Investigador que trabalhava com escrivã encontrada morta tira licença da polícia

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Rafaela Drumond tinha 31 anos e trabalhava como escrivã em Carandaí (Reprodução/Redes Sociais)

O investigador Celso Trindade de Andrade, da Polícia Civil de Minas Gerais, tirou licença da corporação para tratamento de saúde. Ele trabalhava com a escrivã Rafaela Drumond, morta em junho após denunciar variados assédios por parte de colegas de trabalho.

Segundo publicação no Diário Oficial do governo, a licença iniciou-se em 4 de julho, com duração de 60 dias. Em contato com o BHAZ, a advogada da família de Rafaela aponta Andrade como um dos agentes que assediavam a escrivã.

“No nosso entendimento, da defesa da família da Rafaela, com certeza, é uma manobra para ele tentar se safar. Não sabemos os reais motivos, vamos pedir esclarecimentos para polícia porque fomos surpreendidos por esse fato na data de hoje”, diz Raquel Fernandes.

‘Não suporto essas piadinhas’

Ao longo das investigações, Celso Andrade e um delegado que trabalhava com Rafaela foram removidos da comarca de Carandaí para Conselheiro Lafaiete. Como uma das testemunhas atuava no local, Raquel pediu uma nova transferência e Celso acabou lotado em Congonhas, a 20 minutos de Carandaí.

Em um vídeo que Rafaela gravou antes de morrer, um agente da PCMG – apontado pela família como Celso – aparece agredindo-a verbalmente. Em áudios que ela enviou a amigos, relatou que colegas de trabalho a perseguiam.

“Isso é muita falta de respeito. É isso que eu sofro, desde o ano passado. Eu nunca mais olhei na cara dele dentro da delegacia, eu finjo que nem tô vendo […] E são os dois machistas da delegacia: o delegado e o inspetor. É muita piadinha, eu não suporto essas piadinhas que fazem comigo, só porque sou mulher”, diz em gravação acessada pelo BHAZ.

Investigação segue em sigilo

O caso de Rafaela foi registrado como suicídio após o corpo ser encontrado pelos pais dela em Antônio Carlos, a 51 km de onde ela trabalhava. Ainda de acordo com Raquel, na última sexta-feira (14) houve uma audiência pública na qual outras servidoras relataram serem vítimas de situações similares na corporação.

“Uma delas teve a casa rondada por uma viatura, uma pessoa que se diz policial rondou a casa dela, ligou a sirene. E ela se sentiu muito ameaçada em relação a isso, até porque no dia seguinte ela ia dar um testemunho na audiência sobre os assédios dentro da polícia”, afirma a advogada.

Em nota à reportagem, a Polícia Civil afirma que, “devido ao Código de Ética Médica, não informa os motivos da concessão de licença para tratamento de saúde dos servidores”.

“A investigação sobre as circunstâncias da morte da escrivã Rafaela Drumond segue, em sigilo, na Corregedoria-Geral de Polícia Civil. Mais informações serão repassadas ao final do inquérito policial”, diz o comunicado.

O BHAZ entrou em contato com a família de Celso Andrade, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto caso ele deseje se manifestar.

Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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