Defesa de policial confirma voz do cliente em vídeo onde ele xinga escrivã encontrada morta

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Rafaela Drumond tinha 31 anos e trabalhava como escrivã em Carandaí (Reprodução/Redes Sociais)

O investigador Celso Trindade de Andrade, da Polícia Civil de Minas Gerais, é o homem que aparece xingando Rafaela Drumond em um vídeo gravado por ela. A informação foi confirmada ao BHAZ pela defesa do policial, que afirma que a fala foi “tirada de contexto”.

Andrade atuava na comarca de Carandaí com Rafaela Drumond e tirou uma licença para tratamento médico em 4 de julho deste ano. O corpo da mulher foi encontrado pelos pais na cidade de Antônio Carlos, a 51 km de onde trabalhava, em junho.

Em contato com a reportagem, o advogado Marcelo Chaves afirma que seu cliente e Rafaela tinham um relacionamento “estritamente profissional”. A advogada da família da vítima, no entanto, aponta Andrade como um dos homens que assediavam a agente.

“Houve entraves, eu não nego que o vídeo é dele. Mas foi um entrave isolado. Depois, eles passaram a ter a convivência profissional necessária para desempenharem suas funções. Mas não sei detalhes, essas são as informações que o cliente me passou”, afirma Chaves.

‘É muita cabecinha fraca’, disse investigador

Na gravação, Rafaela fala com um homem – identificado como Celso – e os dois discutem. “Grava e leva pro Ministério Público, pro juiz, pra p*** que pariu, pro diabo, pra tudo que você quiser”, diz ele quando nota ela filmando (veja abaixo).

“Não sei por que você ficou tão estressado, eu não falei nada demais contigo”, rebate ela. “Você nunca fala nada demais”, ironiza o investigador. Na sequência, Rafaela responde que não se esquecerá do que ele a chamou. “De tudo que eu falei ela tá preocupada com ‘p*ranha’. É muita cabecinha fraca, é muita cabecinha fraca”, diz ele.

Marcelo afirma que Rafaela gravou o vídeo em agosto do ano passado e que, depois disso, os policiais conviveram por quase um ano. Ele pontua que a escrivã e o investigador eram de departamentos distintos e que ela não respondia a ele.

(Arquivo pessoal)

Em áudios enviados a amigos antes de morrer, a mulher desabafou sobre situações de perseguição na delegacia. Ela cita dois homens em específico.

“Eu nunca mais olhei na cara dele dentro da delegacia, eu finjo que nem tô vendo […] E são os dois machistas da delegacia: o delegado e o inspetor. É muita piadinha, eu não suporto essas piadinhas que fazem comigo, só porque sou mulher”, falou.

Sem negar que Celso agrediu Rafaela Drumond verbalmente, o advogado do investigador afirma que o vídeo captou o fim da discussão. “O início está relatado no depoimento dele, mas não posso divulgar pelo sigilo das investigações”, conclui a defesa.

Tranferências e licença médica

Segundo publicação no Diário Oficial do governo, a licença de Celso iniciou-se em 4 de julho, com duração de 60 dias. Ao longo das investigações, Andrade e um delegado que trabalhava com Rafaela foram removidos da comarca de Carandaí para Conselheiro Lafaiete.

Pouco depois, Celso acabou transferido para Congonhas, cidade a mais de 52 km de onde trabalhava inicialmente. Marcelo Chaves afirma, porém, que o cliente nunca chegou a ficar lotado após as transferências – assim que a repercussão do suposto envolvimento no caso veio à tona, Andrade buscou um médico.

“Eu presumo que a remoção tenha sido por causa do ocorrido, também para evitar uma comoção pública. Deixá-lo na cidade seria difícil até para ele. Mas eu não enxergo como uma punição”, defende.

“Efetivamente, fisicamente, ele não esteve nunca lotado em Congonhas. Logo que começou o rebuliço, já começou a fazer o tratamento”, continua o advogado.

Para Marcelo, que atua na defesa de Celso com Tatiana Cavalieri, o investigador está sendo “crucificado”. “Há um procedimento a ser apurado, em andamento, com uma investigação rigorosa. Mas ele já está condenado pela imprensa, pelas redes sociais, pela defesa da família. Diante disso, o abalo psicológico é notório”, afirma.

Luta diária por direitos

O caso de Rafaela foi registrado como suicídio após o corpo ser encontrado pelos pais dela em Antônio Carlos, a 51 km de onde ela trabalhava. De acordo com a advogada Raquel Fernandes, na última sexta-feira (14) houve uma audiência pública na qual outras servidoras relataram serem vítimas de situações similares na corporação.

“Uma delas teve a casa rondada por uma viatura, uma pessoa que se diz policial rondou a casa dela, ligou a sirene. E ela se sentiu muito ameaçada em relação a isso, até porque no dia seguinte ela ia dar um testemunho na audiência sobre os assédios dentro da polícia”, afirma a advogada.

O BHAZ procurou a advogada da família de Rafaela Drumond sobre as declarações da defesa de Celso. Em nota, Raquel defende o enfrentamento da violência contra a mulher para construir relações sociais mais justas e igualitárias.

“Reforçamos nosso total repúdio a qualquer tipo de arguição que tente justificar, de forma leviana, dentro ou fora de contexto, atos de coerção e violência psicológica em desfavor da Mulher, que no caso ainda se configura de forma clara, como assédio moral e assédio sexual”, diz o comunicado.

A defesa ainda reafirma o compromisso de luta diária pelo reconhecimento da mulher “como ser de direitos, no fim das relações de opressão existentes na sociedade e no enfrentamento à violência, seja ela moral, psicológica ou sexual”.

Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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