Crianças aptas à adoção ‘desfilam’ em shopping e caso gera polêmica

Divulgação/OAB-MT

Uma entidade voltada para a adoção de crianças realizou um desfile em um shopping de Cuiabá (MT) com 20 crianças aptas à adoção. O evento repercute, pois, enquanto alguns apoiam a ação, outros criticam a exposição das crianças e adolescentes com idades de 4 a 17 anos.

Realizado no Pantanal Shopping, nessa segunda-feira (21), o evento fazia parte da “Semana da Adoção”, conforme informou a Ordem dos Advogados do Brasil Mato Grosso (OAB-MT), e tinha como objetivo “promover a convivência social” das crianças e adolescentes” e não a apresentação das mesmas para uma futura adoção.

A entidade organizou a “Adoção na Passarela”, em parceria com a Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara).

Esta foi a segunda edição do desfile e, conforme a OAB-MT, ele teve “absoluta autorização judicial conferida pelas varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande”.

Uma das justificativas da OAB-MT para a realização do evento é colocar em discussão a adoção tardia com a sociedade. “A falta de interessados na chamada ‘adoção tardia’ faz com que seja urgente a tomada de medidas como a Semana da Adoção, que tornam público esse problema social”, informou o órgão, em nota.

Em 2016, data da primeira edição, dois adolescentes “fora dos parâmetros de preferência da fila de interessados” foram adotados, segundo a OAB-MT.

Os organizadores disseram que as crianças e adolescentes não foram obrigados a participar e que ao serem informadas do desfile “todos expressaram alegria”.

Já o Pantanal Shopping alegou que “o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e adolescente”.

Os posicionamentos da OAB-MT e do Shopping Pantanal podem ser lidos na íntegra abaixo.

Repercussão na internet

Apesar dos posicionamentos o caso continua repercutindo nas redes sociais. Alguns comparam a ação ao tempo da escravidão, quando os escravos eram oferecidos para os futuros patrões.

Nota da OAB-MT na íntegra:

“Diante da repercussão do evento “Adoção na Passarela”, realizado pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (AMPARA) e pela Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), as instituições vêm a público esclarecer que:     

– Nunca foi o objetivo do evento – parte integrante de uma série de outros que compõem a “Semana da Adoção” – apresentar as crianças e adolescentes a famílias para a concretização da adoção. A ideia da ação visa promover a convivência social e mostrar a diversidade da construção familiar por meio da adoção com a participação das famílias adotivas;     

– Nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a participar do evento e todos eles expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade de participarem de um momento como esse. A ação deu a eles a oportunidade de, em um mundo que os trata como se invisíveis fossem, poderem integrar uma convivência social, diretriz do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Esse evento, inclusive, ocorre pela segunda vez;     

– Crianças e adolescentes que desfilaram o fizeram na companhia de seus “padrinhos” ou com seus pais adotivos. A realização do evento ocorreu sob absoluta autorização judicial conferida pelas varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, bem como o apoio do Poder Judiciário.     

– A OAB-MT e a Ampara repudiam qualquer tipo de distorção do evento associando-o a períodos sombrios de nossa história e reitera que em nenhum momento houve a exposição de crianças e adolescentes;     

– Vale destacar que o desfile foi apenas uma das ações da “Semana da Adoção”. Ao longo dos dias do evento foram realizados também palestras, seminários e recreação para as crianças;     

– A falta de interessados na chamada “adoção tardia” faz com que seja urgente a adoção de medidas como a Semana da Adoção, que tornam público esse problema social. Conforme o Relatório de Dados Estatísticos do Cadastro Nacional de Adoção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 8,7 mil crianças e adolescentes aguardam por uma família.   

– Na edição anterior do evento, realizado em 2016, dois adolescentes, cujo perfil está fora dos parâmetros de preferência da fila de interessados, foram adotados graças ao trabalho realizado, que deu visibilidade à questão. A iniciativa tem sido tão exitosa na forma como aborda o problema que outros Estados realizaram eventos semelhantes, como “Esperando por você” (ES), “Adote um Pequeno Torcedor” (PE) e “Adote um Pequeno Campeão” (MG);     

– Por fim, a Ampara e a OAB-MT, realizadoras do evento, agradecem a disposição de todos os demais órgãos e entidades apoiadores, dentre eles o Tribunal de Justiça de Mato Grosso e o Pantanal Shopping, por entenderem a grandeza de sua finalidade e abraçarem, de forma voluntária, a causa da adoção no Estado.

Também conclamam a sociedade em geral para uma discussão séria e efetiva sobre o tema para que mais estratégias possam ser adotadas em prol do direito de possibilitar o acolhimento familiar a essas crianças e esses adolescentes.”

Nota do Pantanal Shopping na íntegra:

“O Pantanal Shopping informa que repudia a objetificação de crianças e adolescentes e esclarece que o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e adolescente com palestras e seminários conduzidos por órgãos competentes que possuem legitimidade no assunto.

O shopping afirma que a ação foi promovida pela Associação Mato Grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da OAB-MT e reitera que o evento contou ainda com o apoio do Ministério Público do Estado do Mato Grosso, Poder Judiciário do Estado do MT, Governo Estadual do MT, Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania, Sindicato dos Oficiais de Justiça, Associação Nacional do Grupo de Apoio à Adoção e Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, além do Tribunal de Justiça do Mato Grosso.”

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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