Mulher diz que ‘preto tem que morrer’ e é presa em flagrante em shopping de SP

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Mulher olhava roupas no momento em que sofreu racismo em shopping da cidade de Santos (Reprodução/Redes Sociais)

Uma mulher de 54 anos foi vítima de racismo enquanto fazia compras no Praiamar Shopping, em Santos (SP), na sexta-feira (12). A autora é uma mulher de 34 anos, que foi presa em flagrante. Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), a indiciada disse que “preto tem que morrer”.

A mulher estava passeando no shopping junto com os familiares quando teve o primeiro contato com a agressora nos corredores do estabelecimento. Ela estava junto com a mãe idosa, que usava andador, e ofendia a mais velha enquanto passeavam juntas.

Laila dos Santos, contadora e filha da vítima, relatou ao A Tribuna que todos em volta pararam para olhar a cena. “A gente ficou espantada com essa jovem maltratando a senhora, pois estava gritando”.

Desentendimento com agressora começa

Em determinado momento, Laila estava parada em frente à loja Riachuelo, enquanto aguardava seus parentes. Nesse instante, a agressora começou a puxar a bolsa da própria mãe, pedindo um cartão. Ela se incomodou com os olhares, e questionou o que Laila estaria olhando.

“‘Se está incomodada chama a polícia, o cartão é meu'”, disse a agressora à Laila, segundo relatou. Ela ainda conta que disse que a mulher não deveria tratar a mãe daquela forma, e a agressora entrou na loja.

Laila lembra que ficou parada em frente à loja, e a mãe entrou no local para ver roupas. Foi então que a agressora se dirigiu até a mãe dela e proferiu palavras racistas. De acordo com a nota da SSP enviada ao BHAZ, testemunhas disseram que “a indiciada se aproximou da vítima, tocou em seu ombro e disse ‘preto tem que morrer’, se afastando em seguida” (leia a nota na íntegra abaixo).

‘Nessas horas ninguém diz nada’

No relato ao A Tribuna, Laila ainda disse que uma funcionária da loja e clientes ouviram, mas que “nessas horas ninguém diz nada”. A contadora explicou também que a mãe ficou abalada com a violência.

Vídeo gravado por Laila mostra o momento em que um segurança conversa com a mulher autora das ofensas racistas. Antes, a própria contadora se dirigiu à agressora e questionou o que ela havia dito para a mãe dela.

Conforme o relato da filha da vítima, a agressora tentou reverter a situação e pediu “para ir embora porque tinha uma mãe doente. A gente não deixou e falei que ia chamar a polícia”. Veja o vídeo:

Filha da vítima fica insatisfeita com auxílio do shopping

Laila contou que pediu ajuda dos seguranças do shopping, mas eles pediram pra que ela não filmasse para não expor a situação. A contadora disse que foi convidada para ir até uma sala privada, mas não quis ir e ficou no mesmo lugar até a chegada da polícia.

A indiciada ainda pediu que chamassem sua mãe, e a idosa disse que a filha tem problemas mentais e laudo psiquiátrico. “O pessoal do shopping não me dava respaldo. Falava para a gente se acalmar, não tumultuar a situação e esperar a polícia chegar. Todo mundo falava que não iria dar em nada porque ela tinha laudo”.

De acordo com Laila dos Santos, ela e a família receberam orientações para não dar continuidade com a denúncia. A contadora relatou que eles começaram a se sentir como errados na história por quererem denunciar. Apenas uma funcionária, segundo Laila, se sentiu mal com a situação e se propôs a ajudar.

Mulher é presa em flagrante

A Polícia Militar compareceu ao local e conduziu todos os envolvidos à delegacia. Conforme informado pela Secretaria de Segurança Pública, a agressora “foi presa em flagrante por praticar discriminação”. “Ela foi autuada em flagrante e encaminhada a CPJ de Santos, onde o caso foi registrado”, diz outro trecho.

O Praiamar Shopping publicou uma nota no Instagram, neste domingo (14). No comunicado, o estabelecimento diz que ” é contra todo e qualquer tipo de discriminação e repudia o fato relatado”. A reportagem entrou em contato com a equipe da Riachuelo para um possível posicionamento, mas não obteve retorno.

O shopping esclareceu que “a equipe de segurança é treinada para que, em situações semelhantes, assim que relatado, por se tratar de questões que correspondem ao poder de segurança pública e judiciário, solicitarem ao cliente chamar a Polícia”. O estabelecimento disse estar “à disposição das autoridades” para apurações.

Shopping diz que seguranças ‘não negligenciaram’

“Vale ressaltar que em nenhum momento nossos seguranças negligenciariam a injúria racial feita, inclusive, foi prestado todo apoio à vítima, que desde início foi amparada e prestado todo apoio necessário para a segurança de ambas as partes”, finalizou o comunicado. Confira:

“Estão maltratando e ofendendo pessoas utilizando pretexto de um laudo para fazer o que querem. Isso tem que ser parado e impedido”, declarou Laila dos Santos. A contadora disse que a família está revoltada e em estado de choque. Segundo ela, a mãe lamenta e diz que “jamais imaginou passar por isso”.

Nota da SSP-SP na íntegra

Uma mulher, 34 anos, foi presa em flagrante por praticar discriminação ,contra uma outra mulher, 54, dentro de um shopping, no bairro Aparecida, cidade de Santos. Policiais militares foram acionados para atender a ocorrência. De acordo com testemunhas, a indiciada se aproximou da vítima, tocou em seu ombro e disse preto tem que morrer, se afastando em seguida. Ela foi autuada em flagrante e encaminhada a CPJ de Santos onde o caso foi registrado.

Edição: Roberth Costa
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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