Polícia de Minas indicia homem por racismo contra jornalista Manoel Soares: ‘Preto de máscara’

Manoel Soares
Apresentador da TV Globo sofreu racismo em transmissão ao vivo em 2020 (Reprodução/@manoelsoares/Instagram + Reprodução/Veja SP)

A Polícia Civil de Minas Gerais indiciou um homem de 48 anos por racismo em um post sobre o apresentador Manoel Soares, nessa quinta-feira (3). Em maio de 2020, quando o repórter da Rede Globo trabalhava em uma transmissão ao vivo, o cidadão disparou nos comentários: “Esse preto de máscara kkkk Assalto?”. Manoel registrou a ocorrência na polícia dias depois do crime.

Após alguns levantamentos, a denúncia apontou que o autor do comentário estava em Belo Horizonte. Dessa maneira, a Polícia instaurou um inquérito na capital mineira e intimou o suspeito para uma oitiva. Ele compareceu à Delegacia Especializada de Investigação a Crimes de Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em 19 de janeiro deste ano. Na ocasião, confirmou ter feito as postagens e as descreveu como “uma brincadeira infeliz e de extremo mal gosto”.

Isabella França, delegada que lidera as investigações, entendeu que o crime cometido está previsto no artigo 20 da lei 7716: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Além de multa, a previsão da pena é de dois a cinco anos de reclusão, levando em conta a exposição nas redes sociais.

‘Não me define’, diz Manoel

Durante participação no “É de Casa”, da Rede Globo, o jornalista Manoel Soares apareceu de máscara em virtude da pandemia da Covid-19. Ao contrário dos outros profissionais, que também usavam o método de proteção, ele foi alvo de um comentário racista: “Esse preto de máscara kkk assalto?”, escreveu uma pessoa.

“Já passei N vezes por esse tipo de situação. É uma situação desconfortável, obviamente. Eu confesso que fico pensando o que passa na cabeça da pessoa que faz uma coisa dessa. Porque eu não entendi, né. Assaltante por quê? Quais são as características que me apresentam como assaltante, só pelo fato de estar usando uma máscara? Do que a pessoa está falando? Não entendi muito bem”, disse à TV Globo após a repercussão do crime.

‘Tive que explicar pros meus filhos’

Manoel explicou que o comentário chegou até seus filhos, que se mostraram chateados com a agressão. “Acho que o dano maior, pra mim ou qualquer pessoa que vive isso, acaba sendo em casa. Nesse dia, como isso foi em uma rede social aberta e repercutiu muito, eu tive que explicar pros meus filhos, que quando eu cheguei em casa, os mais velhos estavam chateados, os que compreendiam, até meio revoltados”, continuou o apresentador do Encontro.

“Você tem que conversar com eles, porque uma coisa é importante: seja isso comigo, que sou uma pessoa relativamente pública, por conta do trabalho que a gente faz aqui no ‘É de Casa’, no ‘Fantástico’, no ‘Encontro’, mas isso infelizmente acontece com motorista de aplicativo, motoboy, gari, isso acontece com outras pessoas.”

O jornalista finalizou dizendo que as vítimas não se podem deixar abalar em face da violência preconceituosa. “Em hipótese alguma isso pode tirar o brilho do nosso trabalho. Não pode, nunca vai tirar. Isso não me define, não é a atitude do preconceituoso que me define, o que me define são as minhas atitudes. Eu não preciso disso. Porém, por mais que a gente seja altruísta, temos que ser pessoas equilibradas. A gente não é otário, né gente, então precisamos acima de tudo saber que medidas podem ser tomadas”, concluiu.

Edição: Roberth Costa
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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