Ex-vice da Caixa acobertava denúncias de assédio sexual contra Guimarães, diz funcionária

Ex-vice-presidente da Caixa
Celso Leonardo Barbosa supostamente ‘marcava’ as denunciantes (Reprodução/Mercado e Eventos/YouTube)

Funcionárias da Caixa denunciam outros dirigentes de acobertar as acusações de assédio sexual contra Pedro Guimarães, ex-presidente da empresa. Um deles seria Celso Leonardo Barbosa, ex-vice-presidente de Negócios de Atacado do banco, que renunciou ao cargo na sexta-feira (1°). As denúncias foram feitas em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.

Uma das funcionárias que acusou Guimarães de assédio moral e sexual disse ao Fantástico que o ambiente de trabalho era como “uma prisão velada, uma prisão de ser monitorada pelo fato de a gente ter dito não”. Ela relata ter sido vítima do assédio por parte do ex-presidente durante uma viagem.

“Ele sentou perto de mim e ele passava a perna em mim e afastava a minha perna, e ele passava a perna em mim, e ficou muito constrangedor porque a gente não espera aquilo”, disse. Também é ela quem afirma que Celso Barbosa acobertava os casos, e tentava vigiar as mulheres que diziam não, fingindo acolhê-las.

“Essas mulheres que receberam o ‘carimbo’ do Pedro, elas ficavam subordinadas ao Celso. Não é que ele acolhia. Era uma forma de monitorar para ver se aquela história poderia, por exemplo, vazar”, explicou. “O 01 assedia e 02 protege com intuito de monitorar”, disse outra denunciante.

Uma delas explicou ainda que “não era uma opção” recusar os convites de Guimarães para jantar, por exemplo. Ela ainda relembra uma dessas saídas: “Ele começou a falar coisas muito inapropriadas sobre traições, sobre não ter problema trair, um linguajar muito chulo… Ele me puxou pelo braço, me segurou e falou olhando nos meus olhos que na próxima viagem iríamos só nós dois”.

Celso Leonardo Barbosa renunciou ao cargo na manhã de sexta-feira. Ao Fantástico, o advogado dele diz que ele saiu da Caixa mesmo não havendo “absolutamente nada” contra ele, para que “não se questione a imparcialidade das apurações”.

TCU investiga

O TCU (Tribunal de Contas da União), além do MPF (Ministério Público Federal), também investiga as acusações de assédio contra Pedro Guimarães. A presidente do órgão, ministra Ana Arraes, comunicou na quarta-feira (29), que determinou internamente a solicitação de informações sobre os mecanismos de prevenção e combate ao assédio existentes na Caixa.

Agora, a investigação foi aberta a pedido do Ministério Público de Contas, feito pelo subprocurador Lucas Rocha Furtado. No processo que abre a apuração, o TCU afirma que vai apurar se o ex-presidente cometeu assédio sexual e moral contra funcionários, “o que, além de caracterizar prática criminosa, configura flagrante violação ao princípio administrativo da moralidade”.

Denúncias

As denúncias contra o ex-presidente da Caixa foram reveladas pelo portal Metrópoles na última terça-feira (28). Por nota, a Caixa disse não ter conhecimento sobre as denúncias. Pedro Guimarães deixou o cargo na quarta-feira (29), e Daniella Marques, braço direito do ministro da Economia Paulo Guedes, assumiu.

Em carta aberta publicada, Pedro definiu as denúncias como “cruéis, injustas e desiguais” e garante que a situação “será corrigida na hora certa com a força da verdade”. O agora ex-presidente da Caixa acrescenta, em outro trecho, que um dos motivos para que ele deixe o cargo é o “rancor político”.

Guimarães é um dos nomes mais próximos ligados a Jair Bolsonaro (PL), estando na presidência da Caixa desde o início do governo. Ele geralmente acompanha o presidente em viagens e participa das lives do mandatário na internet.

Segundo o Metrópoles, no fim do ano passado, um grupo de funcionárias resolveu denunciar os assédios sofridos. Todas as mulheres ouvidas pela reportagem trabalham ou trabalharam em equipes ligadas diretamente à presidência da instituição.

Cinco das vítimas, que pediram anonimato, deram entrevistas ao portal e contaram situações em que se sentiram abusadas por Pedro Guimarães, em compromissos de trabalho. Em relatos fortes, as mulheres contam sobre toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites inapropriados.

O Metrópoles enviou uma série de perguntas ao presidente da instituição, mas não obteve respostas pontuais. Por meio de nota enviada ao portal, a Caixa disse que “não tem conhecimento das denúncias apresentadas pelo veículo”. A instituição disse ainda que “adota medidas de eliminação de condutas relacionadas a qualquer tipo de assédio” e que possui um canal de denúncias.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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