Julho tem a maior inflação desde 2002 e combinação típica dos brasileiros deve ficar ainda mais cara

café
Café e leite aumentaram de preço no acumulado dos últimos doze meses e podem subir ainda mais (Banco de imagens: Envato)

A inflação de julho (0,96%) foi a mais alta do mês desde 2002, quando o índice foi de 1,19%. Conforme dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados hoje (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no acumulado dos últimos doze meses, o país registrou uma variação de 8,99% nos preços. Já entre os alimentos, o arroz subiu muito acima da média do IPCA, o índice oficial de inflação do país, assim como o feijão.

Conforme o índice, o arroz subiu 39,7%, o feijão fradinho 42,4%, o tomate 43%, a mandioca 37,2% e o leite em pó 16,5%. As carnes registraram inflação acumulada de 34,3%, com destaque para músculo (43,4%), patinho (39,1%), picanha (32,9%) e frango em pedaços (21,9%). Além dos alimentos, o botijão de gás, essencial para a cozinha de milhões de brasileiros, subiu 29,3% em doze meses.

Nos combustíveis, o álcool (etanol) e a gasolina acumularam uma alta de 57,3% e 39,7%, respectivamente, nos últimos doze meses. A energia elétrica residencial, por sua vez, subiu 20,1% no mesmo período. O item foi o que mais pesou na inflação de julho, seguido da passagem aérea, da gasolina e do gás de botijão.

A inflação de 8,99% está acima dos 8,35% observados nos 12 meses imediatamente anteriores e da meta estabelecida pelo Banco Central para este ano, de 3,75%, que ainda tem uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos (2,25% a 5,25%). O consumidor ainda pode ter que enfrentar mais altas nos preços.

Café

Além do arroz com feijão, outra combinação familiar à mesa dos brasileiros deve ficar ainda mais cara. Trata-se do café com leite. No acumulado do ano, o consumidor brasileiro viu o café moído subir 13,21%, enquanto o solúvel avançou 3,69%, conforme dados do IPCA. O leite longa vida, por sua vez, teve elevação de 11,29%.

As seca e as recentes geadas que atingiram o país tendem a pressionar os valores do café e do leite até as gôndolas dos supermercados, já que a dupla de fenômenos climáticos afeta a produção no campo. Na visão de analistas, repasses dos aumentos aos produtos que chegam à mesa do consumidor são praticamente certos. Resta saber a magnitude dos reajustes e a velocidade em que devem ocorrer.

Problemas no futuro

No caso do café, a safra deste ano já era impactada pela escassez de chuva. Com o registro de geadas em julho, em Minas e em São Paulo, a situação ficou ainda mais complicada. É que, ao causar danos aos cafezais, o frio intenso tende a reduzir a produção em 2022. Em geral, a geada não resulta em grandes problemas para os grãos prontos para colheita, e, sim, para safras futuras.

O tamanho exato dos estragos ainda está sendo calculado. De acordo com analistas, é preciso aguardar para ver como as plantas irão reagir nos próximos dias aos impactos das baixas temperaturas. O Brasil é o principal produtor de café do mundo.

Diante do cenário negativo, as cotações do grão dispararam. Em julho, a saca da variedade arábica rompeu a barreira dos R$ 1 mil, acumulando alta de 20,16% no mês, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Ao final de 2020, a saca custava R$ 606,69. “Os preços do café são afetados quando há projeções de problemas mais à frente. Antes, vinham subindo com essa questão da seca. Agora, existe uma dúvida sobre o tamanho dos impactos com a geada”, sublinha Renato Garcia Ribeiro, pesquisador de café do Cepea.

Leite

O preço do leite no campo também disparou. Conforme o Cepea, o valor pago ao produtor em julho chegou a R$ 2,3108 por litro no país. É o recorde real – que leva em conta a inflação – da série histórica, com dados desde 2005. O preço se refere ao leite captado no mês anterior, junho.

O valor mais alto, contudo, não anima os produtores. Pelo contrário. Natália Salaro Grigol, pesquisadora de leite do Cepea, diz que o avanço reflete o aumento dos custos no campo, e não uma rentabilidade elevada para quem vive da atividade. Grãos como o milho, insumo usado na alimentação de vacas, subiram durante a pandemia.

A escassez de chuvas no país contribuiu para diminuir a oferta e aumentar os preços da commodity. Não bastasse isso, geadas destruíram pastagens, que também serviriam para alimentar os animais. “Essa combinação gera um estrangulamento nos custos de produção”, define Natália.

Aumento no custo, queda na produção

O produtor Cláudio Denti Masson, 50, sentiu os impactos adversos do clima. Ele cultiva café em uma área de 60 hectares no município paulista de Pardinho (cerca de 200 km da capital) e tem 50 vacas em fase de lactação.
Segundo Masson, a seca e a geada danificaram plantações do grão, e a produção de leite ficou mais custosa nos últimos meses.

“A pastagem, por exemplo, já não estava muito boa por causa da seca. Aquilo que ainda tinha foi queimado pela geada. Toda a alimentação das vacas terá de ser feita com ração e suplementos. O custo fica maior, mas a produção cai. Isso, com certeza, vai gerar inflação”, afirma.

O produtor também menciona que, para piorar o quadro, houve aumento nos custos de pesticidas e adubos durante a pandemia. Segundo ele, os itens subiram de 70% a 100% no intervalo de um ano. “O leite e o café sofreram com a seca e a geada. O café sente isso diretamente, porque a plantação é afetada. No caso do leite, os produtores precisam adicionar alimentos para os bovinos, com custo maior”, frisa o pesquisador Felippe Serigati, do centro de estudos FGV Agro. “Cedo ou tarde, uma fração desses aumentos vai chegar à prateleira do supermercado. Não é um repasse de 100%, mas alguma coisa vai chegar lá”, acrescenta.

Cláudio Brisolara, gerente do departamento econômico da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), vai na mesma linha. Segundo ele, a perspectiva é de aumento nos preços ao longo da cadeia produtiva.
Brisolara destaca que, no caso do leite, a recuperação das pastagens danificadas pelas geadas pode levar de quatro a seis meses. Já em relação ao café, os impactos dos eventos climáticos tendem a ser mais longos, pontua o analista.

A questão é que o leite também pode ter reflexos na produção de derivados, como queijo e manteiga, por exemplo.
“Algum repasse vai chegar ao consumidor, ou a conta não vai fechar. Pode ser que a indústria até absorva um pouco da alta, assim como o varejo”, aponta.

Com Folhapress

Edição: Giovanna Fávero

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