Monark defende existência de partido nazista no Brasil, perde patrocínios e é criticado por entidades judaicas

Monark
Podcaster defendeu que pessoas devem ter direito de ser ‘antijudeu’ (Reprodução/Flow Podcast/YouTube)

O podcaster Monark, do Flow, é alvo de nova onda de represálias após defender a existência de um partido nazista no Brasil reconhecido por lei. O influenciador questionou se “as pessoas não têm direito de ser idiotas” em episódio do podcast com os deputados federais Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB), nessa segunda-feira (7).

Com as falas alusivas ao nazismo sob argumento de defesa da liberdade de expressão, o Flow perdeu o patrocínio da Flash Benefícios e os direitos de transmissão do Campeonato Carioca. Em outrubro do ano passado, o iFood também encerrou a parceria com o Flow após Monark questionar se “ter uma opinião racista é crime”.

Entidades judaicas, como a Conib (Confederação Israelita do Brasil) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo, além do Museu do Holocausto no Brasil, também repudiaram as declarações de Monark.

Partido nazista

Em conversa com os parlamentares durante gravação do Flow Podcast, Monark afirmou que “a esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical” e defendeu que os dois lados deveriam ter espaço na política brasileira.

“Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei”, disse. Logo, a deputada Tabata Amaral rebateu: “liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca a vida do outro em risco”.

“As pessoas não têm direito de ser idiotas?”, questionou Monark. Tabata Amaral respondeu lembrando que o nazismo coloca toda a população judaica em risco, fato que foi contestado pelo influenciador.

“De que forma? Quando é uma minoria, não põe [em risco]. Mas era quando era uma maioria. Eu acho que dentro da expressão a gente tem que liberar tudo”, disse. “Se o cara quer ser antijudeu, eu acho que ele tinha direito de ser”, disparou Monark em outro momento.

Conforme a lei brasileira, é crime “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”.

Repúdio

As declarações feitas ontem logo começaram a repercutir nas redes sociais, provocando revolta nos internautas. Não é a primeira vez que Monark é criticado por usar a liberdade de expressão para defender o “direito” do preconceito.

No ano passado, o podcaster perguntou a um advogado, por meio do Twitter, se “ter opinião racista é crime”. Ao ser criticado, ele disse que “querem criminalizar o pensamento” e que “autoritarismo começa assim”.

Desta vez, a FFERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) anunciou o rompimento do contrato com o Flow, que permitia que o canal do podcast no YouTube transmitisse o Campeonato Carioca 2022.

“A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, defensora da igualdade, do respeito e contrária a qualquer tipo de preconceito, anuncia o rompimento do contrato com o Estúdios Flow, por apologia ao nazismo, regime cujos crimes contra a humanidade até os dias de hoje causam horror a qualquer um que preze pela vida”, diz nota da FFERJ.

A Confederação Israelita do Brasil também condenou a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e do “direito de ser antijudeu”, feita por Monark. “O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera ‘inferiores'”, reforça a CONIB (leia a nota na íntegra abaixo).

“Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”, completa a entidade.

A Federação Israelita do Estado de São Paulo também repudiou as manifestações do podcaster e afirmou que manifestações como essa evidenciam o grau de descomprometimento de Monark com a democracia e os direitos humanos.

“Monark insistiu que suas falas estariam escudadas no princípio da liberdade de expressão, demonstrando, a um só tempo, desconhecer a história do povo judeu, e a natureza de um princípio constitucional essencial, muitas vezes deturpado por aqueles que insistem em propagar um discurso que incita o ódio contra minoria”, defende a federação em nota (leia na íntegra abaixo).

Partido nazista refletia minoria

O Museu do Holocausto, em Curitiba, no Paraná, também se manifestou contra as declarações de Monark. Por meio de publicações nas redes sociais, o espaço de educação, memória e pesquisa lembrou que o partido nazista alemão representava uma minoria que conseguiu crescer.

O museu convidou o podcaster a visitar o espaço e aprender sobre as consequências do governo nazista alemão. “Aqui, você perceberá que o nazismo foi muito além de pessoas exercendo, em suas palavras, o ‘direito de serem idiotas'”, diz publicação.

“Aqui, aprenderá que o partido nazista refletia uma pequena minoria e que, por ter suas ideias de supremacia e extermínio consentidas, pôde crescer e perpetrar o Holocausto. Ser ‘antijudeu’ não é ser contra um conjunto de ideias, mas contra a existência de um grupo de pessoas”, explica.

O museu finalizou a mensagem reforçando que a liberdade individual se limita quando se choca com a liberdade do outro, além de usar o slogan do espaço de memória: “por toda a vida vamos lembrar”.

Pedido de desculpas

Após a repercussão negativa das declarações, Monark publicou vídeos no Twitter em que pede desculpas e diz que estava bêbado durante a gravação do podcast. “Eu errei, a verdade é essa”, começou.

“Eu estava muito bêbado e fui defender uma ideia, que acontece em outros lugares do mundo, nos Estados Unidos, por exemplo. Mas fui defender de um jeito muito burro, estava bêbado, falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica. Eu peço perdão”, disse o influenciador.

Além do perdão, no entanto, ele também pediu “um pouco de compreensão”, defendendo que foram quatro horas de conversa com os deputados e reforçando que estava bêbado.

“Errei na forma como me expressei, dá a entender que estou defendendo coisas abomináveis. Eu peço a compreensão de vocês e peço desculpas a toda a comunidade judaica. Eu não queria ser insensível, não foi minha intenção, e convido os maiores representantes desta comunidade a virem conversar comigo para me explicarem mais sobre toda a história”, finalizou.

Nota da Conib na íntegra

“A CONIB (Confederação Israelita do Brasil) condena de forma veeemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o “direito de ser antijudeu”, feita pelo apresentador Monark, do Flow Podcast. O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera “inferiores”. Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”.

Nota da Federação Israelita do Estado de São Paulo na íntegra

“Na noite dessa segunda-feira (7), o host do “Flow Podcast”, Bruno Aiub, o Monark, manifestou-se de modo absolutamente inaceitável enquanto entrevistava os deputados federais Kim Kataguiri e Tábata Amaral. Aiub defendeu, de forma expressa, o direito de alguém querer ser anti-judeu, bem como o direito à existência de um partido nazista no Brasil.

Mesmo contestado pela deputada Tábata Amaral, Monark insistiu que suas falas estariam escudadas no princípio da liberdade de expressão, demonstrando, a um só tempo, desconhecer a história do povo judeu, e a natureza de um princípio constitucional essencial, muitas vezes deturpado por aqueles que insistem em propagar um discurso que incita o ódio contra minorias.

Nós, da Federação Israelita do Estado de São Paulo, repudiamos de forma veemente esse discurso e reiteramos nosso compromisso em combater ideias que coloquem em risco qualquer minoria. Manifestações como essa evidenciam o grau de descomprometimento do youtuber com a democracia e os direitos humanos”.

Edição: Giovanna Fávero
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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