Uma paciente que procurou atendimento médico no Centro de Emergência Regional da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi diagnosticada com “possessão espiritual” nesse sábado (28). O diagnóstico foi dado pela psiquiatra chefe do hospital e o receituário, não assinado pela médica, recomenda que o paciente recite mantras para “se livrar do espírito”.
A situação foi denunciada no Twitter por Pablo Nunes, que, de acordo com a Folha de S. Paulo, é coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Ele contou que a paciente em questão é da família dele e que ela estava em surto há cinco dias.
Desde a semana passada uma pessoa da minha família está em um surto, ficou 5 dias sem dormir, fala sem parar coisas sem sentido etc.
— Pablo Nunes (@pblnns) 29 de dezembro de 2019
Ontem ela visitou a 2ª psiquiátra em 3 dias. O diagnóstico? Possessão espiritual.
Detalhe: é a psiquiátra chefe do CER da Barra da Tijuca.
Pablo ainda contou que a mulher recebeu um receituário que a orientava a repetir 108 vezes o mantra “Ohm Namah Shivaya”, mantra recorrente na ioga, que evoca Shiva, um dos principais deuses do hinduísmo: “O deboche é tanto que a psiquiatra preencheu um receituário com os mantras que meu parente deveria recitar para “se livrar do espírito'”.
O deboche é tanto que a psiquiatra preencheu um receituário com os mantras que meu parente deveria recitar para “se livrar do espírito”. Não receitou remédio e muito menos assinou o receituário de mantras.
— Pablo Nunes (@pblnns) 29 de dezembro de 2019
Hospital municipal, sob gestão de @MCrivella . pic.twitter.com/bkw56tktRl
Nos posts, Pablo conta que o documento não foi assinado pela médica e não prescrevia nenhuma medicação, e ainda se dirigiu a Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro. “Eu cito o Crivella não por ele ser evangélico, mas por suas reiteradas mostras de incompetência no trato da gestão da saúde. Minha família toda é evangélica. Se a psiquiatra receitasse orações, seria tão escandaloso quanto os mantras”.
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Em nota enviada à Folha, o CER da Barra da Tijuca informou que a profissional citada, cujo nome não foi revelado, “avaliou a paciente e a medicou para o quadro que apresentava”.
Já a Secretaria Municipal de Saúde informou que uma sindicância será aberta para apurar a conduta da psiquiatra. “No CER, os pacientes de saúde mental recebem tratamento conforme preconizado pela SMS. Nenhum profissional está autorizado a seguir outras linhas de tratamento da psiquiatria que não sejam o estabelecido no protocolo da Superintendência de Saúde Mental da SMS”, informou o comunicado.
Pablo Nunes informou à Folha que não gostaria de falar mais sobre o assunto. É que a família quer preservar a paciente em tratamento psiquiátrico, que já está sendo atendida em outro centro médico.