Qual a diferença entre Ozempic, Wegovy e Mounjaro?

15/05/2025 às 14h49 - Atualizado em 02/06/2025 às 11h58
(Imagem ilustrativa: Adobe Stock)

A chegada do medicamento Mounjaro às farmácias do Brasil levanta mais uma vez o debate acerca das vantagens e riscos do uso de canetas para emagrecimento. O produto ainda pode ser comercializado sem receita e está sendo anunciado nas redes com valores a partir de R$ 1.406 (com desconto de laboratório). O BHAZ conversou com o médico endocrinologista Márcio Krakauer, coordenador do Departamento de Saúde Digital, Telemedicina e Inovação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), para entender como os populares, Ozempic, Wegovy e Mounjaro atuam no corpo humano e quem pode utilizar as aplicações.

Em Belo Horizonte, as medicações podem ser encontradas nas principais redes de farmácias como Araujo, Droga Raia, Pacheco e Pague Menos – todas com opção de venda pela internet.

Qual a diferença entre Ozempic, Wegovy e Mounjaro?

O especialista explica que a diferença entre os medicamentos está no princípio ativo: enquanto Ozempic e Wegovy levam a semaglutida na composição, o Mounjaro tem como substância ativa a tirzepatida. A fabricante dos dois primeiros pe a Novo Nordisk, enquanto o terceiro é produzido pela farmacêutica Eli Lilly.

Todos os três remédios mimetizam o GLP-1, um hormônio produzido no intestino após as refeições. “Quando a gente usa em doses elevadas desse hormônio, quando você estimula a produção, tem efeitos de redução da glicose e tem efeitos de redução de apetite importantes”, diz Krakauer.

A tirzepatida, no entanto, é um agonista duplo de GLP-1, e também do GIP, um peptídeo inibidor gástrico. A ação é semelhante à da semaglutida diminuindo a glicose no sangue e causando sensação de saciedade. No entanto, quando os dois hormônios são ativados, o efeito é potencializado.

“O efeito principal deles todos é redução do apetite para tratamento da obesidade, aumento da saciedade, então as pessoas tâm menos fome. Mas principalmente atuam nos órgãos aumentando a simulando a produção de insulina, melhorando a glicose”.

Quem pode tomar?

As canetas são indicadas para pacientes em tratamentos de diabetes tipo 2 e de obesos com índice de massa corporal (IMC) acima de 30. O médico conta que, inicialmente, os medicamentos foram estudados para a redução da glicose no sangue dos pacientes, mas o efeito do emagrecimento foi notado durante os testes.

“A grande analogia que se faz [das canetas de Mounjaro, Ozempic e Wegovy ] é com o Viagra. O Viagra foi estudado sempre para tratamento da hipertensão. Quando descobriram a molécula, foi um efeito colateral, mas que não era colateral também. Para a disfunção erétil. E aí depois foi transformado no remédio para a disfunção erétil, porém ele ele foi estudado inicialmente para hipertensão”, inicia.

“Então essas medicações, foram sempre estudados para o tratamento do diabético e são extremamente efetivos para isso. Mas descobriu-se que essas pessoas perdiam peso porque não comiam tanto, diminuía o apetite. E começaram a testar em doses mais mais altas, e aí perdia mais peso”.

“São drogas extremamente seguras, muito eficazes e, dependendo da dose, são indicadas ou só para A diabetes, ou para a diabetes e para a obesidade também. Então, tem sim suas indicações no tratamento da obesidade”, completa.

Tem efeitos colaterais?

Os efeitos colaterais estão geralmente ligados ao sistema gastrointestinal dos usuários. Na maioria dos pacientes se observa náuseas, vômitos, diarreia ou constipação, refluxo, azia, dor de estômago, entre outros.

“Eles são em geral leves ou moderados, mas cerca de 15% das pessoas podem ter sintomas muito intensos que podem levar a interrupção do remédio. Então, tem que tomar bastante cuidado em relação aos efeitos colaterais, ao manejo deles”, alerta o médico.

Há riscos?

O médico afirma que o uso das canetas emagrecedoras pode sim apresentar riscos à pessoas com contraindicações. “Pessoas com doença renal grave, problemas na vesícula, gestantes, quem tem pancreatite. Qualquer remédio tem riscos, então é preciso primeiro examinar se essa pessoa tem indicação para tomar”.

Posso tomar para emagrecer?

Para Márcio Krakauer, as canetas emagrecedoras ganharam fama por oferecer uma espécie de “milagre” para pessoas que estão na busca pelo corpo ideal.

“O ser humano busca o milagre em cápsulas, injeções, e para isso não importa o preço, importa o milagre. Mas a obesidade é uma doença crônica, controlável e que demanda uma mudança enorme de estilo de vida, mudança emocional, exercício físico, controle de outras questões”, pontua.

“A novidade é que as moléculas são mais potentes em doses maiores hoje. Nas doses maiores de tirzepatida, que é o Mounjaro, as pessoas podem perder de 20% a 25% do seu peso inicial. Mas isso é indicado para tratamento de pessoas obesas, em geral que tenham comorbidades. O que acontece que como isso bloqueia o apetite todo mundo sai correndo atrás para poder perder 2, 3, 5, 6 kg e vira essa febre que está hoje em dia”, diz o especialista sobre o efeito de Mounjaro, Wegovy e Ozempic no organismo.

Ele completa o discurso dizendo que enxerga esse tipo de medicação como uma ferramenta para ajudar na perda de peso, mas que esse não pode ser o centro do tratamento. Segundo o especialista, mudanças de hábitos e uma dieta saudável são mais eficientes quando se avalia os benefícios a longo prazo.

“Se você parar de tratar a doença obesidade, ela vai permanecer alta ou voltar tudo. A maioria dos estudos mostra que quando você para de ter essa ajuda no remédio, a maioria volta a ganhar peso e rápido”.

Por fim, ele deixa um recado para quem está considerando o tratamento: “Procure um médico bom, que tem a especialidade de endocrinologia ou de alguma especialidade que cuida disso e que ele vai ser bem orientado. Não é que ele não pode tomar, mas a gente vai detectar qual é o fator que fez essa pessoa engordar, ou quais esses fatores e atuar neles”.

“Não é exatamente tomar essa canetinha, porque pode ser que tem medicações muito mais efetivas para aquela indivíduo que está só com sobrepeso, e pode ser que ela nem precisa de medicação nenhuma”, finaliza.

Isabella Guasti

Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022 e também de reportagem premiada pelo Sebrae Minas em 2023. Vencedora do prêmio CDL/BH de jornalismo 2024.

Isabella Guasti

Email: [email protected]

Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022 e também de reportagem premiada pelo Sebrae Minas em 2023. Vencedora do prêmio CDL/BH de jornalismo 2024.

Mais lidas do dia

Leia mais

Acompanhe com o BHAZ