (31) 3295-2009

Endereço: Rua dos Timbiras, 2928 5º andar Barro Preto – Belo Horizonte – MG

Horário de Funcionamento: Segunda à Sexta, de 13h às 18h

E-mail: [email protected].

  • Disque 100 – Disque Direitos Humanos

Horário de funcionamento: diariamente de 8h às 22h

Cidadão brasileiro fora do Brasil, pode discar: +55 61 3212-8400.

E-mail para denúncias: [email protected]

  • Disque 190 – Policia Militar

O 190 é destinado ao atendimento da população nas situações de urgências policiais. Atendimento 24 horas por dia, todos os dias da semana.

  • Disque 181 – Denúncia Anônima

Serviço destinado ao recebimento de informações dos cidadãos e cidadãs sobre crimes de que tenham conhecimento e possam auxiliar o trabalho policial.

No Disque Denúncia 181 a identidade do denunciante e denunciado é preservada.

Atendimento 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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