A crise econômica iniciada pela pandemia da Covid-19 no mundo já traz reflexos no cotidiano das pessoas. A desempregada Nathália Pereira dos Santos, de 23 anos, por exemplo, não tem mais como arcar com o aluguel. Grávida de quase nove meses, ela depende do auxílio emergencial anunciado pelo governo.
Apesar de ter sido aprovada pelo aplicativo da Caixa Econômica Federal e ter o cadastro no Bolsa Família, ela foi informada de que o pagamento seria feito pelo Banco do Brasil. No entanto, Nathália, assim como muitas pessoas que entraram em contato com o BHAZ, não têm conta na citada instituição financeira.
“Eu moro com um filho de três anos. Pago R$ 350 de aluguel, R$ 63 de luz, R$ 84 de água e preciso fazer compra. Meu filho quer comer”, contou a jovem de 23 anos. É importante ressaltar que o valor da cesta básica, calculado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), para Belo Horizonte, é de R$ 459,10. Veja os valores aqui.
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A jovem revela que receberia R$ 1,2 mil na última quinta-feira (9), já que ela tem o cadastro único. No entanto, o dinheiro não “caiu”. Depois, o aplicativo informou que o benefício havia sido aprovado e que seria pago nessa segunda-feira (13), o que também não ocorreu. “Digitei meu CPF no aplicativo do Banco do Brasil e não havia nada em conta. E agora à tarde, no aplicativo da Caixa, meu procedimento voltou para a análise”, explica consternada.
Município pequeno e sem negócios
A desempregada Débora Cristina Evangelista, que também tem 23 anos, mora em Fortuna de Minas, na região Central do Estado. A cidade tem pouco menos de 3 mil habitantes e a venda de açaí, que sustentava a casa, já não dá lucro. “A cidade está parada, está ruim para todos. Todo mundo está em casa e eu não vendo mais”, conta.
Ela também não conseguiu receber o auxílio emergencial do governo. A comerciante revela que tem o cadastro único e, mesmo assim, fez o pedido no aplicativo da Caixa Econômica Federal. “Informaram que estava aprovado e que o depósito seria feito no Banco do Brasil”, afirma. O problema é que, assim como Nathália, ela também não tem conta neste banco.
“O aluguel de R$ 400 já está atrasado desde o início do mês e conversei com a dona para ‘segurar as pontas’ até eu ter o dinheiro”, desabafa. Ela mora com uma cunhada, que também está desempregada, e com duas crianças.
Repercussão na internet
A revolta da população que não conseguiu ainda ter acesso ao auxílio emergencial é tema de discussão no Twitter e em outras plataformas. “Eu não aguento mais. Já faz uma semana”, reclama uma usuária.
“Ninguém sabe de nada ao certo”, considera outro. Uma internauta revela que o auxílio foi aprovado, no entanto, não apareceu na conta. “Quando ligo diz que tenho R$ 1,14 na conta”, lamenta.
Veja outras manifestações
Emergencial?
— Kallil Oliveira (@kallilolv) April 14, 2020
Governo Bolsonaro muda data e diz que auxílio de 600 reais só poderá ser retirado A PARTIR de 27 de abril#BolsonaroGenocida
EU NÃO AGUENTO MAIS, JÁ FAZ UMA SEMANA, SETE DIAS#AuxilioEmergencial pic.twitter.com/futVzBkPLA
— Vitórinha (@vivsbarbosa) April 14, 2020
Libera a nada! Mais de um mês que estão apenas divulgando o tal auxílio EMERGÊNCIAL.
— Gustavo Souza (@gugasouzabarros) April 14, 2020
Até agora nada! A população super mal informada, ninguém sabe de nada ao certo.
Os apps que foram indicados, todos com problemas técnicos.
O governo está deixando quem tem menos pra trás!
A quem que estão pagando pois desde de terça feira que fiz meu cadastro no aplicativo do auxílio emergencial, e até agora ainda só mostra em análise. Vocês procurem ver direito os fatos aí depois divulga. Ninguém informa nada correto pra gente. Em quanto isso o que vamos fazer??
— Dyego Diniz (@DinizDyego) April 14, 2020
Meu auxílio emergencial foi aprovado, mas quando ligo diz q tenho 1,14 na conta kkkkkk isso q é triste
— Fabiane (@fabianer27) April 14, 2020
O que diz a Caixa?
A reportagem do BHAZ encaminhou dúvidas com relação ao recebimento do auxílio para a Caixa. A instituição informou que as pessoas poderão receber por meio do Banco do Brasil e da própria Caixa. Quem não tiver conta em nenhum deles, poderá usar a chamada poupança digital.
Ainda de acordo com a Caixa, a respeito do recebimento do auxílio, os pagamentos ocorrerão segundo um calendário estabelecido. A instituição explica que pode ser, também, que “quem não recebeu não se enquadre nos requisitos” e que os casos serão analisados pontualmente.
