Pedreiro aprovado em universidade tem matrícula barrada: ‘Meu sonho não morre aqui’

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Adenilton Nicolau Musgo, pedreiro de 47 anos que foi aprovado em filosofia na UFG, teve a matrícula barrada nessa quinta-feira (Reprodução/@linharte.construcao/Instagram)

Adenilton Nicolau Musgo, pedreiro de 47 anos que foi aprovado em filosofia na UFG (Universidade Federal de Goiás), teve a matrícula barrada nessa quinta-feira (4). Em vídeo publicado nas redes sociais, ele conta não ter cumprido um dos requisitos exigidos pela política de cotas da faculdade.

“Nós fizemos a inscrição da faculdade, a UFG, minha filha usou o sistema de cota racial usando a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Eu fui aprovado, só que no sistema de cotas você tem que vir de um ensino médio público”, começa ele.

O problema é que Adenilton concluiu o ensino médio pela EJA (Educação de jovens e adultos) em uma instituição de ensino privada. Ao apresentar o diploma na UFG para a matrícula, ele foi informado de que não poderia ocupar a vaga por esse motivo.

“Comecei o EJA em uma [escola] pública, mas passei a fazer na escola particular para que fosse mais rápido. Terminei pela escola particular e quando fui apresentar o meu diploma para fazer a matricula, foi barrado por isso”, explica.

Apesar da tristeza e decepção, o pedreiro não pretende deixar o sonho do curso superior de lado. Ainda no vídeo, ele agradece ao apoio dos internautas e disse que vai começar, ainda nessa semana, a estudar em uma faculdade privada. “Meu sonho não morre aqui, não vou desistir”, declarou.

Emoção antes da frustração

O BHAZ conversou com a filha de Adenilton, Sara Linhares Musgo, responsável por fazer a inscrição do pai na universidade. O resultado saiu nessa terça-feira (2) e o pedreiro se emocionou ao saber que estudaria na federal.

“Ele veio com essa história, que se fosse mais novo, faria faculdade. Explicamos que as pessoas mais velhas também podem, que não tem idade. Então ele se empolgou com a ideia e fomos pensar nos cursos. Ele fazia teologia na igreja. Falamos em cursar história, ciência sociais e filosofia. Entre essas opções, ele escolheu filosofia, já que sempre gostou de argumentar, conversar, convencer as pessoas”, explica.

Adenilson já havia feito o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2014. Com isso, Sara o inscreveu num processo seletivo complementar na UFG. “Meu pai nem sabia a nota que tinha tirado no Enem, se tinha ido bem ou mal. Ele não entende muito de tecnologia e, na época, eu era menor e não soube ajudar também”, disse.

Em nota enviada ao BHAZ, a UFG informou que “o candidato Adenilton Nicolau Musgo não atendeu aos requisitos mínimos para o ingresso”, por ter se inscrito na cota de escola pública com renda familiar bruta superior a 1,5 (um e meio) salário-mínimo per capita e se autodeclarar “Preto, Pardo ou Indígena”.

“De acordo com o CGA, quem se inscreve como cotista deve atender o critério de ter cursado o ensino médio todo em escola pública e o candidato em questão estudou em escola privada. O candidato foi comunicado do motivo do indeferimento da matrícula, que consta no parecer impresso recebido por ele”, disse a universidade.

Nota da UFG na íntegra

O Centro de Gestão Acadêmica (CGA) da Pró-reitoria de Graduação da Universidade Federal de Goiás (Prograd/UFG) informa que o candidato Adenilton Nicolau Musgo não atendeu aos requisitos mínimos para o ingresso. O candidato se inscreveu como RS PPI, candidato(a) de escola pública com renda familiar bruta superior a 1,5 (um e meio) salário-mínimo per capita que se autodeclarar Preto, Pardo ou Indígena. De acordo com o CGA, quem se inscreve como cotista deve atender o critério de ter cursado o ensino médio todo em escola pública e o candidato em questão estudou em escola privada. O candidato foi comunicado do motivo do indeferimento da matrícula, que consta no parecer impresso recebido por ele.

Edição: Roberth Costa
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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