Este médico viralizou ao postar uma foto com uma paciente (e expôs uma dura realidade brasileira)

Reprodução/Instagram

Com quantos médicos negros você já se consultou ao longo da vida? Este é o questionamento que surgiu a partir de uma foto publicada no Facebook, na última quinta-feira (23), e que tem dado o que falar desde então. A imagem mostra o médico Fred William, do Rio de Janeiro, ao lado de uma paciente de 74 anos. Ao todo, o clique já foi compartilhado mais de 7,4 mil vezes.

Na legenda da postagem, Fred ressaltou que a paciente, Dona Eunice, nunca havia se consultado com um médico negro apesar da idade avançada. Seguidores do profissional – ele tem mais de 12 mil apenas no Facebook -, passaram a comentar a publicação contando as próprias experiências dentro de consultórios espalhados país afora. A maioria deles diz nunca ter encontrado um médico, ou médica, que não fosse branco (a). E a discussão rendeu.

Internautas passaram a debater os motivos pelos quais os negros são minoria na profissão. Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, no total da população brasileira, 7,6% se declararam negros e 43,1% pardos. Já a pesquisa Demografia Médica no Brasil 2018, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), indica que apenas 1,8% dos médicos recém-formados no Brasil se declararam negros e 16,2% pardos.

Outro estudo divulgado ainda em 2017 mostra que as desigualdades raciais, de gênero e sociais continuam altas no país. Segundo o relatório do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj), pessoas pretas e pardas (chamadas negras pelo próprio IBGE), quando somadas, são maioria entre os brasileiros, 55% da população. No entanto, em relação aos rendimentos desse grupo, à escolaridade e às classes sociais, estão em desvantagem quando comparadas às pessoas brancas, no topo dos indicadores.

O documento do Iespe/Uerj analisou os números de 2011 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), elaborada pelo IBGE. As mulheres negras, em geral, estão sempre nos mais baixos patamares de remuneração.

O rendimento delas era o menor da pesquisa, R$ 800, enquanto as mulheres brancas obtinham, por mês, R$ 1.496. Já homens brancos alcançaram quase o dobro do rendimento médio das pretas e pardas, R$ 1.559.

O estudo afirma que entre as raças não há mobilidade social. Ou seja, é muito difícil para uma pessoa negra ascender socialmente e melhorar de vida ou se manter lá.

“Pretos e pardos que nascem, ou melhor, que estão no alto, que têm os melhores empregos, têm mais dificuldade de manter esse status social, tendem a cair mais do que os brancos que nascem nessa condição”, explicou o cientista político João Feres Júnior, coordenador do levantamento com base na Pnad. Júnior diz ainda que os negros que nascem pobres têm mais dificuldade de subir para as ocupações mais altas ou médias do que os brancos que nascem pobres.

A pesquisa alerta que, em tempos de crise, a tendência é que as desigualdades se aprofundem, como é o caso do desemprego. A falta de trabalho já atinge de maneira mais severa a população preta, depois a parda e, por fim, a branca.

“A tendência histórica em sociedades marcadas pela desigualdade, como a nossa, é de as elites perderem menos em tempos de crise e ganharem mais em tempos de bonança”, conclui o documento, defendendo a manutenção de políticas públicas específicas para negros.

Com Agência Brasil 

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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