O benefício será para as seguintes pessoas:
- Que estão inscritas no CadÚnico até o último dia dia 20 de março;
- Que são microempreendedores individuais;
- Que são contribuintes individuais ou facultativos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS);
- Que estão na informalidade, sem inscrição em programas sociais nem contribuir para o INSS;
- Que são inscritos no Bolsa Família;
- Atenção: O auxílio não será pago a quem recebe aposentadorias, pensões e demais benefícios previdenciários, seguro-desemprego, benefícios assistenciais como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou outro programa federal de transferência de renda que não seja o Bolsa Família.
Quais os requisitos?
- Ter mais de 18 anos de idade e Cadastro de Pessoa Física (CPF) ativo;
- Ter renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa (R$ 522,50);
- Ter renda mensal até 3 salários mínimos (R$ 3.135) na família inteira;
- Não ter recebido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 em 2018;
- A renda familiar considera os rendimentos de todos os membros que vivem na mesma residência, exceto os pagamentos do Bolsa Família.
Quem precisa baixar o aplicativo e se cadastrar?
- Trabalhadores informais sem registro;
- Microempreendedores individuais;
- Contribuintes individuais ou facultativos do INSS;
- Embora os MEI e os contribuintes do INSS estejam inscritos na base de dados do governo, a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Cidadania recomendam baixar o aplicativo e para ajustar dados, como a renda familiar. O aplicativo avisará caso o CPF do trabalhador já esteja inscrito no CadÚnico;
- Beneficiários do Bolsa Família não precisam se cadastrar.
Como será feito o pagamento a mães solteiras?
- Mulheres mães e chefes de família poderão receber R$ 1,2 mil (duas cotas) por mês caso se enquadrem nos critérios anteriores.
O cadastro pode ser feito de três formas:
- Pela internet, no site auxilio.caixa.gov.br;
- Pelo aplicativo Caixa Auxílio Emergencial, disponível para celulares e tablets do sistemas Android e iOS;
- Cadastro em lotéricas e agências da Caixa para quem não tem acesso à internet. Por causa da pandemia de coronavírus, as agências da Caixa estão funcionando com horário reduzido, das 10h às 14h;
- Os aplicativos podem ser baixados de graça por quem não tenha crédito no celular, graças a um acordo entre o governo e as operadoras de telefonia;
- Governo recomenda apenas usar os canais indicados para evitar enviar dados a sites falsos e aplicativos fraudulentos;
Que informações são necessárias para fazer o cadastro?
- Nome completo, número do CPF, data de nascimento e Nome da mãe;
- Número de celular para receber um SMS com a informação se o benefício foi concedido ou negado;
- Renda individual e ramo de atividade;
- Cidade e estado onde reside;
- Número de conta corrente, para quem tem conta em banco;
- Número da identidade (RG) ou da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para quem deseja criar a conta poupança digital.
Adiamento
A Caixa adiou o início do pagamento aos trabalhadores que usaram o aplicativo Caixa Auxílio Emergencial, ou o site auxilio.caixa.gov.br, para atualizarem as informações no Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico) do governo federal. Esse grupo só começará a receber o auxílio emergencial na quinta-feira (16), na mesma data em que começa o pagamento dos beneficiários do Bolsa Família.
Na semana passada, a Caixa havia anunciado que o pagamento para quem não estava inscrito no CadÚnico, mas precisou atualizar os dados, começaria nesta segunda-feira para mães solteiras e nesta terça (14) para os demais trabalhadores. Esse contingente é composto principalmente por trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI) e contribuintes individuais ou facultativos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Segundo o banco, o adiamento Ocorreu porque a Dataprev só enviará nesta terça-feira pela manhã o lote inicial de informações dos cerca de 34 milhões de brasileiros que se cadastraram ao longo dos últimos dias. A Caixa enviou os dados à Dataprev para verificar se os beneficiários cumpriam os critérios de elegibilidade para receberem os benefícios.
Cadastro Único
Segundo a Caixa, cerca de 2,5 milhões de pessoas receberam o auxílio emergencial na quinta-feira (9) e ontem (13), num total de R$ 1,5 bilhão. Esse grupo reúne trabalhadores informais e mães solteiras que estavam com as informações em dia no CadÚnico em 20 de março e que não fazem parte do Bolsa Família, mas nem todo mundo nessa categoria teve acesso ao dinheiro. O banco divulgou um novo calendário de pagamento da primeira parcela a esse grupo:
- Terça-feira (14): crédito para 831.013 pessoas, das quais 273.178 com conta no Banco do Brasil e 557.835 trabalhadores nascidos em janeiro que serão pagos com poupança digital da Caixa a partir do meio-dia;
- Quarta-feira (15): crédito pela poupança digital para 1.635.291 pessoas nascidas em fevereiro, março e abril;
- Quinta-feira (16): crédito pela poupança digital para 2.282.321 pessoas nascidas em maio, junho, julho e agosto;
- Sexta-feira (17): crédito pela 1.958.268 poupança digital para pessoas nascidas em setembro, outubro, novembro e dezembro;
- A segunda parcela será paga entre 27 e 30 de abril, dependendo do mês de nascimento do beneficiário.